[Conto Poe] O Baile Da Morte Vermelha

Olá, Perdidos! Em tempos tão difíceis com o Covid-19 se alastrando pelo mundo e sendo fã de Edgar Allan Poe, é impossível não lembrar do conto O Baile Da Morte Vermelha (ou A Máscara da Morte Vermelha), escrito pelo autor em 1842, e que fala sobre a inevitabilidade da morte. Felizmente o Corona não é fatal como o vírus do conto, mas faz a gente pensar... 



Há muitos anos, um país foi assolado pelo horror de uma praga que dizimava a população do reino. A Morte Vermelha, como era chamada, exterminava suas vítimas em apenas 30 minutos, banhando-as em sangue. Todos a temiam e com razão. 

Apenas o Príncipe Próspero parecia não a temer. Abarrotando uma de suas abadias encasteladas com provisões e bailarinos, bufões, músicos e poetas para divertir não só a ele como também seus mil convidados nobres, enclausurou-se atrás da alta muralha espessa que rodeava a propriedade, deixando a Morte Vermelha do lado de fora, servindo-se do restante de seu povo. 

Todos, sem exceção, passavam os dias despreocupados e em total segurança, sem mencionarem o que estava além dos portões. Após seis meses, para comemorarem como os nobres desafiaram o contágio, o Príncipe decidiu dar um extraordinário baile de máscaras. 

Aos convivas foram distribuídas máscaras escolhidas pelo próprio regente que misturou uma loucura macabra com uma delirante beleza. Por entre sete cômodos decorados de forma tão bizarra, o baile corria solto e cheio de vida, enquanto do lado de fora o pesadelo não dava trégua. 

Mas, o terror já estava se deleitando ao som dos músicos e dançava de forma grotesca com os convidados, usando sua própria máscara, aquela que tanto amedrontava o Príncipe: a máscara da Morte! 

A história é contada por um narrador onisciente que conhece tudo e todos e registra de forma cronológica cada um dos acontecimentos. É ele que nos conta o mistério que envolve o baile e seu encerramento abrupto e definitivo. 

O conto possui três personagens distintos:  


  • Logo que começamos a leitura conhecemos o antagonista do conto: a Morte Vermelha. É ela a responsável pelos males que assolam o país, cujo povo está sofrendo com a trágica realidade de uma contaminação rápida e mortal. 
  • É claro que o protagonista é o Príncipe Próspero, personagem egoísta e egocêntrico que banca o valentão, mas que se esconde em seu castelo enquanto seu povo morre, apavorado com o contágio. 
  • Os coadjuvantes são os Convidados que compactuam com as sandices de Sua Alteza e que se fortalecem por estarem em grupo, sem manterem a identidade ou sua individualidade. 

Com a leitura é impossível não identificar a ironia do nome do príncipe Próspero. Afinal, que fartura e felicidade são esperadas em um reino que sucumbe ao contágio?  

Não há limites para o seu egoísmo e mesmo numa situação crítica, o príncipe sequer pensou em disponibilizar algum tipo de ajuda para salvar seu povo. Sua única preocupação era ficar recluso, longe da praga, protegido e em companhia de outros iguais a ele para evitar a solidão. Afinal, eram ricos e belos e nada os atingiriam. Não há nenhuma empatia por parte do soberano nem de seus convidados pelo sofrimento alheio. 

Uma alta muralha espessa a circundava com portões de ferro. Os cortesãos, após terem entrado, trouxeram consigo fornalhas, martelos maciços e soldaram os cadeados. Decidiram não deixar meios de entrada ou saída para impedir súbitos impulsos de desespero ou insensatez nos que lá dentro se encontravam.

Outra questão interessante é o fato de o castelo possuir sete cômodos com decorações cheias de cores: azul, roxo, verde, laranja, branco e violeta. Além do sétimo aposento que não segue o estilo dos demais, decorados com uma única cor. Este possui janelas com vidros escarlates de um vermelho intenso como sangue e suas tapeçarias e carpete de veludo negro. 

A quantidade de aposentos é mística. Em muitas religiões o número sete é considerado enigmático, um número cabalístico. Ele representa a perfeição e simboliza o fim de um ciclo e o início de outro



Já as cores dos quartos são uma questão à parte. Cada cor possui um significado, somada as sensações que podem despertar, principalmente quando usada em excesso: 

azul – é a cor da realeza; 
roxo – inspira melancolia; 
verde – é a cor do dinheiro; 
laranja – provoca ansiedade; 
branco – é o vazio; 
violeta – é a cor da nobreza; 
preto – lembra a morte. 

Há outra compreensão que relaciona as cores a cada etapa da vida, começando na extremidade leste, onde o sol nasce. Azul seria a pré-infância; Roxo, infância; Verde, juventude; Laranja, adolescência; Branco, maturidade e Preto, a morte, na ala oeste. Talvez as duas analogias sejam verdadeiras, talvez não. Mas são propostas genuínas e valem a pena a referência. 

Era no aposento de cor preta que estava um relógio de ébano que, durante o baile, soava a cada hora um badalar sinistro, fazendo músicos e convidados reterem o menor suspiro. Será que as pessoas suspeitavam de algo pairando no tal aposento para temerem até mesmo as batidas de um relógio? Mas, alheio a tudo, o relógio prosseguiu com seu mau agouro até a meia-noite, a Hora do Sobrenatural



Porém, ao aposento mais a oeste dos sete, nenhum dos mascarados agora se aventurava; pois a noite desvanecia; e fluía uma luz rubra pelas vidraças cor de sangue; e a escuridão das tapeçarias sombrias provocava temor; e aquele que colocava os pés no negro carpete ouvia escapar do relógio de ébano um abafado estrondo mais solene e enfático do que os que alcançavam os ouvidos daqueles que gozavam alegrias mais remotas nos outros salões. 



O conto mostra que não há obstáculos, por mais sólidos que pareçam, que não possam ser derrubados. Mesmo num castelo cheio de glamour e riqueza, com portas e janelas seladas, com uma falsa impressão de segurança, não se pode enganar aquela que sempre ganha no final, a Morte

O relógio para. O baile acaba. No fim só a Escuridão prevalece. 



Cada vez que leio Edgar Allan Poe eu me surpreendo como sua narrativa nos envolve com extrema facilidade. Não sou estudiosa do autor, mas assim como num jogo dos sete erros, encontramos pequenos detalhes aqui e ali, cheios de significados que transformam suas histórias em uma leitura aterrorizante e magnífica. 


FICHA TÉCNICA 

Título: Edgar Allan Poe Medo Clássico 1   
Título Original: Edgar Allan Poe Medo Clássico 1   
Autor: Edgar Allan Poe   
Ano: 2017 
Páginas: 384  
Editora: Darkside 
Gênero: Contos / Terror e Suspense  
Tradutor: Maria Heloísa  


AUTOR  



Edgar Poe, que mais tarde passaria a usar o nome Edgar Allan Poe, nasceu em 19 de janeiro de 1809, em Boston, Massachusetts. Poe era filho de um casal de atores que, após a morte de sua mãe, foi entregue ao rico comerciante John Allan e sua esposa Francis. Mesmo acolhendo o menino e lhe dando seu sobrenome Allan, ele nunca o adotou legalmente. 

Adolescente, estudou na Inglaterra por cinco anos e ao voltar para os Estados Unidos entrou para a Universidade de Virginia, e por ser um boêmio foi expulso após um ano. Também se matriculou na Academia Militar de West Point, mas foi expulso, o que fez que seu pai adotivo o desprezasse até o final de sua vida. 

Em 1835, Poe e Virgínia Clemm, sua prima em primeiro grau de treze anos, se casaram e, em 1847, com 24 anos, Vírginia morreu de tuberculose. Tanto a doença quanto a morte de sua esposa, tiveram grande efeito sobre o escritor que se voltou ainda mais para o álcool, declinando em solidão e tristeza

Poe escreveu poesias, contos de terror, sátiras, contos de humor, reinventou a ficção científica e criou o primeiro detetive de contos policiais modernos. Ele foi e ainda é o maior representante do romantismo americano e suas obras mais conhecidas eram de estilo gótico. Em 1845, publicou sua obra-prima, o poema O CorvoThe Raven em inglês. 

No ano 1849, dois anos após a morte de sua esposa, aos 40 anos de idade, seria a vez de Poe partir para o outro lado. Uma morte que permanece inexplicável até os dias de hoje. 

Quer saber um pouco mais leia Um Brinde À Edgar Allan Poe 



Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss  

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