[Conto Poe] O Barril De Amontillado

Olá, Perdidos! Há 211 anos nascia o escritor e poeta americano Edgar Allan Poe, criador de histórias soturnas. Poe se destacou como contista, poeta e crítico literário dos mais exigentes. Além de ter criado os contos breves, ele também instituiu na literatura o detetive da atual ficção policial que observa e analisa minuciosamente desde a vítima, os suspeitos até o local do crime com seu detetive francês monsieur C. Auguste Dupin. Poe é o cara! 




Em homenagem ao seu aniversário, decidi explorar um pouquinho um de seus contos: O Barril De Amontillado, de 1846. Vou tentar não dar spoilers. Vamos lá? 


Logo de cara, Montresor, o narrador da história, declara que quer vingança contra Fortunato por suas incontáveis injúrias. Ao tomar sua decisão, aguarda o momento ideal. Momento este que acontece quando, num passeio durante o Carnaval italiano, ele encontra Fortunato vestido de Arlequim, usando um chapéu de guizos e bêbado. 

Montresor lança a isca e lhe diz que tem um barril de vinho Amontillado, mas que está desconfiado que seja falso. Para apimentar mais sua curiosidade, Montresor diz que vai chamar Luchesi, um especialista em vinhos rival de Fortunato que imediatamente decide ajudar o amigo. 

Então o narrador leva seu desafeto até as catacumbas de sua casa para que ele dê seu parecer sobre o vinho. E pôr em ação seu plano de vingança. 


Ao começarmos a leitura conhecemos o caráter determinado do narrador e protagonista em querer a mais pura e simples vingança. “Suportei o melhor que pude as incontáveis injúrias de Fortunato, mas quando ele se pôs a me insultar, jurei vingança”. 

O ponto de vista da narrativa é totalmente parcial, justamente por ser realizada pelo narrador/personagem. Não conhecemos nada sobre Fortunato, nem as ofensas que ele proferiu ao seu amigo. Tudo que sabemos, sabemos pelos olhos de Montresor. Em um determinado momento fica claro a mágoa de Montresor por não fazer parte da maçonaria como seu “amigo” e o que isso implica em termos de gozação e menosprezo. Mas... Podemos apenas supor. 

A vingança é o tema principal da história, mas a confiança também é. Uma confiança dissimulada por parte de Montresor e que Fortunato acredita ser verdadeira. Afinal, por mais desavenças que os dois tivessem jamais pensou que fosse ser alvo de uma terrível, premeditada e obscena vingança alimentada por tanto tempo. 

Não havia criado algum em casa; [...] dera ordens expressas para não saírem de casa. As ordens foram suficientes, como eu bem sabia, para garantir que todos desaparecessem de imediato, assim que eu virasse as costas. 

À princípio achamos que o encontro deles durante os festejos de Carnaval foi meramente casual e que Montresor aproveitou a ocasião para se vingar. Contudo, mais adiante na história compreendemos que antes deste “encontro casual”, ele fez todos os preparativos para executar sua vingança sem testemunhas. Montresor tinha saído à caça de seu ex-amigo. 




Montresor arma a arapuca e usa todas as suas estratégias de sedução e provocação para levar Fortunato a não só querer ajudar, mas considerar isso como um dever para com o amigo que a todo instante demonstra preocupação com sua saúde debilitada e lhe diz ser um “homem rico, respeitado, admirado, amado” e que “fará falta” se algo lhe acontecer. 

– Meu amigo, de modo algum. Não posso me aproveitar de sua generosidade. Vejo que tem um compromisso. Luchesi... 
– Não tenho compromisso algum, vamos. 

Sua vingança é fria e foi planejada com esmero, antecedência e cuidado. Ele se aproveita da fraqueza de Fortunato em ser um connoisseur de vinhos e em sua rixa com outro expert, chamado Luchesi. E usa o barril de Amontillado, um tipo de vinho da região de Montilla, na Andaluzia, Espanha, como um engodo sedutor para levar o “amigo” para as profundas e gélidas catacumbas de seu lar. Sem sentir remorso ou medo, apenas sendo perverso no ato que planeja cometer. 

Ao longo do caminho pelas catacumbas rumo ao suposto barril de Amontillado, Montresor dá algumas dicas do que irá acontecer. Por exemplo, ele explica o lema que está no brasão de sua família que diz em latim “Nemo me impune lacessit”, ou seja, “Ninguém me insulta impunemente”, demonstrando que a honra da família e suas tradições estão em jogo. Pobre Fortunato desafortunado!  

Neste conto, Poe trabalha com jogos de inversões, como imagens em espelhos. No início temos Fortunato, cujo significado é afortunado, fantasiado, alegre, brincando o Carnaval nas ruas, a céu aberto. Enquanto no final temos a inversão irônica de seu nome (desafortunado), apavorado nas sombrias catacumbas. 

Trata-se de um conto curto (na minha versão são 8 páginas apenas) que, desde essas primeiras palavras, cria tensão que se mantém durante toda a história que se desenvolve de modo muito rápido. A dinâmica é tão intensa que a cada surpresa queremos mais até chegar ao clímax. Sentimos a opressão das catacumbas da casa de Montresor e sua umidade e salitre são percebidos até mesmo através da imaginação, tão imersivos que ficamos no texto de Poe. Ficamos surpresos, horrorizados e perplexos quando chegamos ao final do conto. 

Não quero entrar em detalhes para que você possa apreciar na íntegra a genialidade deste conto que apesar de curto é perfeito. Não há terror sobrenatural, há apenas o velho e bom ser humano sendo... ser humano! Com seus atos sórdidos. Um conto curto, simples e cruel. 


FICHA TÉCNICA 

Título: Edgar Allan Poe Medo Clássico 1   
Título Original: Edgar Allan Poe Medo Clássico 1   
Autor: Edgar Allan Poe   
Ano: 2017 
Páginas: 384  
Editora: Darkside 
Gênero: Contos / Terror e Suspense  
Tradutor: Maria Heloísa  


AUTOR 

Edgar Poe, que mais tarde passaria a usar o nome Edgar Allan Poe, nasceu em 19 de janeiro de 1809, em Boston, Massachusetts. Poe era filho de um casal de atores que, após a morte de sua mãe, foi entregue ao rico comerciante John Allan e sua esposa Francis. Mesmo acolhendo o menino e lhe dando seu sobrenome Allan, ele nunca o adotou legalmente. 

Adolescente, estudou na Inglaterra por cinco anos e ao voltar para os Estados Unidos entrou para a Universidade de Virginia, e por ser um boêmio foi expulso após um ano. Também se matriculou na Academia Militar de West Point, mas foi expulso, o que fez que seu pai adotivo o desprezasse até o final de sua vida. 

Em 1835, Poe e Virgínia Clemm, sua prima em primeiro grau de treze anos, se casaram e, em 1847, com 24 anos, Vírginia morreu de tuberculose. Tanto a doença quanto a morte de sua esposa, tiveram grande efeito sobre o escritor que se voltou ainda mais para o álcool, declinando em solidão e tristeza

Poe escreveu poesias, contos de terror, sátiras, contos de humor, reinventou a ficção científica e criou o primeiro detetive de contos policiais modernos. Ele foi e ainda é o maior representante do romantismo americano e suas obras mais conhecidas eram de estilo gótico. Em 1845, publicou sua obra-prima, o poema O CorvoThe Raven em inglês. 

No ano 1849, dois anos após a morte de sua esposa, aos 40 anos de idade, seria a vez de Poe partir para o outro lado. Uma morte que permanece inexplicável até os dias de hoje. 

Quer saber um pouco mais leia Um Brinde À Edgar Allan Poe 




Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss 

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