“O Colecionador” E Seu Acervo

Olá, Perdidos! O que uma pessoa seria capaz de fazer por amor? O que uma pessoa seria capaz de fazer para ser amado por seu objeto de desejo? Vamos ser sinceros, no fundo todos queremos amar e ser amados, nas mais variadas formas, pelo menos em algum momento de nossas vidas é o que desejamos. Mas, queremos o amor que liberta e nos dá asas para voar como uma bela borboleta. Em O Colecionador, de John Fowles, essa bela borboleta é capturada e sua beleza conservada num quadro para sempre. 











Se ele realmente me amasse, não poderia ter me mandado embora. Se ele realmente me amasse, me teria mandado embora.



Frederick Clegg é um homem solitário e de origem humilde que trabalha como funcionário público e seu passatempo é colecionar borboletas. Outro passatempo seu é perseguir Miranda Grey, uma bela jovem estudante de artes plásticas, o grande amor de sua vida. Mais do que tudo, ele deseja desesperadamente fazer com que ela veja o quanto seus sentimentos são nobres e perceba que nasceram um para o outro e, assim, se apaixone perdidamente por ele. Por isso ele a captura como se fosse uma de suas borboletas. 

Duas vidas. Duas histórias. Um único Fim. 

Será que Clegg vai conseguir fazer Miranda se apaixonar por ele? Miranda vai conseguir escapar de seu cativeiro ou vai se submeter às vontades de seu sequestrador? 



Eu achei o livro sensacional. Fowles mostra não só as ações e pensamentos de Clegg, Ferdinand ou como sua amada o batizou, Caliban, escravo selvagem e deformado que tentou estuprar Miranda na peça “A Tempestade”, de William Shakespeare, mas também mostra o lado de Miranda, a vítima. Seu desespero e seus pensamentos. Sequestrador e vítima; cara e coroa.  

O autor criou estilos diferentes para cada um deles em sua narrativa. Um estilo para Caliban e outro para Miranda que, através do discurso em primeira pessoa, feito por cada um como em um diário, nos faz perceber como se expressam, seus pontos de vista arbitrários e suas personalidades. Ele, medíocre, mesquinho e pedante; ela, jovem, cheia de vida e corajosa. 

Ele me obriga a mudar, ele me obriga a dançar a sua volta, a desnorteá-lo, a ofuscá-lo, a confundi-lo. Ele é tão lento, tão sem imaginação, tão sem vida. Sem graça como zinco. 

Como colecionador de borboletas, Caliban foi capaz de uma grande façanha para conseguir o precioso exemplar e ir além em sua coleção. Afinal, um colecionador não mede esforços para alcançar o tesouro tão almejado. E sua ousadia teve como recompensa um item mais do que especial para incluir em meio às diversas espécimes de seu acervo: Miranda. 

Num minuto, ela batia asas para voar e no outro tinha um alfinete prendendo-a e impedindo-a de seguir seu voo. Uma borboleta humana para ele contemplar sua beleza. Porque seu “amor’ era assim, um amor de contemplação, platônico e nem um pouco erótico. Tanto que as investidas de Miranda nesse sentido não obtiveram bons resultados, muito pelo contrário. Para ele, ela era um espécime raro para ser apreciado e apenas isso. Muito triste. 

Sou uma entre uma fileira de espécimes. É quando tento bater as asas que ele me odeia. Meu papel é estar morta, presa por um alfinete, sempre a mesma, sempre linda. 





Miranda, que tinha tentado de tudo para alcançar Clegg, percebeu que existia algo nele prestes a despertar. Algo que o próprio Fowles insinua. 

Infelizmente a parte referente a Miranda é bem arrastada o que faz parecer que os problemáticos são sempre mais interessantes. Enfim... Acredito que isso tenha sido uma artimanha do autor para tirar nossa atenção de toda essa situação perturbadora e cairmos na armadilha ao ofuscarmos quem é o verdadeiro Caliban para, assim, sentirmos por ele, justamente o que ele não consegue sentir por Miranda: empatia. Até mesmo ela cai nessa arapuca em certos momentos e sente pena e compaixão por Caliban, numa espécie de quase-Síndrome de Estocolmo, algo que só foi denominado dez anos mais tarde. 

Sinto pena do Caliban esta noite. [...] Ficará sozinho com toda sua neurose sexual, sua neurose classista, sua inutilidade e seu vazio. Ele pediu por isso. Não sinto pena de verdade. Mas não estou completamente indiferente. 

Uma coisa que fica clara é que o relacionamento de Miranda com GP, um homem mais velho por quem sente uma paixão obsessiva que nos tira do sério durante a leitura, de certa maneira é igual ao de Caliban com ela. Tirando a loucura e o sequestro, obviamente. No fim, os dois não são tão diferentes com relação ao relacionamento confuso e esse amor estranho e doentio. Até mesmo Miranda percebeu isso; assim como nos damos conta de que “de médico e de louco todo mundo tem um pouco”. 

Quanto mais eu lia, pensava “claro, você ama a garota e não é louco... Imagina!” Ele está sempre se justificando e sentindo pena de si mesmo. E o impressionante é que Clegg/Caliban acha que suas ações são corretas e que ele, em dado momento, é a verdadeira vítima naquele lugar. Para ele não houve um sequestro e Miranda é apenas sua convidada. 

‘que fors aus ne le sot riens nee.’ – francês medieval ‘e ninguém sabia a não ser eles’. 

O livro não é apenas sobre um maníaco e sua vítima. É muito mais que isso.  Ele expõe a diferença de classes da Inglaterra daquela época, o feminismo, a arte, a liberdade, a solidão e o que chamamos de amor. É claro que temos que lembrar que eram outros tempos, mas nem tudo ficou lá atrás, muita coisa não mudou. E através da história de Fowles empilhamos dúvidas e reflexões que foram transferidas para nossa própria época. Lançado originalmente em 1963, O Colecionador, seu romance de estreia, continua mais do que nunca, infelizmente, uma obra atual como se tivesse acabado de ser escrita. 

FICHA TÉCNICA 

Título: O Colecionador    
Título Original: The Collector    
Autor: John Fowles   
Ano: 2018 
Páginas: 352  
Editora: Darkside 
Gênero: Thriller Psicológico  
Tradutor: Antônio Tibau   

AUTOR  


John Robert Fowles ou John Fowles nasceu em Leighton-on-Sea, Essex, Inglaterra, em 1926, e foi onde viveu até o início da Segunda Guerra. 

Estudou línguas modernas na Universidade de Oxford e, depois de formado, deu aulas de inglês no Reino Unido, na França e na Grécia. 

Como romancista, publicou seu primeiro romance O Colecionador (1963) — que lhe deu reconhecimento internacional — e The Magus (1966). A Mulher do Tenente Francês (1969), sua obra mais conhecida, recebeu o Silver Pen Award e o W. H. Smith Literary Award, e foi adaptada para o cinema em 1981, com roteiro de Harold Pinter e estrelada por Meryl Streep e Jeremy Irons. 

Além de romances, escreveu livros de contos, poesia, ensaios e adaptações para o teatro. Suas obras são consideradas pela crítica como literatura moderna e pós-moderna. Fowles foi nomeado pelo jornal The Times do Reino Unido como um dos 50 maiores escritores britânicos desde 1945. 

John Fowles morreu de insuficiência cardíaca em 5 de novembro de 2005, aos 79 anos, no Hospital Axminster, a 8 km de Lyme Regis, Dorset, Inglaterra, onde viveu grande parte de sua vida. 

De 1963 até sua morte, em 2005, foi escritor em tempo integral. 




Doe livros, presenteie livros ou, apenas, indique livros. 
Incentive a leitura! 


Até a próxima! 

Beijos mil! :-) 

Criss 



2 comentários :

  1. Caramba, que resenha fascinante! Esse livro está na minha lista há algum tempo e agora já estou colocando ele no carrinho kkk amei demais, fiquei bem curiosa, mal posso esperar pra começar a ler. Obrigada :)

    https://www.submersaempalavras.com/

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    Respostas
    1. Oi Monyque. Obrigada. É um livro bem interessante, acredito que um dos primeiros a abordar os pontos de vista do sequestrador e da vítima. :-)

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