“O Cair Da Noite” Na Aldeia Global [o conto]

Perdidas e Perdidos. O Cair da Noite (Nightfall and Other Stories), de Isaac Asimov, é um livro de contos que nunca foram publicados em outras coletâneas. Curiosamente, o título que dá nome à coleção é, também, o conto que abre o livro. Antes de cada conto há uma introdução muito interessante feita pelo próprio autor que elucida certas curiosidades sobre cada história e a época em que cada uma foi escrita. 




Publicado pela primeira vez em 1941, quando tinha 21 anos, O Cair da Noite (Nightfall) é um dos contos mais famosos do autor, sendo apontado como o melhor conto de ficção científica de todos os tempos pelo Science Fiction Writers of America (Associação dos Escritores de Ficção Científica da América) ganhando o prêmio em 1964 e, segundo o próprio Asimov “foi um divisor de águas em minha carreira profissional”. 

Leia também: “O Cair Da Noite” E Outras Histórias Extraordinárias [coletânea de contos] 

Há uma versão romance oriundo do conto com o mesmo nome (O Cair da Noite) elaborado por Isaac Asimov em parceria com o escritor Robert Silverberg, de 1990. Mas é sobre o conto original que vou comentar. 

Um dos maiores medos do Homem é o medo do escuro. Esse medo está entranhado em nossa mente, corre em nossas veias e está gravado em nosso DNA. De geração em geração, o medo do escuro está lá, não importando o grau de evolução que tenhamos, ele se manifesta de forma inconsciente. Primitivo. DNA. Mas, apesar do que possa parecer é uma vantagem evolutiva. Sim! Com a ansiedade, ficamos em estado de alerta e preparados para receber algo que não é esperado, limitando nosso comportamento imprudente. 

Mas... E se todo o povo de um planeta distante e desconhecido nunca tivesse visto ou presenciado a escuridão total? E se um evento natural como um simples eclipse solar fosse considerado o apocalipse? E se esse eclipse ocorresse a cada 2049 anos e fosse apontado como uma Profecia? E se ninguém nunca tivesse visto os milhões de estrelas que pipocam pelo espaço? 

... – O eclipse que resulta, tendo a lua sete vezes o diâmetro aparente de Beta, cobrirá inteiramente Lagash durante cerca de metade do dia, de sorte que nenhum ponto do planeta escapará aos seus efeitos. Esse eclipse se verifica apenas a cada dois mil e quarenta e nove anos.  



Em O Cair da Noite conhecemos o planeta Lagash e nos deparamos com uma sociedade parecida com a nossa, com religião, ciência e, até profissões e temores semelhantes. Lagash é um planeta rodeado por seis sóis e sempre existe mais de um deles visíveis nos céus, desta forma seus habitantes vivem com luminosidade perpétua, sem nunca terem conhecido a noite ou a escuridão.  Para eles a escuridão deve ser temida, é inexplicável e totalmente sem sentido. Uma verdadeira aberração. E quando um evento em escala global como um eclipse “apaga” Beta, o único de seus sóis que está visível no momento, o medo é tanto que as pessoas, simplesmente, perdem a razão e enlouquecem. Mesmo sabendo que o fenômeno não passará de metade de um dia

A claridade é tanta em Lagash que não há necessidade de uma fonte de luz artificial. Não há velas, lampiões, lanternas ou lâmpadas. Para eles, o fogo serve apenas para aquecer e uma rudimentar tocha torna-se um dispositivo extraordinário e fascinante. E, justamente por causa dessa luminosidade ininterrupta não é possível sequer ver outras estrelas no plano celeste. Por essa razão as Estrelas também são um mito, um mistério que ao surgirem levarão todos à loucura. Em sua concepção, o Universo é minúsculo e não vai muito além de seus sóis. 

Sob o fascínio do medo, ergueu-se lentamente num dos cotovelos e olhou para o horrível negror na janela.   Através dela brilhavam as Estrelas!  

Entretanto, só restam quatro horas antes de Lagash sucumbir às Trevas e sua civilização abraçar o total esquecimento

No Observatório de Saro, os cientistas Aton-77, Sheerin-501, Beenay-25 e o jornalista incrédulo das teorias científicas Theremon-762 registram as últimas horas do planeta e seus habitantes. É no Observatório que toda a trama acontece. Através dos argumentos dos cientistas que enfatizam o conhecimento astronômico, do psicólogo que questiona o preparo dos indivíduos, até do intruso cultista Latimer-25 e suas ocorrências divinas, uma breve história sobre os últimos acontecimentos em Lagash é contada, com a perspectiva de sua civilização terminar mais um ciclo de existência

Apenas a equipe do Observatório tinha se preparado para enfrentar a desconhecida Escuridão e as estranhas Estrelas. Será? Cada minuto que passa, vemos como todos reagem e como são afetados por esses novos estímulos e pelo inexplorado. Uma vez que as novas descobertas científicas e suas implicações desafiam o conhecimento obtido. 

Aton apontou para fora. – Dos seis sóis, apenas Beta permanece no céu. Pode vê-lo?  ...  O próprio sol da Lagash, Alfa, em torno do qual ele girava, estava em posição diametralmente oposta, assim como seus dois distantes pares. A anã vermelha, Beta – companheira imediata de Alfa – estava só, terrivelmente só.    O rosto de Aton, voltado para cima, tingia-se de vermelho com a luz solar. – Exatamente em quatro horas – disse – a civilização, tal como a conhecemos, chegará ao fim. Isso acontecerá porque, como você vê, Beta é o único no céu. – Sorriu tragicamente. – Publique isso! Não haverá ninguém para ler.   

A história apresenta forças antagônicas como Ciência e Religião. A primeira mostra os fatos e prepara um grupo de pessoas que estarão salvas no Abrigo para um futuro mais promissor, deixando várias informações para a civilização que iniciará um novo ciclo, perpetuando a espécie, desta vez mais sábia. Já a segunda aceita resignadamente um destino já escrito no Livro das Revelações e incita a população amedrontada e em pânico a culpar os cientistas e tentar salvar suas almas. 

Um fato que me chamou a atenção foi a criação de um brinquedo, desses de Parque de Diversões, chamado Túnel do Mistério que simula a tão temida e aterrorizante Escuridão. Ao mesmo tempo que os habitantes de Lagash temem as trevas, também sentem fascínio e uma enorme curiosidade por ela. Talvez um modo de se prepararem para sua inevitável chegada e ver o dia se transformar em noite.  




O conto nos mostra como a histeria coletiva, o misticismo e a ignorância são capazes de aniquilar quase uma civilização inteira, principalmente quando as pessoas são direcionadas pelo medo irracional que o desconhecido pode causar. Asimov nos faz pensar em como reagimos ao novo, através de três premissas: da religião, dos fatos científicos ou simplesmente da natureza, seguindo seu curso sem transformar o desconhecido em algo desafiador. Vemos, também, como os intelectuais se comportam, mas principalmente como as grandes massas lidam com uma situação de extremo pânico. A intolerância, os princípios e a pretensa civilidade caem por terra em momentos de total desespero e tanto racionalistas quanto cultistas não estão imunes aos acontecimentos que estão por vir. Em um par de horas, Asimov nos mostra o progresso e a derrocada de uma cultura milenar através de um relato espetacular. 

Sobre A Escuridão 

escuridão é enigmática, esconde segredos e não é nada confiável e a tememos desde que o primeiro ser humano surgiu no planeta. No nosso planeta Terra! De predadores até mortos-vivos, vampiros, lobisomens, fantasmas, bruxas e criaturas demoníacas, todos se escondem nos recantos mais escuros quando a noite chega, em sua quase infinita escuridão. E em Lagash não é diferente. Entre verdades e crenças, nossa imaginação embaralha tudo e cria novas realidades, transformando-as em lendas

Mas Sheerin também estava irritado. – Se você está na escuridão, que coisa você pode desejar acima de tudo? Que coisa você busca instintivamente? Luz, diabo, luz!  
– E então?  
– Como você poderá conseguir luz?  
– Não sei – replicou Theremon.  
– Qual é o único meio de conseguir, excluindo-se o sol?  
– Como posso saber?  


Sempre tive curiosidade em ler Asimov, afinal de contas, gosto muito de ficção científica e ele é um dos maiores representantes do gênero. Então, vasculhei minha estante procurando por este livro (há anos que o tenho e nem sei quem me deu, pode isso?) e tomei vergonha na cara! Hahahahahaha! 

Para o autor, tudo começou com O Cair da Noite, um texto pequeno de 32 páginas, mas bastante perturbador e que se tornou leitura obrigatória tanto para os iniciantes em Isaac Asimov como, também, para os de ficção científica. Vamos ler mais Isaac Asimov, pois vale muito a pena! Ainda bem que comecei por ele! 



FICHA TÉCNICA

Título: O Cair Da Noite  (coletânea de contos)   
Título Original: Nightfall and Other Stories  
Autor: Isaac Asimov    
Ano: 1981 
Páginas: 376   
Editora: Hemus Editora   
Gênero: Ficção Científica (contos)     
Tradutor: Maria Judith Martins    




AUTOR 



Isaac Asimov nasceu Isaak Yudovich Ozimov, em Petrovich, na antiga União Soviética, atual Rússia, no dia 2 de janeiro de 1920. Quando tinha três anos de idade, sua família emigrou para Nova York, nos Estados Unidos. Como sua família falava com ele sempre em ídiche e inglês, Asimov nunca aprendeu russo. Em 1928, naturalizou-se norte-americano. 

Morou por quase toda a vida no Brooklyn, em Nova York, e foi lá que aos cinco anos de idade aprendeu a ler sozinho. Sua família tinha uma loja de doces onde vendiam, também, revistas pulp fiction (revistas baratas feitas com papel de polpa) de ficção científica e Asimov começou a lê-las. Aos onze anos começou a escrever suas próprias histórias e aos dezenove anos passou a vender suas histórias para revistas interessadas em publicar ficção científica, gênero do qual se tornou grande fã. 

Em 1941, aos 21 anos de idade, ele publicou seu conto O Cair da Noite (Nightfall) que foi considerado o melhor conto de ficção científica de todos os tempos e que impulsionou sua carreira de escritor. 

Esse foi o início do Bom Doutor, como era carinhosamente chamado pelos fãs. Asimov escreveu e editou mais de 500 livros, entre os quais a série Fundação e as histórias de robôs. Afinal, as famosas 3 Leis da Robótica foram criadas por ele no livro Eu, Robô. Duas de suas obras de ficção científica – O Homem Bicentenário e Eu, Robô – ficaram mundialmente famosas, principalmente após terem ido parar nos cinemas. 

Em 6 de abril de 1992, na cidade de Nova York, Asimov morreu devido a falhas cardíaca e renal, causadas por complicações provocadas pelo vírus da AIDS, doença que contraiu após uma transfusão de sangue no fim de 1983 quando fez uma cirurgia de ponte de safena. Isaac Asimov foi cremado. 




Até a próxima! 

Beijos mil! :-) 
Criss 



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