“O Cair Da Noite” E Outras Histórias Extraordinárias [coletânea de contos]

Perdidas e Perdidos. Já falei aqui sobre o conto O Cair da Noite que abre a coletânea de contos com o título de mesmo nome, de Isaac Asimov. Agora chegou a vez de falar dos outros 19 contos de Nightfall and Other Stories, ou seja, O Cair da Noite (e outras histórias). 




Cada conto possui uma introdução escrita pelo próprio Asimov, esclarecendo não só os motivos que o levaram a criar tal história, como também, as épocas em que essas histórias foram criadas. E eu achei isso muito interessante porque de certa maneira temos uma nano biografia escrita em punho pelo próprio autor. (!) 

O Cair da Noite, o livro de contos, possui 20 textos que abrangem os anos de 1950 até 1967, dando ênfase ao conto que dá nome e inicia a coletânea (O Cair da Noite) que é de 1941, afinal é um dos contos mais famosos de Asimov. Vemos uma escala evolutiva da escrita e ideias de Asimov, movidos pelos interesses de cada período, é claro.   

Os contos são: 

1- O Cair Da Noite (Nightfall), de 1941 – os habitantes do planeta Lagash não conhecem a escuridão. Eles sabem que existe a escuridão em cavernas e túneis, mas a “noite” em si não existe, pois Lagash é eternamente iluminado por seis sóis.  Mas um eclipse que ocorre a cada 2049 anos está se aproximando. O que acontecerá com eles quando finalmente a noite chegar? 

Veja a resenha completa de O Cair Da Noite.  
NOTA 5 / 5 

Se as estrelas aparecessem uma noite em mil anos, como poderiam os homens acreditar e adorar e preservar por muitas gerações a lembrança da cidade de Deus?     Emerson  

2- Manchas Verdes (Green Patches), de 1950 – uma espaçonave da Terra aterrissa no planeta chamado Planeta de Saybrook, que possui formas de vida unificadas e sem individualidade (as tais manchas verdes), para investigar o relatório da equipe anterior que inclusive deu nome ao planeta. Confirmando os fatos, a recomendação desta nova equipe é que o planeta fique em quarentena permanentemente. Só resta aos humanos terráqueos fugir de Saybrook sem serem contaminados pelas manchas verdes. A equipe conseguirá?  

OBS.: a primeira publicação do conto foi com o nome Misbegotten Missionary
NOTA 5 / 5 

– Toda a vida no Planeta de Saybrook pertence a um único organismo. De uma certa maneira, toda a vida na Terra também é assim, mas é uma dependência combativa, a dependência entre o cão e o gato. A bactéria fixa nitrogênio, e as plantas, carbono; os animais comem as plantas e uns aos outros. A decadência da bactéria atinge tudo – e o círculo se fecha. Cada um agarra o quanto pode e, a seu turno, é agarrado.   

3- A Anfitriã (Hostess), de 1951 – os seres humanos vivem em uma época em que foram confirmadas a existência de cinco raças com inteligência, incluindo os terráqueos. Embora as outras quatro raças partilhem várias semelhanças, os seres humanos se destacam por serem singulares. A história começa quando Harg Tholan, um alienígena do Planeta de Hawkin (hawkinsiano) vem à Terra investigar o que ele chama de Morte por Inibição e que está matando as pessoas de seu planeta natal. Para tal, ele se hospeda na casa do casal humano Rose e Drake Smollett. Revelações incríveis e inusitadas acontecem. 
NOTA 4 / 5 

– Porque nesse campo, mais uma vez, os terráqueos são únicos. São os únicos seres inteligentes imunes. A Morte por Inibição afeta todas as demais raças. Os seus biólogos sabem disso, Sra. Smollett? – e se dirigiu tão abruptamente a Rose que ela quase pulou em sua cadeira, para responder: 
– Não, não sabem.   




4- O Homem Em Cultura (Breeds There A Man...?), de 1951 – com o avanço das pesquisas atômicas, o gênio Dr. Ralson acredita que deve se matar. Mas, por quê? 
NOTA 4 / 5 

– Dê-me o canivete. 
– Por que, Ralson? O que deseja fazer com ele? 
– Por favor. Eu preciso... – e ele implorava –  preciso acabar com esta vida. 
– Você deseja morrer? 
– Não. Mas eu devo morrer.   

5- O Tubo Da Morte (C-Chute), de 1951 – uma espaçonave civil humana que seguia em direção à Terra é sequestrada pelos extraterrestres Kloros, inimigos de batalhas interestelares, e seus integrantes precisam agir para conseguirem a liberdade e voltar para casa. 
NOTA 5 / 5 

Eles se deslocavam a milhares de quilômetros por hora. As estrelas existiam. A astronave existia. Ele existia. Mas isso não tinha o menor significado. Para seus sentidos, havia somente silêncio e escuridão e o moroso girar das estrelas. Acompanhou com os olhos o movimento...  

6- Por Uma Boa Causa... (In A Good Cause...), de 1951 – conto sobre os mecanismos políticos entre duas raças: os humanos e os diaboli (povo alienígena). Durante a história são realizadas várias manipulações políticas ofuscando e logrando as ações idealistas. 

Como curiosidade, Asimov menciona um visor de livros, que imagino seja sua versão do Kindle atual. 
NOTA 5 / 5 

...Jeff, lembre-se sempre disto: por uma boa causa, não há fracassos; é apenas o sucesso que se retarda.   

7- E Se... (What If...), de 1952 – e se você não falasse com ela ou ele? E se você não se cassasse? E se... nos mostra como poderiam ser os vários caminhos tomados pelo casal Norman e Livvy e aonde eles os levariam. 

E se você não lesse este conto? 
NOTA 3 / 5 

– E se os peixes tivessem asas e todos eles voassem até o topo das montanhas? O que comeríamos nós às sextas-feiras?  

8- Sally (Sally), de 1953 – uma história que se passa em 2057 e é sobre automatomóveis, carros autômatos e com consciência. E a protagonista é Sally, um conversível 2045, capô verde-maçã, com um motor positrônico e muito charme. 

Terá Sally servido de inspiração para Stephen King criar sua Christine
A arma de agulhas que foi utilizada no conto A Anfitriã está presente aqui. 
Neste conto, Asimov mostra um certo receio com relação a automação, o que é raro em sua obra. 
NOTA 5 / 5 

As duas portas de Sally abriram-se e voltaram a fechar-se, suavemente. 
– O que é? – indagou Gellhorn. 
– É a maneira de Sally dar risada. 

9- Moscas (Flies), de 1953 – amigos de universidade se reencontram 20 anos após a formatura. Um deles, cientista, vive angustiado pela capacidade que tem de interpretar os pequenos tiques comportamentais e gestos inconscientes que revelam os segredos de seus amigos. Desgostoso com sua condição, sente-se irritado por ter comparecido à reunião. Outro ex-colega, químico e pesquisador de inseticidas, vive atormentado por moscas que sempre se acumulam ao seu redor. 
NOTA 2 / 5  

– Moscas – disse Casey, agitando os braços e batendo palmas. – Já viram uma coisa destas? Por que não pousam em vocês? 




10- Ninguém Aqui, Só Nós... (Nobody Here But...), de 1953 – dois amigos (um matemático e um engenheiro elétrico) da área de tecnologia, uma garota e Júnior, uma máquina que adquiriu raciocínio próprio. Uma máquina de cálculo que desenvolveu inteligência? O que Júnior irá aprontar? São os primórdios da Inteligência Artificial
NOTA 4 / 5 

– Não podemos permitir que alguém descubra. Eles construirão outros Júniors e parece que não teríamos respostas suficientes para esta espécie de projeto, afinal de contas.  

11- Um Dia Tão Belo (It’s Such A Beautiful Day), de 1954 – o ano é 2117 e o Distrito A-3 é a primeira comunidade do mundo que utiliza unicamente as Portas para se locomover, uma espécie de teletransporte. Sem dias ao ar livre e longe das intempéries, todas as viagens, todas as idas e vindas ocorrem através das Portas. E o que fazer quando a Porta enguiça? A solução é recorrer à Porta do vizinho mais próximo, é claro. Mas, não para o menino Richard Hanshaw Jr. 
NOTA 5 / 5 

– É possível, Sra. Hanshaw, é possível. Afinal de contas, quando se para para pensar de que maneira as Portas funcionam, fica-se realmente perplexo. A senhora dá um passo para dentro e por um instante os seus átomos são convertidos em campos de energia, transmitidos para outra parte do espaço e reconvertidos em matéria. E nesse instante não se está vivo.   

12- Fura-Greve (Strikebreaker), de 1957 – no planetoide Elsevere, Igor Ragusnik sente-se oprimido e isolado. Um pária considerado indigno e sujo por causa de seu trabalho que é reciclar resíduos humanos. Mas ele quer dias melhores para o seu único filho e por isso Ragusnik entra em greve. 

Asimov concebe uma crítica social sobre os trabalhadores de um mundo que desenvolveu uma sociedade de castas parecida com os Intocáveis ou Impuros, da Índia, conhecidos por Dalits, que trabalham com cadáveres e dejetos e que, portanto, não podem ter contato físico com os “puros”. 

OBS.: a primeira publicação do conto foi com o nome Male Strikebreaker
NOTA 2 / 5 

– O sistema de casta envolve uma certa inflexibilidade. 

13- Ponha O Pino A No Furo B (Insert Knob A In Hole B), de 1957 – em uma estação espacial, dois homens vivem montando e desmontando equipamentos com instruções confusas e sem sentido. E após pedir ajuda ao pessoal de terra, eles aguardam ansiosamente uma solução para o seu ‘monta e desmonta’. 

Trata-se de um texto bem curto, com apenas 350 palavras, mas muito engraçado, apesar de seu final óbvio. 
NOTA 5 / 5 

– Seguindo instruções – acrescentava Hansen – escritas por algum idiota. 

14- O Feiticeiro Moderno (The Up-To-Date Sorcerer), de 1958 – o Professor Wellington Johns realiza uma experiência no baile de veteranos do colégio batizando o ponche com sua descoberta, o princípio amatogênico, ou melhor dizendo, sua Poção do Amor. É o início de muita confusão. 

Ao meu ver é um conto moralista, mesmo para os padrões do final dos anos 50. 
NOTA 2 / 5 

– Está querendo dizer – prosseguiu Alice, com os belos olhos castanhos brilhando de prazer – que pode fazer as pessoas sentirem o maravilhoso deleite, a ternura que suplanta os céus do verdadeiro amor por meio de... de uma pílula?  

15- Até A Quarta Geração (Unto The Fourth Generation), de 1959 – Samuel Marten vai se encontrar com um cliente, mas, de repente, sente um desejo incontrolável de seguir a trilha dos nomes Lefkowitz, Lefkowicz, Levkowitz, Lewkowitz ou Levkovich por Nova York. E ele não faz ideia do que está fazendo ou o que vai encontrar. 

Uma história um tanto sobrenatural e, segundo Asimov, “a única história judaica que alguma vez me ocorreu escrever”. 
NOTA 4 / 5 

Levkovich? Não era o que o sinal no caminhão dizia. O nome era Lew-ko-witz. Por que ele pensava em Levkovich? Mesmo com o seu alemão de colégio, trocando os ‘ww’ por ‘vv’, de onde tirara aquele ‘ich’? 

16- O Que É Essa Coisa Chamada Amor? (What Is This Thing Called Love?), de 1961 – dois alienígenas não humanos do outro lado da Galáxia sequestram um homem e uma mulher da Terra. Em sua nave espacial questionam o casal de humanos para saber sobre os seus métodos de reprodução, bem diferentes dos deles. 

Trata-se de um conto muito divertido

OBS.: a primeira publicação do conto foi com o nome Playboy And The Slime God
NOTA 5 / 5 

... – Eu não gosto de me meter em assuntos delicados como este, mas a senhora tem um busto normal, eu acho. 
– Você acha? É cego ou algo assim? Certa vez concorri a Miss Brooklyn, caso você não saiba, e onde eu perdi pontos foi na linha da cintura e não nos...  




17- A Máquina Que Ganhou A Guerra (The Machine That Won The War), de 1961 – três líderes terráqueos se reúnem após a vitória na guerra contra os denebianos. Eles discutem a atitude de cada um na batalha e, principalmente, do supercomputador Multivac que teve um papel decisivo para o triunfo. Revelações surpreendentes surgem nesse encontro.  

Multivac é um computador ficcional que aparece em várias histórias de Asimov. 
NOTA 5 / 5 

– Por que estão dando vivas a Multivac? Por que Multivac é o grande herói da humanidade nesta guerra? – O rosto anguloso de Jablonsky assumiu um ar de adequado desprezo. – O que significa isto para mim? Deixem que Multivac seja a máquina que ganhou a guerra, se isso lhes agrada.  

18- Meu Filho, O Físico (My Son, The Physicist), de 1962 – Gerard Cremona trabalha para uma agência espacial e tenta estabelecer comunicação com uma expedição considerada perdida no espaço. Neste momento crucial, a mãe orgulhosa do físico vai visita-lo em seu escritório e, por incrível que pareça, resolve seus problemas. Afinal, mãe sabe tudo! 
NOTA 4 / 5 

A Sra. Cremona balançou a cabeça, vagarosamente. Alguma coisa tinha acontecido, supunha. Esperava que Gerard estivesse bem. 

19- Olhos Fazem Mais Do Que Ver (Eyes Do More Than See), de 1965 – bilhões de anos no futuro, os humanos abandonaram seus corpos e passaram a viver como entidades de energia espalhadas pelo espaço. Duas entidades amigas, Ames e Brock, discutem um novo projeto para manipular a matéria física e é a partir daí que as coisas se complicam entre eles. 
NOTA 3 / 5 

– Não me lembro como era. Ninguém se lembra – disse Brock.  

20- Segregacionista (Segregationist), de 1967 – próteses robóticas para humanos e partes orgânicas para robôs são muito comuns neste futuro. A questão levantada pelo cirurgião que vai implantar um novo coração em seu paciente é se humanos e robôs devem se tornar tão semelhantes, pois para ele homens e autômatos devem ser o que sempre foram e não se misturarem, até mesmo, se confundirem. 

O final é bem interessante. 
NOTA 4 / 5 

– Todos nós desejamos o melhor para o senhor, Senador. O cibercoração de fibra será o melhor. Tem uma vida potencial de séculos. É inteiramente não-alérgico...  


A minha avaliação de cada conto é através de Notas de 1 a 5 e inteiramente subjetiva, claro. Portanto cada um tem a sua opinião e o seu gosto e isso é que torna tudo tão interessante. E aí? Digam o que acharam dos contos, lá nos comentários. 

Depois do devido cálculo, dou para o livro 4 robozinhos
Aproveite a leitura. 
Aproveite Isaac Asimov. 


FICHA TÉCNICA

Título: O Cair Da Noite  (coletânea de contos)   
Título Original: Nightfall and Other Stories  
Autor: Isaac Asimov    
Ano: 1981 
Páginas: 376   
Editora: Hemus Editora   
Gênero: Ficção Científica (contos)     
Tradutor: Maria Judith Martins    



AUTOR 



Isaac Asimov nasceu Isaak Yudovich Ozimov, em Petrovich, na antiga União Soviética, atual Rússia, no dia 2 de janeiro de 1920. Quando tinha três anos de idade, sua família emigrou para Nova York, nos Estados Unidos. Como sua família falava com ele sempre em ídiche e inglês, Asimov nunca aprendeu russo. Em 1928, naturalizou-se norte-americano. 

Morou por quase toda a vida no Brooklyn, em Nova York, e foi lá que aos cinco anos de idade aprendeu a ler sozinho. Sua família tinha uma loja de doces onde vendiam, também, revistas pulp fiction (revistas baratas feitas com papel de polpa) de ficção científica e Asimov começou a lê-las. Aos onze anos começou a escrever suas próprias histórias e aos dezenove anos passou a vender suas histórias para revistas interessadas em publicar ficção científica, gênero do qual se tornou grande fã. 

Em 1941, aos 21 anos de idade, ele publicou seu conto O Cair da Noite (Nightfall) que foi considerado o melhor conto de ficção científica de todos os tempos e que impulsionou sua carreira de escritor. 

Esse foi o início do Bom Doutor, como era carinhosamente chamado pelos fãs. Asimov escreveu e editou mais de 500 livros, entre os quais a série Fundação e as histórias de robôs. Afinal, as famosas 3 Leis da Robótica foram criadas por ele no livro Eu, Robô. Duas de suas obras de ficção científica – O Homem Bicentenário e Eu, Robô – ficaram mundialmente famosas, principalmente após terem ido parar nos cinemas. 

Em 6 de abril de 1992, na cidade de Nova York, Asimov morreu devido a falhas cardíaca e renal, causadas por complicações provocadas pelo vírus da AIDS, doença que contraiu após uma transfusão de sangue no fim de 1983 quando fez uma cirurgia de ponte de safena. Isaac Asimov foi cremado. 



Até a próxima. 

Beijos mil! 
Criss 


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