Olá, Perdidos! Já esteve em um labirinto? Pois é. Em “O Massacre da Família Hope”, do autor americano Riley Sager me senti em um labirinto de segredos, mentiras e reviravoltas que me fizeram questionar tudo e todos. Enquanto lia, elaborava várias teorias, mas não cheguei nem perto do que o autor entregou.
Hope’s End – ‘o fim da esperança’, ‘o fim dos Hope’ – me parece um nome surpreendentemente apocalíptico para uma casa. Sobretudo se levarmos em consideração o que aconteceu lá.
O livro foi inspirado em um true crime famoso do século XIX, a história de Lizzie Borden que foi levada a julgamento por suspeita de matar a sua família a machadadas em 1892 e inocentada. Riley recriou alguns elementos na sua história como a cantiga de pular corda, dela ter se tornado uma lenda urbana, de viver no ostracismo por causa da opinião pública e o nome Lenora, o nome da irmã mais velha de Lizzie.
Well...
E lá fui para o Maine, lugar preferido de Stephen King, em uma pequena cidade onde um massacre brutal assombrou a abastada família Hope em 1929. Três dos quatro integrantes dos Hope (mãe, pai e a filha mais nova) foram assassinados em sua própria mansão, a célebre Hope’s End. A única sobrevivente, Lenora, a filha mais velha do casal com 17 anos, foi apontada como a principal suspeita. A mulher cujo crime bárbaro é cantado em uma cantiga de roda pueril por várias décadas.
Aos dezessete anos, Lenora Hope, alucinada,
Matou a própria irmã enforcada.
Matou o pai a facadas e, em delírios febris,
Tirou a vida da mãe, que era tão feliz.
Lenora sempre diz: 'Não fui eu'.
Mas é a única que não morreu.
A história avança no tempo e chegamos aos anos 1980. Kit McDeere, uma cuidadora com um passado conturbado, é contratada para cuidar da afamada Lenora, uma vez que sua cuidadora anterior, Mary, abandona o serviço sem mais nem menos. Ao se mudar para a antiga mansão dos Hope, ela se vê envolvida em uma teia de mistérios que, por tudo que aconteceu com ela, a conectam diretamente àquela noite fatídica.
Devido a uma série de pequenos derrames, Lenora perde todos os movimentos (com exceção da mão esquerda) e a capacidade de falar. Porém, com o auxílio de uma máquina de escrever ela fisga Kit através de um inusitado “eu quero te contar tudo”. É intrigante ver Kit se envolvendo aos poucos com os relatos de Lenora que, mesmo depois de tantos anos, ainda carrega consigo as marcas do trauma, um passado obscuro e o fato de que mesmo a polícia não tendo encontrado provas do crime na época, todos acreditam ter sido ela a assassina de sua família.
Não há como não notar a presença do abismo. Ele nos atrai, nos instiga a chegar mais perto, nos faz querer espiar além da borda, desafiar o destino.
Percebo que é isso que venho fazendo desde que cheguei a Hope’s End: avançar rumo ao que é proibido. Olhar para coisas que eu não deveria ver, cutucar coisas que não deveriam ser cutucadas. Tudo por causa de uma esperança equivocada de que provar a inocência de Lenora vai, de alguma forma, legitimar a minha inocência também.
À medida que Kit se aprofunda na história dos Hope, suas memórias traumáticas começam a surgir e ela pretende confrontar seus próprios demônios e, no processo, desvendar os segredos sombrios daquela família e, assim, fazer com que a verdade sobre o massacre venha à tona.
E quanto mais pistas lhe são apresentadas, mais dúvidas surgem e mais reviravoltas acontecem. A própria mansão Hope’s End, e seu ambiente pra lá de gótico, construída à beira de um penhasco e cenário do crime, se torna um personagem à parte, com seus corredores escuros, segredos ocultos, cantos e paredes inclinadas em direção ao precipício que ameaça engolir a mansão a qualquer momento. A mansão reclama, se move pela encosta íngreme, respira, é fantasmagórica e sua presença, desafiadora.
Os membros assassinados da família com suas histórias, e os demais personagens, cada um com suas próprias motivações para estarem trabalhando na mansão, também contribuem para criar uma trama rica e enigmática. Serão culpados, suspeitos, amigos, testemunhas ou algo mais? É muita tensão.
Eu me pergunto se já houve um tempo feliz neste lugar. Pelo que Lenora escreveu, concluí que estava condenado desde o início.
Já no início da leitura achei a história muito interessante. Desde as primeiras páginas fiquei envolvida com os muitos mistérios, a sensação de medo que impregna cada canto da mansão e que perdura ao longo da leitura e o suspense que preenchem cada capítulo. Lenora, realmente, matou sua família? Se ela fala a verdade e não foi ela, quem foi? Que motivo teriam para matar os Hope? Como ela conseguiu sobreviver à matança? O que levou Kit a ser suspensa do trabalho? O que aconteceu com sua última paciente? Por que todos insistem em ficar em Hope’s End? E os plot twists? Nossa, é um atrás do outro. Tudo contribui para a riqueza da história.
O final de “O Massacre da Família Hope” é simplesmente eletrizante, cheio de revelações chocantes e um desfecho inesquecível. É um romance de tirar o fôlego. Vale a pena toda a aflição e emoção. Riley Sager não decepciona.
FICHA TÉCNICA
Título Original: The Only One Left
Autor: Riley Sager
Editora: Intrínseca
Gênero: Mistério e Suspense
Tradutor: Renato Marques
Conhecendo um pouco mais Riley Sager
Riley Sager, pseudônimo de Todd Ritter, é o autor de oito romances que figuraram na lista de best-sellers do The New York Times, como “A Casa do Outro Lado do Lago” e mais recentemente “O Massacre da Família Hope”.
Seu primeiro thriller, “As Sobreviventes”, ganhou o prêmio ITW Thriller de Melhor Romance de Capa Dura e foi publicado em mais de trinta e cinco países.
Natural da Pensilvânia, Estados Unidos, ele agora mora em Princeton, Nova Jersey, também nos Estados Unidos. Quando não está escrevendo, ele gosta de ler, cozinhar e ir ao cinema o máximo possível. Seu filme favorito pode ser “Janela Indiscreta” ou talvez “Tubarão”, mas se ele for honesto, é “Mary Poppins”.
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