Olá, Perdidos! Para os fãs da série Supernatural, aquela dos irmãos caçadores de monstros sobrenaturais Dean e Sam Winchester, o monstro Wendigo não é estranho, afinal ele aparece logo na Temporada 1, Episódio 2. E segundo uma anotação no diário de monstros dos Winchester “Algernon Blackwood não sabia da missa metade”. E até pode ser. A visão da criatura é bem diferente para os caçadores do sobrenatural do que é para o autor.
O conto “O Wendigo”, de Algernon Blackwood foi publicado originalmente em 1910 e oferece uma visão muito mais complexa e aterrorizante dessa criatura, uma que habita as sombras de nossas próprias dúvidas e medos.
Até onde se podia ver, erguiam-se as léguas da densa floresta interminável, desolada em sua extensão e grandiosidade solitária, intocada por pés humanos, e estendendo seu tapete poderoso e imaculado até as margens congeladas da baía de Hudson.
Blackwood é um mestre do horror psicológico e tece uma história onde o ambiente é tão personagem quanto os homens que tremem dentro de suas peles, sem eufemismo. Suas descrições das paisagens geladas e dos sons da floresta criam uma atmosfera densa, eu diria quase palpável, que me envolveu em um manto de suspense e terror. E bota terror nisso!
O autor explora os limites da mente humana em um ambiente inóspito, desconhecido, cujas lendas pairam como nuvens de chuva, questionando o que é realidade e o que é fruto do medo que cresce “de dentro para fora”. O verdadeiro horror não reside em monstros visíveis, mas naquilo que não podemos ver ou compreender completamente ou cujas lacunas completamos com nossas crenças e superstições.
A narrativa segue quatro homens em uma expedição de caça ao alce nas florestas isoladas canadenses de Rat Portage, mas o que eles encontram é algo que vai muito além de qualquer presa que pudessem abater.
Além disso, não eram apenas os sentidos da visão e da audição que relatavam coisas incomuns ao seu cérebro, pois mesmo enquanto o homem gritava e corria, ele percebeu que um perfume estranho, fraco mas pungente, impregnava o interior da barraca.
No que todos identificam como sendo o “ano de poucos alces”, a expedição de caça é formada pelo Dr. Cathcart que escreveu o livro intitulado "Alucinação Coletiva" e seu guia Hank Davis, além de seu sobrinho, o jovem Simpson, um estudante de teologia, e seu guia, Défago, amigo de Hank. São acompanhados, também, por Punk, um índio que atua como cozinheiro.
Para ampliarem a experiência da caçada, eles se dividem em dois grupos: Cathcart e Hank; Simpson e Défago. E é aí que a vaca vai pro brejo (ou melhor, floresta). Entre misticismo, floresta e nevasca, cheiros, palavras desconexas, sussurros e o medo latente, a insensatez começa a tomar forma, à princípio, com uma das duplas. Não vou contar mais para não estragar o impacto da história.
O fato é que o grupo confronta os horrores da natureza hostil, a claustrofobia da floresta que os cerca e, que ironicamente, os aprisiona, e a crescente paranoia que aos poucos se instala à medida que a lenda do Wendigo, uma força sobrenatural ancestral, vai se tornando uma presença opressiva e, talvez, real.
– Num é nada... nada não. É o que aqueles cara miserávi acredita quando tão entortano o caneco por muito tempo... é um tipo de animal grande que vive lá em cima – ele sacudiu a cabeça para o norte – rápido como um relâmpago na trilha, e maió do que qualquer outra coisa no mato, e parece que num é muito bonito de se vê... só isso!
Sim. Eles se deparam com o Wendigo, uma entidade mítica que é tanto uma parte do folclore indígena quanto um símbolo do medo que reside dentro de cada um de nós.
Sem dúvida alguma, Algernon Blackwood tem aterrorizado e fascinado leitores por mais de um século. E esta história arrepiante explora as forças obscuras que se escondem nas sombras das árvores ou na escuridão da mente humana.
É imperdível!
FICHA TÉCNICA
Título Original: The Wendigo
Autor: Algernon Blackwood
Editora: Cartola
Gênero: Terror / Horror Psicológico
Tradutor: F. T. Rossi
Conhecendo um pouco mais Algernon Blackwood
Algernon Henry Blackwood ou, simplesmente, Algernon Blackwood nasceu em Shooter's Hill, Kent, na Inglaterra, a 14 de março de 1869. Ele foi um narrador, jornalista, romancista e contista inglês.
Trata-se de um dos maiores mestres da literatura de horror do século XX, além de ser um dos precursores da literatura weird que se consolidaria com H.P. Lovecraft.
A base do horror das histórias de Blackwood é o contato do homem com o desconhecido, com as forças ocultas da natureza e suas manifestações sobrenaturais. Florestas antigas, montanhas, divindades pagãs, mistérios do Egito, rituais de bruxaria medieval; todos esses temas são abordados com maestria por Blackwood em narrativas de atmosfera cuidadosamente construída e prosa elegante.
Suas obras mais conhecidas são: “Os Salgueiros” (considerado por H. P. Lovecraft como um dos melhores contos de horror sobrenatural já escritos) e “O Wendigo”.
Blackwood morreu aos 82 anos de trombose cerebral, após vários derrames, em 10 de dezembro de 1951, em Londres.
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