[OUTUBRO ATERRORIZANTE] [Conto H. P. Lovecraft] Dagon



Olá, Perdidos! Não posso dizer que já li muitos contos de H. P. Lovecraft, mas os que li, gostei muito. Desta vez li um de seus contos mais famosos e influentes, Dagon. Publicado pela primeira vez em 1919 na revista The Vagrant e republicado em 1923 na Weird Tales

Só para você saber, Dagon é uma representação da mitologia fenícia bastante celebrada de um deus-peixe. Sua aparição chocante na Bíblia ocorre quando os filisteus pegam a Arca da Aliança (aquele objeto do primeiro filme do Indiana Jones) dos hebreus e a levam para um templo de Dagon, cuja estátua do deus dos filisteus amanhece inexplicavelmente vandalizada, presságio para a calamidade. De acordo com a passagem da Bíblia de Samuel, livro 1, capítulo 5: “Dagon jazia caído com o rosto em terra diante da arca do Senhor; e a cabeça de Dagon e ambas as palmas das suas mãos estavam cortadas sobre o limiar; somente o tronco ficou a Dagon”.  





O narrador da história é um sobrevivente. A embarcação da qual ele fazia parte como supervisor de carga é capturada por um navio alemão, no Pacífico, durante o início da Primeira Guerra Mundial. Passados alguns dias, ele consegue fugir em um pequeno bote com água e algumas provisões. 

Em meio ao vasto oceano, navegando sem destino, totalmente perdido, acaba parando em uma ilha um tanto quanto estranha que, ele acredita, tenha sido formada por uma parte do fundo do mar lançada à superfície graças a “uma erupção vulcânica sem precedentes”. 

O fato é que nesta ilha sinistra ele se depara com um monólito, talvez resquício de uma antiga cidade submersa, e um ser monstruoso que se assemelha a um peixe gigante conhecido como Dagon. Ambos de proporções abissais. 


Através do abismo, as ondulações lavavam a base do ciclópico monólito, em cuja superfície eu agora percebia tanto inscrições quanto esculturas rudes. 


Claro que podemos ou não acreditar nesse narrador que se diz “escravizado pela morfina”. Fica difícil garantir que seu relato seja verdadeiro ou apenas um devaneio devido aos percalços pelos quais passou, perdido, no mínimo por vários dias, em um bote no oceano até ser resgatado. Sua sanidade é questionável. 

Ele mesmo se faz essa pergunta em determinado momento do conto. E, assim como o narrador, também me pergunto se o que ele conta é real ou se faz parte de sua insanidade. Contudo, a sensação que fica é de que todo o horror pelo qual o protagonista e narrador diz ter passado é bem real. 

Verdade ou alucinação, sua descrição da ilha, com seus cheiros sinistros, suas carcaças estranhas e indescritíveis, sua aparência bizarra, juntamente com suas sensações de horror, vai criando um clima tenso e amedrontador que me fez pensar como tais restos foram feitos e quem os colocou ali para formar “a imundice viscosa de um infernal lodo negro”. Sinceramente, essas visões congelaram meu sangue. 


A região estava pútrida com as carcaças de peixes em decomposição e de outras coisas menos descritíveis que vi irrompendo da lama imunda da planície sem-fim. 


Nem vou mencionar o desespero que me deu quando ele encontra a criatura abominável que “deslizou para fora das águas escuras”. Não vou negar que fiquei apavorada tanto quanto o homem ao ver aquele ser monstruoso que talvez nem fosse o aclamado deus-peixe e sim um adorador do sinistro Dagon. Nossa! Não vou contar mais nada para não estragar sua experiência, você tem que ler. 





Segundo o próprio Lovecraft, o tema de Dagon veio até ele através de um sonho: “Sonhei com todo aquele engatinhar horrível, na verdade ainda posso sentir a lama me sugando”. Eu te entendo, Lovecraft, lendo o conto é impossível não sentir a gosma lodosa envolvendo cada parte do meu corpo. 

Além do sonho, sua inspiração pode ter vindo do conto “Fishhead” (1913), de Irvin S. Cobb, claramente citado como inspiração para o seu conto “A Sombra de Innsmouth”, escrito em 1931 e publicado anos depois em 1936 e que traz A Ordem Esotérica de Dagon. Olha ele aí de novo! 

Dagon é o primeiro conto a ser publicado em sua fase madura e é considerado inovador, pois nele aparecem características que marcariam toda a sua obra, como a narrativa em primeira pessoa, a loucura, o horror cósmico (pelo qual ficou conhecido) e as entidades titãs, tão antigas quanto desconhecidas e aterrorizantes que mais tarde formariam os mitos de Cthulhu


Sonho com o dia em que eles se erguerão sobre os vagalhões para arrastar com suas garras apodrecidas os remanescentes de uma humanidade patética e exaurida pela guerra. 


Mesmo se tratando de um conto curtíssimo, Lovecraft explora com maestria o medo do desconhecido, a loucura, o desespero, o incerto e o pânico diante do incomensurável, revelando seu talento e sua titânica imaginação. 

Fica por sua conta decidir se o relato do narrador é de fato verdadeiro ou não. E já que estamos no Mês das Bruxas tem um velho ditado que, para mim, condiz com a situação: “yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay”, ou seja, eu não acredito que bruxas existam, mas vai saber, né? 




Autor: H. P. Lovecraft 
Título: Dagon 
Título Original: Dagon 
Ano: 1919 
Gênero: Conto de Terror 







Até a próxima! 
Beijos mil! :-)

Criss 






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