Olá, Perdidos! Casas assombradas estão sempre em alta nas histórias de terror. Quem não tem medo de portas batendo do nada, sons estranhos e gritos aterrorizantes vindos das entranhas da casa? E a história A Assombração da Casa da Colina, da autora norte-americana Shirley Jackson, publicada em 1959, é considerada uma obra-prima do gênero de terror psicológico. E, só para vocês saberem, foi meu primeiro contato com a autora que recebe elogios de escritores como Stephen King e Neil Gaiman, os quais adoro, e que a consideram como a Rainha do Terror.
O livro conta a história de quatro pessoas que se hospedam na Casa da Colina, uma mansão supostamente assombrada e construída há mais de oitenta anos. A ideia é do Dr. John Montague, filósofo, estudioso da área de Antropologia e fascinado pelo ocultismo, que aluga a mansão por uma temporada e convida duas dessas pessoas que, de acordo com suas pesquisas, já tiveram experiências sobrenaturais, com o objetivo de investigar os fenômenos paranormais que ocorrem ali e, assim, alavancar sua carreira e provar que o sobrenatural existe e é muito real.
Os convidados do Dr. Montague são Eleanor Vance, uma mulher solitária e extremamente reprimida que passou grande parte de sua vida adulta cuidando da mãe doente; Theodora, “só Theodora”, uma artista sensitiva, alegre e muito confiante; e Luke Sanderson, herdeiro da mansão e um charmoso aventureiro.
Durante a investigação eles se deparam com forças misteriosas que parecem fazer com que a casa tenha vontade própria, conseguindo influenciar os sentimentos e os pensamentos das pessoas. Seria isso, realmente, possível?
É um grande choque virar aquela esquina e ter uma visão clara da Casa da Colina.
O ritmo da leitura é um pouco cansativo, mais do que esperava, mas não dá pra não ficar envolvida com algumas cenas de terror, com a história e, principalmente com os pensamentos de Eleanor, a protagonista principal, depois da casa, é claro. É de seu ponto de vista que transcorre a história.
A Casa da Colina com seus fantasmas, que no primeiro parágrafo da história é apresentada como “desprovida de sanidade”, é a grande protagonista desta história. Tudo se desenvolve ao seu redor e em seu interior, onde segredos são guardados e cujo clima de estranheza consegue influenciar uma mente enfraquecida, fazendo com que nem tudo seja o que aparenta ser.
O medo é a renúncia da lógica, a renúncia voluntária de padrões sensatos. Ou cedemos a ele ou lutamos contra, mas não nos é possível encontrar um meio-termo.
Contudo, A Assombração da Casa da Colina é muito mais do que um livro de terror com fantasmas aterrorizando um grupo de pessoas numa casa assombrada. A história vai muito além. Ela fala de como os personagens lidam com seus próprios traumas e seus fantasmas pessoais, e é possível perceber tudo isso através de sensações, sentimentos e pensamentos deles.
Misturando suspense com terror, essa trama perturbadora cheia de sons, odores, imagens e sensações de frio revela que o medo além de ser uma manifestação derivada de algo externo, como a casa, também pode surgir de uma condição interna que tem a ver com a personalidade e os desafios enfrentados por cada personagem. A casa, sem dúvida, testa a sanidade de todos ali.
Não é difícil de imaginar a casa com tantas descrições minuciosas de sua total bizarrice com seus ângulos desalinhados, portas que nunca se mantêm abertas e janelas que enganam a perspectiva. Um ambiente sombrio ao melhor estilo gótico de uma casa que parece ter sido construída para apavorar quem desejasse morar nela.
Não, o perigo do sobrenatural é que ele ataca o ponto em que as mentes modernas são mais fracas, em que abandonamos nossa armadura protetora de superstição e não temos defesas para substituí-las.
E a temporada de estudos do grupo no local prova que tanto a loucura quanto a violência se manifestam nesse ambiente predatório que foi moldado através dos anos na Casa da Colina.
Foi uma boa leitura, um livro muito bem escrito e se vocês curtem casas assombradas não podem deixar passar esse livro, referência para o gênero e que inspirou diversos autores e adaptações. Além de ter sido adaptado para o cinema, pelo menos umas duas vezes, em 1963 e em 1999, também virou uma série da Netflix em 2018, chamada A Maldição da Residência Hill. Divirtam-se, pois vale a pena!
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