Olá, Perdidos! Dia 19 de janeiro de 1809 poderia ser uma data como outra qualquer. Mas foi nesse dia que nasceu o mais sombrio e misterioso dos homens. Nasceu o conhecedor das mazelas humanas e seu crítico mais ferrenho. Nasceu Edgar Allan Poe.
Foi há 214 anos que nasceu o maior representante do Romantismo Americano, especialista em contos breves, aquele que foi o pioneiro no gênero da Ficção Científica, das histórias de detetive moderno e um dos maiores exemplares do estilo Gótico.
E para homenagear o nascimento deste escritor que destaca sempre o macabro do ser humano em suas obras, trago a resenha de um de seus contos mais famosos, publicado em 1842: O Poço E O Pêndulo.
A história se passa em Toledo, Espanha, em plena Inquisição Espanhola. Vale lembrar que a Inquisição Espanhola é estabelecida em 1478 pelos Reis Católicos e abolida em 1834.
Poe nos apresenta logo de cara um homem sem nome sendo julgado e condenado pelo tribunal da Santa Inquisição por um crime que não nos é informado.
Ao invés da morte imediata através de um auto de fé em plena praça pública, o prisioneiro é levado ao calabouço e jogado numa cela escura e incomum para, ao que tudo indica, sofrer as tormentas elaboradas pelos monges em nome da Igreja para que o homem morra de um modo cruel ou que sucumba ao peso de sua desgraça e que em sua desistência, quem sabe, cometa suicídio. A morte é inegociável.
Teria sido eu deixado para morrer de fome nesse mundo subterrâneo de trevas; ou que destino, talvez ainda mais assustador, me aguardava?
O interessante é que acabamos percebendo que os monges de algum modo assistem a todos os movimentos do prisioneiro que “insiste” em continuar vivo. E, assim como uma plateia aflita e descontente, também percebemos que eles aumentam o desafio como num jogo mortal agravando o nível de sadismo e crueldade das armadilhas por eles elaboradas.
A primeira armadilha é o Poço que diante da penumbra da cela torna-se invisível; “o poço, cujos horrores haviam sido destinados a um herege ousado como eu”. Tudo indica que heresia é o motivo da prisão.
A segunda é o Pêndulo que oscila e desce; “a parte de baixo evidentemente tão afiada quanto uma navalha de barbeiro” e “a peça toda sibilava em suas oscilações através do ar”.
A terceira... não vou estragar a surpresa.
E então insinuou-se em minha imaginação, como uma rica nota musical, o pensamento do doce descanso que devia ser o túmulo.
O único ponto de vista que temos durante a narrativa é a do próprio torturado que apresenta uma condição mental não muito saudável. Afinal ele vive no limiar da possível realidade de um mundo de sombras e de seu estado constante de perda de sentidos. E aí nos perguntamos: o narrador realmente passa por tudo que descreve em suas memórias (“mais brancos que a folha em que traço estas palavras”)? Aparentemente sim, mas não podemos ter certeza.
Mas, quem se manteria são sendo pego pelas garras da Inquisição e estando nas mãos de políticos e tiranos disfarçados de padres e monges que matavam em nome de Deus e da Igreja? Bastava não ser cristão, ter pensamentos próprios, ter uma ideologia diferente para viver, ou seja, fugir ao padrão de submissão político-religiosa para ser culpado perante os inquisidores. Difícil, né? Aliás, o medo e a alteração psicológica são recorrentes nos contos de Poe.
Durante a leitura é perceptível que o balanço do pêndulo dita parte da narrativa sonoramente, aumentando a cada movimento a aflição da morte que está por vir. Embora tenha lido este conto outras vezes, sempre sinto como se fosse a primeira vez e fico torcendo pelo narrador e sua próxima fuga à la Hollywood.
E a morte que acabara de evitar era exatamente o que eu costumava encarar como a típica história fantasiosa e pitoresca relativa à Inquisição.
Um conto espetacular que descreve de forma extraordinária o medo, o pavor e o terror iminente da morte, com torturas criativamente sádicas e muito suspense envolvendo cada momento do narrador que, impressionantemente, consegue manter viva a chama da esperança de se livrar da prisão vivo.
Será que ele, realmente, consegue? Será que Poe vai aparecer com um Deus ex machina, ou seja, uma pessoa que inesperadamente propicia a solução para aquele sofrimento todo, e, assim, salvar o condenado de uma morte cruel? Um milagre, quem sabe?
Lembre-se de que é Edgar Allan Poe. Isso diz muita coisa. Será?
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