Olá, Perdidos! Na Noite de Natal que tal deixar de lado as bochechas rosadas e os Hohoho’s? Ou esquecer a alegria e bondade que despertam nesta data tão festivamente calorosa? Isso mesmo. Apresento um Natal com contos macabros.
O conto de hoje é Markheim, de Robert Louis Stevenson, famoso autor de A Ilha Do Tesouro e O Médico E O Monstro. Este conto tem por volta de umas 15 páginas e foi originalmente publicado em 1885.
É véspera de Natal e a história começa na loja de um antiquário prestes a fechar para as festividades. Mas como Markheim é um antigo cliente decide atendê-lo. Durante a conversa, Markheim diz que está à procura de um presente de última hora para sua noiva.
O dono da loja se surpreende, pois sabe que ele o procura para revender os objetos de valor furtados da coleção de seu tio para apostar na Bolsa de Valores.
Entre insinuações e palavras um pouco mais ásperas, Markheim esfaqueia o comerciante a sangue frio, pelas costas, que acaba morrendo.
Vagando pelas salas do prédio à procura de um cofre ou gaveta com o dinheiro do comerciante, Markheim imagina a possibilidade dos vizinhos o terem visto assassinar o dono da loja e as consequências que poderá sofrer se for pego. Imagina também a empregada voltando para o local do crime e encontrando seu patrão morto numa poça de seu próprio sangue e ele dentro da casa procurando o dinheiro. Enfim, ele fica perdido em pensamentos de puro desespero mesquinho e angústias de um passado irrevogável.
Após entrar numa sala cheia de espelhos, um estranho, um tanto quanto diabólico a seu ver, aparece do nada e promete ajudá-lo a ganhar muito dinheiro e, principalmente, a escapar da acusação de assassinato. Mas, é claro, que há um preço muito alto a pagar. Ele terá que matar a empregada quando esta retornar à loja para remover o único obstáculo que o separa da liberdade total, carregando consigo o produto do roubo.
O que Markheim decide fazer?
A sensação de que não estava sozinho foi crescendo nele, beirando a loucura. De todos os lados, era assombrado e perseguido por presenças.
Sua decadência aos 36 anos de idade e seus pensamentos oblíquos fazem Markheim não aceitar a sugestão do comerciante que lhe oferece um espelho de mão logo no começo da história. Sua reação exasperada revela que sequer consegue olhar para si no reflexo que mostra muito além de seu rosto, mostra toda uma vida desperdiçada e desregrada.
– Eu peço um presente de Natal e o senhor me dá isto? – disse Markheim. – Este maldito lembrete dos anos, dos pecados e das tolices... esta consciência de mão! Foi de propósito? Tinha algo em mente?
É entre o que é real e o que é imaginário que Markheim se vê numa conversa com um visitante um tanto quanto etéreo que ele reconhece como sendo o Diabo. Embora ele nunca se identifique de fato, esse visitante pra lá de misterioso não só o provoca como também o faz ter consciência plena de seus atos, promovendo uma mudança na sua atitude. Este ser seria mesmo um demônio?
O diálogo com o estranho evoca a duplicidade e a multiplicidade dos vários “Eu’s”, num inesperado jogo de espelhos. É bom lembrar que Markheim estava numa sala repleta de “vários espelhos de corpo inteiro, nos quais ele se viu de vários ângulos, como um ator no palco”. Então, ele falava com alguém ou com o reflexo de sua própria consciência? Provavelmente um monólogo interior com as vozes do Bem e do Mal fazendo acusações e apresentando defesas num tribunal representado pela mente do assassino. Será?
Existe algum crime, existe alguma crueldade ou maldade que ainda o repugne? Daqui a cinco anos, eu o encontrarei cometendo-a! Para baixo, sempre para baixo é o seu caminho; nada além da morte pode detê-lo.
Um excelente conto de escrita refinada e personagem denso. Gostei muito da ambientação e do dilema moral enfrentado pelo protagonista. A vontade de fazer o que é certo em contraponto com a fragilidade que o induz ao erro; a luta da sua voz interior com os seus desejos que o levam à ruína. Essa mistura de um drama moral com um conto de horror gótico fez o autor criar uma história que discute a eterna luta entre o Bem e o Mal que se desenrola dentro de cada um de nós.
Autor: Robert Louis Stevenson
Título: Markheim
Título Original: Markheim
Ano: 1885
Gênero: Conto de Terror Natalino
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