Olá, Perdidos! As cores nos influenciam e cada cor passa uma sensação aos nossos cérebros sem ao menos percebemos seus efeitos. Tanto que nos filmes de terror os cineastas utilizam tons e cores específicos para provocar uma reação de medo, além da própria história, é claro.
No conto A Cor Que Caiu Do Espaço, de H.P. Lovecraft, seu conto favorito, a psicodelia mistura as cores da ficção científica com as cores do terror e nos enche de medo quando uma Cor ou algo que se parece com uma cor não só nos influencia, mas nos domina.
A história se passa em Arkham, uma pequena cidade em Massachusetts. No entorno da cidade e ao longo da antiga estrada, agora abandonada, que corta colinas e vales, há resquícios das construções de pequenas fazendas que ainda resistem de pé. O narrador do conto não possui nome e a única coisa que sabemos é que ele é um agrimensor de Boston designado para realizar o levantamento topográfico, justamente, dessa região que percorre a antiga estrada para a criação de um reservatório de água.
Os moradores da cidade se referem ao local como “descampado maldito” e, segundo o narrador, um nome bem apropriado para qualquer um que passe a conhecer o local e sinta “a aura de mistério ancestral” e o “silêncio profundo demais”. Um local totalmente desolado e estranho.
Embora os moradores balbuciem sobre “aqueles dias estranhos” ninguém entra em detalhes ou responde satisfatoriamente suas perguntas. Apenas fazem um alerta que é para não prestar atenção nos relatos do velho e louco Ammi Pierce. Claro que ele faz uma visita ao velho que ainda vive perto do descampado e lhe dará informações muito perturbadoras sobre a má fama do local e o que aconteceu com uma família que morava ali.
De acordo com o Ammi Pierce, tudo começou quando seu amigo, o fazendeiro Nahum Gardner, viu um meteorito cruzar o céu e cair perto de sua casa em junho de 1882. Após a queda desse misterioso meteorito de cor inominável, a vida da família virou uma tragédia.
Até mesmo os cientistas que examinaram amostras coletadas do objeto ficaram perplexos com sua natureza atípica e inexplicável.
Com o tempo, os efeitos da queda do meteorito transformaram a vida da família Gardner: no início a plantação crescia viçosa, mas apesar da beleza tinha um gosto horrível; a vegetação e os animais silvestres reagiam de forma medonha; os animais da fazenda apresentavam deformações grotescas e morriam; e as pessoas da família também foram afetadas, enlouquecendo e morrendo.
Acompanhei passo a passo o pandemônio provocado pelo meteorito que caiu perto do poço dos Gardner e suas cores com matizes indescritíveis e diferentes de quaisquer outros já vistos na Terra. Um colorido tão lindo. Só que não! Aparentemente a água e a terra foram contaminadas pela tal rocha cromática e várias anomalias espalharam-se através da fauna e da flora do local, inclusive afetando sua família e tornando cinzento e estéril o “descampado maldito” onde nada mais consegue crescer.
Mas nada era tão assustador quanto o descampado maldito. Eu o reconheci assim que o enxerguei no fundo de um vale espaçoso; pois nenhum outro nome serviria para a coisa, e nenhuma outra coisa serviria para o nome.
Achei o conto excelente. Até a metade tem o surgimento do meteorito, os cientistas fazendo testes com o espécime de características inimagináveis e alguns acontecimentos bizarros. E aquela Cor que veio do espaço que, aparentemente, para se manter “viva” torna tudo ao redor cinza e quebradiço. A Cor que absorve as outras cores. Consegue imaginar? Lendo o conto de Lovecraft a gente nem se esforça muito.
Loucura, desespero, apatia e inércia fazem parte da narrativa e o autor não recorre a explicações estapafúrdias sobre sua criatura extraterrestre. Ela, simplesmente, é, existe e está perto, fazendo o que deve ou precisa fazer. Nada é realmente explicado. Nada se descobre sobre essa aberração cromática. E é justamente essa total falta de referências e esclarecimentos que indo num crescendo contínuo, da metade até ao final, o autor nos contempla com o mais puro terror.
O aspecto de toda a fazenda era chocante – grama seca e cinzenta por toda a parte, trepadeiras esfarelando-se nas vetustas paredes e empenas e grandes árvores nuas erguendo as garras em direção ao cinzento céu de outubro com uma malevolência intencional que Ammi atribuiu a uma discreta mudança na inclinação dos galhos.
Segundo o próprio Lovecraft “a emoção mais antiga e mais forte do homem é o medo, e o medo mais antigo e mais forte é o medo do desconhecido”. E é exatamente isso que ele nos entrega: o medo do desconhecido. E não é qualquer desconhecido, não. É aquele vindo do espaço. O que para mim é mais enigmático e aterrorizante.
Idealize a “Coisa”, esse ser alienígena, sendo uma Cor totalmente estranha aos nossos olhos. Algo nunca visto antes e, por isto, inominável. Ora, chamar a “Coisa” de Cor foi a única designação compreensível para o desconhecido do espaço sideral. Páreo duro para o Oceano de Solaris, obra de Stanislaw Lem. Teria Lem sido inspirado pelo conto de Lovecraft?
Era apenas uma cor que caiu do espaço – o pavoroso mensageiro de reinos informes que transcendem a Natureza tal como a conhecemos; de reinos cuja mera existência atordoa os nossos pensamentos e entorpece-nos com os negros abismos siderais que descortina ante o nosso olhar frenético.
Publicado originalmente na Amazing Stories em setembro de 1927, com certeza o conto de H.P. Lovecraft é uma bela peça de seu horror cósmico, sua marca registrada. A leitura me prendeu do início ao fim, com suas descrições dos locais e das intensas emoções, o que provocou muita tensão e arrepios. E no final fiquei com o coração na boca, tentando não respirar até terminar. Se fosse eu já tinha picado a mula daquele lugar decrépito. Ufa! O desfecho é surpreendente e chocante. Mas, será mesmo o fim? Lembre-se... é terror!
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