Olá, Perdidos! Coisas estranhas e acontecimentos inexplicáveis estão sempre envoltos em uma aura de mistério. A busca por explicações do desconhecido pode acabar expondo algo muito sombrio, bizarro e inesperado.
O conto A Coisa Maldita, de Ambrose Bierce, além do horror cercado pela penumbra antecipa a ficção científica desvendando os limites da percepção humana.
Uma sala, uma vela, oito homens e um morto. Em meio a iluminação assombrosa de uma única vela de sebo, um dos homens tenta ler um livro que aparentemente pertencia ao morto. Ele é um médico legista.
William Harker adentra o recinto, onde é aguardado para encerrar o inquérito como a testemunha dos acontecimentos que levaram à morte violenta de Hugh Morgan, cujo corpo lacerado encontra-se em cima da mesa. Mas, sua descrição dos fatos é tão inacreditável que faz com que seu relato pareça mais como uma obra de ficção do que com a realidade.
Após seu testemunho, o restante dos homens, que atuavam ali como jurados, dá o veredito de que Hugh Morgan tinha crises e foi morto por um animal selvagem.
O livro que o legista se empenhava tanto em ler é o diário do falecido. Nele há anotações sobre ocorrências e ideias de Morgan que talvez possam de alguma forma incrível explicar o relato um tanto quanto espantoso de Harker.
O conto foi originalmente publicado na revista Town Topics de New York, em dezembro de 1893, e embora seja bem curtinho, com apenas 11 páginas, é dividido em quatro partes:
- 1ª parte – NEM SEMPRE SE COME À MESA – ambientação do conto, apresentação de seus personagens e do tema a ser discutido que tem início no inquérito sobre a morte de Hugh Morgan, cujo corpo está sobre a mesa.
- 2ª parte – O QUE PODE ACONTECER EM UM CAMPO DE AVEIA SELVAGEM – o relato apresentado por William Harker que testemunha os eventos que levaram à morte terrível de Morgan.
- 3ª parte – UM HOMEM APESAR DE NU, PODE ESTAR EM FARRAPOS – exposição e análise das lesões e lacerações no corpo do falecido e o veredito dos jurados.
- 4ª parte – UMA EXPLICAÇÃO DO TÚMULO – as entradas do diário de Morgan e sua explicação intuitiva sobre os últimos eventos e a “coisa” que poderia estar a sua espreita.
– O que é? O que diabos é? – perguntei.
– Aquela coisa maldita! – ele respondeu, sem virar a cabeça.
Sua voz era rouca e anormal. Ele tremia visivelmente.
Nunca tinha lido nada de Ambrose Bierce e adorei o conto. A história é rápida, ágil e envolvente. Acredito que o autor tenha explorado os limites de nossos sentidos, indo além e descortinando um inédito entendimento sobre o que nos rodeia e que não fazemos ideia alguma. Sons, cores, aromas, texturas e sabores que não estamos aptos a alcançar.
Através do diário do falecido Morgan, o conto expõe os fundamentos da Natureza indomável e de como às vezes ela pode ser assustadora, mostrando que nem tudo está ao alcance das nossas capacidades, e neste caso, ao alcance da nossa visão.
Durante todo o incidente, seus gritos e blasfêmias eram ouvidos, como se através de um abrangente tumulto de sons raivosos e furiosos, tais como eu nunca ouvira da garganta de um homem ou bruto!
O conto é muito bem trabalhado e apresenta momentos de mistério e de toques tênues de gracejos durante o inquérito. Mais uma vez temos o inexplicável como fonte de terror. Ora, e desde quando não é, certo? Onde a expressão “ver para crer” parece se perder em meio aos campos de aveia selvagem.
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