Aprendendo Que “É Assim Que Se Perde A Guerra Do Tempo”

Olá, Perdidos! No livro É Assim Que Se Perde A Guerra Do Tempo, dos autores Amal El-Mohtar e Max Gladstone, soldados viajam através do tempo cumprindo ordens para criar ou manter acontecimentos que mudarão o futuro a favor de seu comando superior. Contudo, nessa guerra infinita e atemporal, em meio ao campo de batalha, o amor surge entre duas inimigas ferrenhas. 






Uma batalha e Red está lá, com sangue no cabelo, segurando um cadáver, assimilando sua vitória sozinha para a Agência. Pelo menos ela acha que está sozinha até encontrar uma folha de papel limpa onde está escrito “Queime antes de ler”. 

É assim que se inicia uma correspondência inimaginável entre duas soldadas de facções rivais que travam uma guerra através do tempo e do espaço para garantir o melhor futuro para suas respectivas equipes. 

A provocação lançada em cada carta vai se transformando em algo mais profundo e necessário para as duas, o que porá em risco tanto o passado quanto o futuro dos planos de seus superiores. 

Se descobertas, seu destino será a morte. 




Matar fica mais fácil com a prática, em mecânica e em técnica. Mas ter matado nunca fica. 




A história já começa numa batalha. Sem prévias, sem informações, sem nada. Apenas cinzas e restos num mundo em ruínas. E é mais ou menos assim, às escuras, sem maiores informações, que a narrativa segue. 

Pode não parecer, mas estamos na Terra e duas facções adversárias vivem em guerra pelo controle total de um futuro melhor de acordo com o que cada comando considera ‘o melhor’. Para vencer esta guerra, agentes de cada grupo se movem pelo tempo e pelo espaço, se infiltrando no passado em seus multiversos. De um lado, eliminam um obstáculo, insinuam uma descoberta, alteram um cenário, inserem um objeto. Do outro lado, mantêm a segurança da vida que segue a contento, em harmonia. Ou seja, cada facção faz o que considera necessário para alcançar seus objetivos. 


Sempre te amei? Não? 
Quando isso aconteceu? Ou sempre aconteceu? Como a sua vitória, o amor se espalha pelo tempo. 


As facções são Jardim e Agência. Pelos nomes dá para sentir que Jardim é movida pelo seu lado emocional e está ligada à natureza. Já Agência, é mais racional e dá mais valor à tecnologia. Harmonia em oposição ao controle. Talvez uma luta entre a essência e a ciência? 

Um debate eterno entre a adaptação ou a manipulação do meio em que vivemos. Como evoluir sem alterar e muito o meio ambiente? Sendo a Natureza impiedosa, ela não se abate sem revidar, assim como o ser humano que usa artifícios para não ser engolido por ela. Essa rixa entre tecnologia e natureza vem desde o despertar do Homem e requer cuidado para manter o equilíbrio. Infelizmente sabemos que é difícil. 

E até que ponto essas mudanças no ir e vir do tempo afetam o futuro de forma aprazível? Muitas viagens no tempo para (rererere...)redefinir a mudança forçada. E... ‘Se não era esse o efeito esperado, voltemos no tempo’. Ou... ‘Se mexeram no que fizemos, voltemos no tempo’. Os soldados de ambos os lados parecem cansados, mas continuam na batalha. E assim a guerra continua ao infinito e além


Levamos a arte de escrever cartas tão literalmente, não é? Lacres de foca à parte. Cartas como viagem no tempo, cartas que viajam no tempo. Significados ocultos. 


As protagonistas Red e Blue (Vermelho e Azul), de Agência e Jardim, respectivamente, são inimigas que entre batalhas e arranjos na linha temporal se comunicam através de cartas ultrassigilosas inseridas nos mais inimagináveis locais. Consegue imaginar uma carta codificada em uma semente, uma pena, no chá, nos anéis de uma árvore, no couro de uma foca, em meio a lava cintilante ou cinzas? Difícil, né? Cartas que levam anos para serem elaboradas, mas isso não é problema, afinal o Tempo é um mero detalhe. 

Uma coisa que me chamou a atenção foi justamente a criatividade dos autores para os muitos esconderijos inusitados das cartas e, claro, que se ou quando guardadas, também tinham que ser feitas de uma forma tão inimaginável quanto, em seus próprios corpos. Afinal elas são inimigas e essa comunicação pode ser considerada traição.  

À princípio, as cartas são provocações sobre quem vai ganhar a guerra e como. Depois elas começam a ficar mais longas, intensas e reveladoras. As suspeitas de armadilhas vão ficando esquecidas e se transformam em algo improvável:  amor

Com as cartas ficando cada vez mais íntimas, elas se compreendem melhor e nasce uma relação de respeito mútuo profundo. Descobrem que suas diferenças as complementam e, então, elas se transformam. Não importa quem é melhor ou pior, nem quem está certo ou errado, elas percebem que as duas possuem formas distintas de viver, só isso. 


toda noite eu vejo um céu vermelho sangrar sobre as águas azuis e penso em nós. 


A descoberta do amor se une a necessidade da existência de cada uma delas para suplantarem seus próprios receios de serem punidas ou mortas. Não podemos esquecer que as guerreiras são de grupos opositores e a comunicação secreta entre elas pode ser considerada traição, como já disse. Contudo, alguma coisa precisa ser feita para garantir um futuro juntas, mesmo com uma rastreadora que está sempre presente como uma sombra perseguindo-as. 

Algo que não fica claro para mim é se Red e Blue são alienígenas ou terráqueas modificadas ou as duas coisas. O fato é que elas podem se passar por pessoas como nós e que “sua pele, se fosse o tipo de pele que os habitantes do vilarejo lá embaixo usam em torno da carne, deveria queimar”; “já que está desacostumada a ter mãos” e “ela sangra em sua forma de lobo” mostram que elas sabem se camuflar com talento para percorrerem eras passadas. 


Fico pensando em como somos um microcosmo da guerra como um todo, você e eu. Uma ação e uma reação oposta e igual. Meu mundo élfico de vinhas-colmeias, como você disse, versus a sua distopia tecnomecânica. 


Uma coisa é certa, o feminino é poderoso na história, começando com as nossas guerreiras-protagonistas (Red e Blue), depois com suas Comandantes, passando pelas irmãs-soldados, a rastreadora, até chegarmos em Deus como uma força feminina. Maravilha, né? 





Mas, o que me chamou bastante atenção foi a criação de fios que tecem a rede do tempo por onde os soldados viajam ao passado, subindo ou descendo esses filamentos, criando vários cenários e infinitas possibilidades de futuros. Muito interessante. 


Agentes de mudança sobem pelos fios, encontram filamentos úteis, preservam o que importa, e deixam o que não importa se esfacelar: adubo para a semente de um futuro mais perfeito. 


O livro possui capítulos curtíssimos e a narrativa é muito agradável e original, mas creio que uma releitura seja necessária para captar as várias nuances do texto. Trata-se de um romance epistolar (o que não é muito comum em ficção científica) intercalado com episódios de cada guerreira que deve ser lido com calma. Embora escrita por duas pessoas, funciona bem e a história é um deleite. Dá para notar a personalidade de cada protagonista através das cartas que são cheias de lirismo e poesia: uma é reflexiva e a outra é ávida. É claro que amei e suspirei. 

Somos levados através da história da humanidade, num ir e vir pela linha do tempo não linear, algumas vezes remodelada, outras criativa,  como a queda de Atlântida. Motivos só podemos imaginar. Perguntas são várias. Respostas não existem. Para o apreciador de ficção científica (como eu!) talvez faltem detalhes que expliquem os fatos que servem de pano de fundo para este romance sáfico. Um amor romântico e verdadeiro que floresce entre duas guerreiras em meio a intrincados jogos de palavras e ações, causas e efeitos. Provocando mudanças. Shippei infindavelmente. 

A guerra, que mais parece um jogo, se torna banal e o amor entre elas é a única resposta a algo com mais substância e sentido do que apenas perder ou ganhar o conflito. 

O foco do livro está, justamente, no desenvolvimento e na dedicação do relacionamento atemporal entre Red e Blue. E esse amor torna É Assim Que Se Perde A Guerra Do Tempo atual e extremamente necessário. 

O amor sempre merece uma chance, assim como a felicidade, seja em que tempo for! 



 FICHA TÉCNICA 


Título: É Assim Que Se Perde A Guerra Do Tempo      
Título Original: This Is How You Lose The Time War      
Autores: Amal El-Mohtar e Max Gladstone 
Ano: 2021 
Páginas: 192  
Editora: Suma  
Gênero: Ficção Científica    
Tradutor: Natalia Borges Polesso     
  

Conhecendo um pouco mais Amal El-Mohtar e Max Gladstone 




Amal El-Mohtar, cuja ascendência é libanesa, nasceu em 13 de dezembro de 1984, em Ottawa, Canadá. É poeta, além de premiada escritora de ficção especulativa, editora e crítica. Ministra aulas de escrita criativa na Universidade de Ottawa. 

Seu conto Estações De Vidro E Ferro (2016) e seu romance É Assim Que Se Perde A Guerra Do Tempo (2019) ganharam os prêmios Nebulosa, Locus e Hugo. 





Max Gladstone nasceu em 28 de março de 1984, nos Estados Unidos. É o autor de Craft Sequence, indicado ao prêmio Hugo. O jogo interativo Choice of the Deathless, criado por Max, foi indicado ao prêmio XYZZY, e seus aclamados contos de ficção já saíram na Tor e na Uncanny Magazine. O autor é graduado pela Universidade de Yale, onde estudou chinês. O romance de Ficção Científica É Assim Que Se Perde A Guerra Do Tempo, escrita com Amal El-Mohtar, ganhou o Prêmio BSFA (British Science Fiction Association) de Ficção Curta de 2019. 






Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss 




Postar um comentário

Antes de comentar, leia com atenção:

Qualquer comentário com teor ofensivo, palavras de baixo calão e qualquer tipo de preconceito ou discriminação será excluído.

Comente educadamente sobre a postagem ou sobre um comentário.

“Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores.” – Cora Coralina.

Vamos deixar o planeta mais florido!

Beijos mil! :-)




Meu Instagram

Copyright © Perdida Na Lua Cheia. Feito com por OddThemes | Personalizado por o¤°SORRISO°¤o