“As Crônicas Marcianas” Expondo A Natureza Humana

Olá, Perdidos! “Is there life on Mars?”. A pergunta que David Bowie cantava é a mesma que fazemos desde que o planeta foi batizado em homenagem ao Deus Romano da Guerra: Existe vida em Marte? 

Não é de hoje que o planeta vermelho nos fascina e nos enreda em seus mistérios. Ainda mais com a recente Missão Perseverance com o robô explorador começando seu trabalho por aquelas bandas, após uma jornada de meros 480 milhões de quilômetros! Para saudar a aventura do homem através do cosmos, vamos nos deliciar com As Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury. 







As Crônicas Marcianas é um livro que reúne vinte e seis contos que vão de janeiro de 1999 até outubro de 2026 com os registros das aventuras dos primeiros exploradores espaciais em Marte culminando, após quatro expedições, com sua colonização pelos terráqueos e que anos depois se tornaria seu refúgio. 


Se a realidade é impossível, um sonho basta.
(O Marciano


No final dos anos 1950, nos Estados Unidos, As Crônicas Marcianas foram publicadas originalmente em revistas de pulp fiction, que são revistas feitas com papel barato a partir do início da década de 1900. Entretenimento rápido e acessível. 

Na verdade, é possível ler os contos aleatoriamente sem problema, mas no início dos anos 1960 Bradbury os reuniu e interligou com alguns textos extras tornando a narrativa sequencial dos contos uma leitura romanceada. Que para mim é a melhor opção. É o que chamam de romance fix-up, ou seja, vários contos agrupados que se passam em um mesmo cenário. 


Somos crianças excitadas, gritando com nossos foguetinhos de brinquedo e átomos, barulhentos e vivos. Mas algum dia a Terra vai ficar como Marte é hoje. Isso vai nos acalmar. É uma lição objetiva de civilização. Vamos aprender com Marte.
(...E A Lua Continua Brilhando


Muitos diriam que crônicas são datadas e por isso perdem a força com o tempo, mas não é o caso deste livro. Ele é atemporal. Isto porque suas histórias, entre otimistas e pessimistas, não falam apenas sobre a Humanidade e sua epopeia em dominar, colonizar e se expandir sobre as areias de Marte, falam também sobre ciúme, ganância, opressão, terror, vingança, automação, empatia, conquista, liberdade, preconceito, abandono, solidão, loucura, morte, vida, esperança e recomeço. 





Abordam algo bem mais profundo que é o ser humano, sua essência e sua interferência num mundo em que viagens interplanetárias já são uma realidade. Afinal este é o objetivo da ficção especulativa que, além de mostrar um mundo diferente, expõe e critica a sociedade, as mazelas do ser humano e as confronta. Em As Crônicas Marcianas, as histórias revelam os conflitos de nossa civilização. 


Naquela cabana, enquanto o vento ruge, a poeira dança e as estrelas frias queimam, enxergam-se quatro silhuetas, uma mulher, duas filhas, um filho, cuidando, sem motivo, de uma fogueira fraca, conversando e rindo.
(Os Longos Anos


Eu sempre me encanto com o modo de escrever de Bradbury. Suas palavras formam um balé de sensações. Não vou estragar a surpresa dos contos, mas para você ter uma ideia, O Verão do Foguete, conto que abre o livro, faz uma alusão poética (se é possível!) entre o calor desprendido pelo lançamento de um foguete que parte em direção à Marte com uma explosão nuclear. Lindo, acolhedor e mortal. 





Um conto que gosto muito é Usher II, uma homenagem ao talento de Edgar Allan Poe e uma de suas mais impressionantes obras, A Queda Da Casa De Usher. Uma história de terror que envolve várias menções aos mais famosos contos de Poe, desta vez em Marte. Neste conto temos livros sendo proibidos e queimados na Grande Fogueira que aconteceu na Terra, um vislumbre do que viria a ser seu romance mais conhecido, Fahrenheit 451. Uma preocupação constante de Bradbury com o rumo da cultura. 

Diverti-me muito reconhecendo O Enterro Prematuro, O Barril de Amontillado, Assassinatos da Rua Morgue, O Poço e o Pêndulo, O Baile da Morte Vermelha e, é claro, A Queda da Casa de Usher


– Vim para Marte fugindo de vocês, gente de Mente Limpa, mas vocês estão se assomando a cada dia, como moscas sobre sombras. Então vou lhe ensinar uma bela lição pelo que vocês fizeram com o senhor Poe na Terra. A partir deste dia, fiquem atentos. A Casa Usher está em pleno funcionamento!
(Usher II


Flutuando No Espaço mostrou que ninguém consegue segurar aqueles que finalmente resolvem romper os grilhões. Neste conto inovador temos negros de uma cidadezinha do sul dos Estados Unidos que decidem abandonar sua antiga vida cheia de miséria e preconceito para abraçar a esperança de uma vida melhor em Marte, longe de antiquados preceitos. A debandada dos negros é comparada a uma barragem que cedeu e cobriu as calçadas brancas preconceituosas. Uma história forte e perturbadora que realça a luta pela igualdade. 





Um personagem que me cativou foi o Capitão Wilder, da quarta expedição, que aparece em outros contos, assim como alguns tripulantes dessa expedição. Achei Wilder um homem íntegro, respeitoso e forte que não admite o desrespeito às antigas civilizações marcianas e que paga um preço para não interferir na política colonial em Marte. 


– Por mais que nos aproximemos de Marte, nunca o tocaremos. E ficaremos bravos com isso, e o senhor sabe o que vamos fazer? Vamos despedaçá-lo, arrancar sua pele e transformá-lo à nossa imagem e semelhança. 
– Não vamos destruir Marte – disse o capitão. – É grande e bom demais. 
– O senhor acha que não? Os homens da Terra têm talento para acabar com coisas grandes e belas.
(...E A Lua Continua Brilhando)
 


E, nas palavras da incrível Elis Regina: 🎵 “Alô, Alô Marciano. Aqui quem fala é da Terra. Pra variar, estamos em guerra”. 🎵 

Assista aos trailers das músicas e da série de TV de 1980:





Os terráqueos estão chegando para fazer um piquenique por aquelas bandas. Neste clássico da Ficção Científica, mais do que ir à Lua, o imaginário popular sempre desejou alcançar Marte e conhecer os esverdeados humanoides que habitam o planeta vermelho. Então, prepare-se para a viagem, pois a cada dia que passa o vermelho planetário assoma aos nossos olhos!  



FICHA TÉCNICA 

Título: As Crônicas Marcianas     
Título Original: The Martian Chronicles    
Autor: Ray Bradbury 
Apresentação: Jorge Luis Borges  
Ano: 2013 
Páginas: 294  
Editora: Biblioteca Azul  
Gênero: Contos de Ficção Científica    
Tradutor: Ana Ban   
  


AUTOR  



Ray Douglas Bradbury ou como era mais conhecido Ray Bradbury nasceu em Illinois (EUA) em 22 de agosto de 1920.  Por seu pai ser técnico em instalação de linhas telefônicas, ele e sua família se mudavam com muita frequência, até que em 1934, eles se fixaram em Los Angeles, Califórnia. 

Ray só concluiu os estudos até o segundo grau, mas não possuir uma formação acadêmica não o impediu de se tornar um dos maiores escritores de ficção científica. Além de escritor, ele também era ensaísta, poeta e roteirista. 

Aos 18 anos publicou seu primeiro conto em uma revista de ficção científica. Em 1947, ele se casa com Marguerite McClure e após publicar As Crônicas Marcianas, em 1950, ele passa a figurar entre os nomes mais importantes da ficção científica. Depois vieram várias obras suas, inclusive The Illustrated Man ou O Homem Ilustrado, em português, e sua obra-prima Fahrenheit 451, com a qual ganhou o Prêmio Hugo de FC e que mais tarde se tornou filme dirigido por François Truffaut. Fahrenheit 451 é uma das histórias consideradas precursoras do gênero distopia. 

Ray teve uma vida bem produtiva e publicou mais de 30 livros, 600 contos, vários poemas, ensaios e roteiros para animações. Durante toda sua carreira ele recebeu os prêmios mais importantes da ficção científica, os prêmios Nebula e Hugo, o prêmio National Medal of Arts (2004) e um prêmio dos diretores da National Book Foudation pelas suas contribuições para a literatura americana. 

Em 2003, sua esposa falece e em 2012, aos 91 anos, Ray Bradbury morre e a seu pedido sua lápide contém o epitáfio: Autor de Fahrenheit 451. 


Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss 



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