Percorrendo “Os Negros Anos-Luz”

Olá, Perdidos! Eu sempre achei que a vida fora da Terra poderia ter seguido qualquer caminho que não lembrasse em nada o percorrido pelo Homem. Sem precisar do sol, do oxigênio ou de água. Vida que desenvolvesse anatomia, cultura e comunicação de forma distinta da do terráqueo, contudo com inteligência. O primeiro contato na Literatura de Ficção Científica é um tema recorrente e abordado de diversas formas e pontos de vista. A fábula cósmica Os Negros Anos-Luz, de Brian Aldiss, mostra como seria o nosso primeiro contato com uma inteligência extraterrestre muito diferente. 





O ano é 2035 e o voo transponencial (ou salto no hiperespaço) já é uma realidade e, após menos de duas semanas de viagem espacial, um grupo de exploradores interestelares da Terra encontra uma estranha raça alienígena no planeta recém-descoberto B12 ou Clementina. Denominados como ASEX (Alienígenas Extraterrestres), eles são os Utods que, aparentemente, vivem mergulhados na lama e na imundice de seus excrementos. 

Os Utods são enormes e foram apelidados de rinomanos pela tripulação da nave. Mas, apesar da aparência, são seres gentis que possuem mentes capazes de desenvolver pensamentos filosóficos e de elaborar uma tecnologia mais sofisticada do que a humana. 

Nesse primeiro encontro vários Utods são mortos e dois sobreviventes são levados para a Terra, a fim de estabelecer alguma espécie de comunicação. “Pode uma viagem espacial ser encarada como prova a priori de inteligência superior?” 

O que se segue é um show de horrores em que a crueldade e a indiferença do ser humano para com os demais seres do Universo é baseada em sua própria aparência e comportamento, o que torna impossível qualquer oportunidade de contato com outras espécies diferentes. 




Estamos sozinhos no Universo? Muitas pessoas se perguntam que se existe vida lá fora por que ainda não estabelecemos nenhum tipo de comunicação. Bem... Uma das justificativas para explicar o fenômeno conhecido como Paradoxo de Fermi que se refere justamente a contradição entre a estimativa de civilizações alienígenas e a falta de contato com essas civilizações é de que somos primitivos demais ou de uma natureza muito diferente para estabelecer comunicação com uma espécie extraterrestre. Eu, particularmente, acho que eles não são nem um pouco bobos. 

Pois é. E enquanto eu lia, me lembrava de Solaris, livro de Stanislaw Lem, com seu insólito Oceano inteligente. Tão incompreensível para aquelas mentes quanto os Utods para os humanos de Aldiss. Para Lem “não é e nunca será possível qualquer ‘contato’ do homem com uma civilização que não seja antropoide ou humanoide”. E parece que Aldiss segue a mesma linha de pensamento. 


Confira a resenha: “Solaris” E Seu Oceano Misterioso 



Novos planetas sempre renovavam seu prazer pela vida; mas esse prazer tinha sido estragado naquela viagem – como sempre, estragado pelos outros. 


Numa atividade de rotina no novo planeta, a tripulação da nave Mariestopes (talvez um tributo a paleobotânica inglesa e ativista pela eugenia!) faz uma descoberta sem precedentes: Vida alienígena complexa! Por sua aparência e comportamento que fogem dos padrões higiênicos dos humanos são classificados erroneamente como animais, pois “a civilização é contada pela distância que o homem tem colocado entre ele próprio e seu excremento”. 

Com sua inteligência serena, os pacíficos, repulsivos e enormes Utods, considerados formas de vida inferiores, possuem um mecanismo de fala complexo, difícil de ser interpretado e que para os humanos não passam de meros assobios e grunhidos. Eles chafurdam relaxadamente em seus próprios excrementos, num ciclo de compartilhamento religioso com a natureza, uma atitude inconcebível e que não é alcançada por seus captores. Contudo, possuem uma característica muito proveitosa a ser pesquisada para propósitos militares aqui na Terra.  


– O que o senhor chama de gênero humano, Mr. Bucket, seriam criaturas civilizadas ou animais? Algum dia encontramos uma nova raça, sem que a tenhamos corrompido ou destruído? Lembre-se dos polinésios, dos guanches, dos índios da América, dos tasmanianos... 


Na história encaramos um ser humano arrogante e pretensioso que se considera a crème de la crème das espécies e que não respeita e sequer pretende compreender outra raça que destoa completamente de si. Para ele a inteligência e o significado de civilidade se encontram no reflexo de um espelho. Não percebe que este espelho está quebrado e se esconde atrás de suas rachaduras para intelectualizar guerras, como a do Brasil com a Grã-Bretanha deflagrada em 1999, que se desenvolvem em outro planeta do sistema solar além da órbita de Plutão chamado Charon, o Planeta Congelado. 

Sim, há uma guerra em andamento, mas ela é como um jogo (acho que sempre foi), cujos participantes aguardam sua vez na fila para entrarem em ação, mostrando que sua tendência bélica e destruidora prosperou e se domesticou. Enfim, agora a guerra na Terra acontece em outro planeta. Sem estragos por aqui. Quanta consciência! 





Afinal de contas o que é um ser inteligente? O que define essa inteligência? Somos guiados pelo instinto ou pela inteligência? São perguntas que permeiam toda a história e nos fazem pensar que apesar de alcançarmos as estrelas não conseguimos sair de fato da nossa caverna, nos tornando incapazes de reconhecer a imensidão do Universo e sua pluralidade. 

E aí fico pensando... Será que estamos fadados a seguir os mesmos passos dos antigos colonizadores que realizaram matanças por não entenderem seus anfitriões e por sua empáfia em se acharem especiais e superiores? Eram outros tempos e de mais a mais, mataram em nome de Deus, da Coroa e do Ouro, não necessariamente nessa ordem. Quero crer que de lá para cá mudamos, que podemos mudar e que vamos mudar, não é? E com tanta animosidade entre nós mesmos fica difícil acreditar que aceitaremos o estranho de fora. Mas... 


O homem confia demasiado em seu intelecto; o que precisamos é de um novo modo de sentir, de um mais respeitoso... 


Ao ler uma obra de Ficção Científica que vislumbra o futuro é interessante ver o alcance da imaginação do autor e o que, às portas de 2035, se tornou realidade ou não. Infelizmente, uma coisa que me chamou a atenção em Os Negros Anos-Luz foi o papel, ao meu ver, sexista, secundário e objetificado da mulher e isso me deixou incomodada. Ponto negativo. 

A história, que possui um certo cinismo, personagens estereotipados e humor ácido, foi publicada em 1964 e continua relevante em suas perguntas sobre a humanidade e sua natureza cruel e corruptiva num encontro inesperado com seres tão diferentes, mas que também viajam pelo espaço. No livro de Aldiss é triste ver a raça humana continuar batendo sempre na mesma tecla e não evoluir do modo como desejamos. Seguimos espalhando a morte e a nossa total falta de compreensão de outras espécies pelo Universo afora. 








FICHA TÉCNICA 

Título: Os Negros Anos-Luz    
Título Original: The Dark Light Years 
Autor: Brian Aldiss   
Ano: 1976 
Páginas: 148  
Editora: Cultrix 
Gênero: Ficção Científica   
Tradutor: Reynaldo Bairão    

AUTOR 



Brian Wilson Aldiss ou, simplesmente, Brian Aldiss nasceu em 18 de agosto de 1925, em Norfolk, Inglaterra. 

Elogiado por Tolkien e CS Lewis, ele tornou-se uma das vozes mais importantes na literatura de ficção científica da atualidade e escreveu seu primeiro romance enquanto trabalhava como livreiro em Oxford. Pouco depois, escreveu sua primeira obra de ficção científica e logo ganhou reconhecimento internacional. 

Sua principal influência foi HG Wells, um dos pioneiros da ficção científica. Aldiss foi vice-presidente da HG Wells Society. 

Dos mais de seus 80 livros, foi seu conto SuperToys Last All Summer Long (1969 – “Superbrinquedos Duram O Verão Todo”) que serviu de inspiração a Stanley Kubrick e Steven Spielberg para o roteiro do filme A.I. – Inteligência Artificial, de 2001. 

Adorado por suas técnicas literárias inovadoras, enredos evocativos e personagens irresistíveis foi nomeado Grande Mestre de Ficção Científica em 2000 pelos Escritores de Ficção Científica da América, além de ser introduzido no Hall da Fama da Ficção Científica em 2004. 

Ele recebeu dois Prêmios Hugo, um Prêmio Nebulosa e um Prêmio Memorial John W. Campbell de Melhor Romance de Ficção Científica, estabelecido em 1973 por Harry Harrison e Aldiss "como uma forma de continuar seus esforços para encorajar os escritores a produzirem seus melhores trabalhos possíveis”. 

Brian Aldiss morreu em 19 de agosto de 2017, em Oxford, Inglaterra, um dia após comemorar seu 92º aniversário com a família e os amigos mais próximos. 




Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss




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