Olá, Perdidos! O cinema e a literatura nos proporcionam vislumbres de um futuro onde autômatos nos ajudam ou nos controlam. Entre distopias e utopias temos como exemplo Hal, Sonny, Gort, Ash, T-800, Ava, Marvin, Roy Batty, Wall-E e, é claro, os icônicos e mais leais droides da Galáxia, C3PO e R2D2. Todos eles são Máquinas pensantes, que, para o bem ou para o mal, sofrem conosco ou nos fazem sofrer. E em Eu, Robô, obra de Isaac Asimov, conhecemos um pouco mais esse mundo fantasioso e cheio de robôs pelo qual o Bom Doutor ansiava.
– Mas é o óbvio que é tão difícil de ver a maior parte do tempo. As pessoas dizem: “Está na sua cara”. Mas que partes da sua cara você consegue ver, a não ser que alguém lhe mostre um espelho?
O livro começa com a Dra. Susan Calvin, psicóloga roboticista da U.S. Robots and Mechanical Men, Inc, cuja função é estudar e entender o cérebro positrônico dos robôs, sendo entrevistada por um repórter da Imprensa Interplanetária que “chega a todos os cantos do Sistema Solar”.
Prestes a se aposentar como a primeira grande profissional dessa nova ciência, ela foi testemunha do avanço dos robôs e da humanidade por cinquenta anos, estando presente desde o primeiro autômato sem fala até os modelos mais avançados e superinteligentes.
Durante essa entrevista, a Dra. Calvin relembra várias situações que envolveram certas anomalias dos robôs que, apesar de imprescindíveis em muitos trabalhos, são proibidos de serem usados no planeta Terra. Narrando os fatos e às vezes sendo protagonista deles, cada lembrança é um conto.
– Eu acompanhei tudo desde o início, quando os pobres robôs não podiam falar, até o fim, quando eles se colocam entre a humanidade e a destruição. Não verei mais nada. Minha vida terminou. Você verá o que está por vir.
Eu, Robô reúne os primeiros textos de Asimov sobre robôs e que foram publicados entre os anos 1940 e 1950. Ao todo são 9 contos às voltas com dificuldades ou situações inusitadas protagonizadas pelos robôs amigos e, às vezes, problemáticos. Um verdadeiro marco na história da ficção científica.
Somos levados desde a época de Robbie, um robô-babá incapaz de falar, discriminado pelas pessoas até à proibição de autômatos no planeta entre 2003 e 2007; seguindo por robôs falantes e mais capacitados, como Speedy, Cutie, Dave, Herbie, Nestor e Cérebro; culminando com um suposto androide liderando o globo como o primeiro Coordenador Mundial e sendo ajudado por quatro Máquinas que administram a economia mundial. Provas nunca foram obtidas!
– De que adianta dizerem isso? Vocês não acham que eu consigo ver além da camada superficial de suas mentes? Bem no fundo, vocês não querem que eu diga. Sou uma máquina, a quem a imitação da vida foi dada apenas por conta da interação positrônica no meu cérebro... que é um dispositivo criado pelo homem. Não é possível vocês perderem prestígio para mim sem se magoarem. Isso está profundamente entranhado em suas mentes e não se apagará.
A leitura é muito agradável, flui de tal maneira que devorei o livro em pouco tempo. Sua escrita é muito fácil de entender e de se envolver. Os contos são engraçados, apaixonantes e, algumas vezes, angustiantes. Asimov nos apresenta o lado otimista de uma sociedade robotizada, onde as Três Leis que regem a Robótica seriam, na verdade, as leis que todo bom ser humano deveria seguir. Afinal “se parar para pensar sobre isso, as três Regras da Robótica são os princípios essenciais que orientam muitos dos sistemas éticos do mundo". É... meu Bom Doutor... só mesmo robôs para seguirem tais regras à risca e, às vezes, nem eles!
As Três Leis Da Robótica criadas por Asimov para manter a ordem entre robôs e humanos são:
- 1ª Lei – Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano venha a ser ferido.
- 2ª Lei – Um robô deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.
- 3ª Lei – Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou com a Segunda Lei.
– No aspecto físico e, até certo ponto, no aspecto mental, um robô... qualquer robô é superior aos seres humanos. O que o torna servil então? Apenas a Primeira Lei! Bem, sem ela, a primeira ordem que você tentasse dar a um robô resultaria na sua morte.
Os contos do livro giram sempre em torno dessas diretrizes e quando problemas acontecem é nelas que estão as respostas. Os robôs não são tão incapazes de cometer erros, seja por interpretações distorcidas ou por uma ordem seguida literalmente, as Máquinas falham. E quando há problemas, a Dra. Susan Calvin atua como psicóloga dos robôs e a dupla de especialistas “quebra-galho e pau pra toda obra”, Gregory Powell e Michael Donovan, encara de frente as anomalias de forma inventiva e sagaz.
Susan é sem dúvida uma mulher extremamente forte e profissional que com sua calma, intelecto e lógica reverteu vários problemas graves. Mas, a dupla dinâmica, Powell e Donovan, me conquistou com suas discussões, sarcasmo, chiliques e inteligência, é claro. Sendo enviados para onde nenhum homem jamais queria estar, eles conseguiram resolver as maiores “bananosas” causadas pelos robôs. Imperdível!
– Então nós trabalhamos com novos modelos de robô. É o nosso trabalho, concordo. Mas me responda uma pergunta. Por que... por que sempre há algo de errado com eles?
– Porque – respondeu Powell – nós somos amaldiçoados. Vamos!
O livro fala de robôs, é claro, mas é muito mais do que isso. Fala de ética, a relação entre ser humano e tecnologia, fanatismo religioso, intolerância, lógica e evolução (ou não) da humanidade, livre-arbítrio e se devemos impor limites às máquinas as quais somos cada vez mais dependentes (e como!). É inicialmente uma crítica ao ser humano. E soa muito atual!
Um fato que eu achei interessante é a expectativa do futuro desenhado por Asimov (e que para nós já não é um futuro tão distante assim). O mundo passou pela última Guerra (será?), o que destruiu o sentimento nacionalista e unificou os países em Regiões. Robôs com cérebros positrônicos foram criados para ajudar o ser humano em todas as áreas fora do planeta, o espaço foi desbravado e viagens usando a dobra espacial se tornaram uma realidade. Um sonho sonhado em letras cheias de esperança para nossa evolução.
É claro que nem tudo são doces. Há aqueles que tentam arrancá-los das bocas das crianças. Nem todos confiam nos robôs e os veem como uma ameaça em potencial, pronta para explodir a qualquer momento e a Sociedade pela Humanidade é uma organização que tenta minar a boa-fé que os humanos têm nas Máquinas. Mas, a Inteligência Artificial positrônica está muito além e, como uma velha cartomante que prevê o futuro nas cartas, ela reposiciona os jogadores e suprime a ameaça. Ameaça para os robôs ou para a humanidade? É bom pensarmos nisso!
– Eu existo porque penso...
– Por Júpiter, um Descartes robótico! – resmungou Powell.
FICHA TÉCNICA
Título: Eu, Robô
Título Original: I, Robot
Autor: Isaac Asimov
Ano: 2014
Páginas: 320
Editora: Aleph
Gênero: Ficção Científica
Tradutor: Aline Storto Pereira
AUTOR
Isaac Asimov nasceu Isaak Yudovich Ozimov, em Petrovich, na antiga União Soviética, atual Rússia, no dia 2 de janeiro de 1920. Quando tinha três anos de idade, sua família emigrou para Nova York, nos Estados Unidos. Como sua família falava com ele sempre em ídiche e inglês, Asimov nunca aprendeu russo. Em 1928, naturalizou-se norte-americano.
Morou por quase toda a vida no Brooklyn, em Nova York, e foi lá que aos cinco anos de idade aprendeu a ler sozinho. Sua família tinha uma loja de doces onde vendiam, também, revistas pulp fiction (revistas baratas feitas com papel de polpa) de ficção científica e Asimov começou a lê-las. Aos onze anos começou a escrever suas próprias histórias e aos dezenove anos passou a vender suas histórias para revistas interessadas em publicar ficção científica, gênero do qual se tornou grande fã.
Em 1941, aos 21 anos de idade, ele publicou seu conto O Cair da Noite (Nightfall) que foi considerado o melhor conto de ficção científica de todos os tempos e que impulsionou sua carreira de escritor.
Esse foi o início do Bom Doutor, como era carinhosamente chamado pelos fãs. Asimov escreveu e editou mais de 500 livros, entre os quais a série Fundação e as histórias de robôs. Afinal, as famosas 3 Leis da Robótica foram criadas por ele no livro Eu, Robô. Duas de suas obras de ficção científica – O Homem Bicentenário e Eu, Robô – ficaram mundialmente famosas, principalmente após terem ido parar nos cinemas.
Em 6 de abril de 1992, na cidade de Nova York, Asimov morreu devido a falhas cardíaca e renal, causadas por complicações provocadas pelo vírus da AIDS, doença que contraiu após uma transfusão de sangue no fim de 1983 quando fez uma cirurgia de ponte de safena. Isaac Asimov foi cremado.
Até a próxima!
Beijos mil! :-)
Criss
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