Olá, Perdidos! Nunca li nenhuma obra de um autor ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. Mas isso mudou com O Conto Da Ilha Desconhecida, de José Saramago, escritor português ganhador do Nobel de 1998.
Certo dia um homem surge às portas do palácio do rei e exige falar com ele pessoalmente. Por ser um pedido considerado absurdo, o rei se nega a fazer tal concessão. Mas, o homem não desiste e se deita aos pés da porta até que o soberano mude de ideia e ele consiga o que quer.
Sendo vencido pelo atrevimento do homem, o rei decide falar com o plebeu que lhe pede um barco para viajar até uma ilha desconhecida. O soberano fica sem entender, pois, costumam pedir títulos, condecorações ou dinheiro, mas um barco? Depois de argumentar com seu súdito sobre sua solicitação e sobre a existência ou não de uma ilha desconhecida, lhe concede o pedido, mais por receio de uma revolta no reino do que por benevolência.
Então o homem segue para as docas para falar com o capitão do porto e lhe apresentar o cartão do rei com ordens específicas para lhe entregar um barco em boas condições. Uma caravela antiga e bem experiente lhe é ofertada.
A partir daí começam os preparativos para reparar o barco, conseguir alimentos e arranjar uma tripulação que se disponha a ir com ele desbravar os mares até encontrar sua ilha desconhecida.
Não ignoro que todas as ilhas, mesmo as conhecidas, são desconhecidas enquanto não desembarcamos nelas.
O conto é curto e os diálogos se misturam ao texto, assim como as descrições das cenas, abusando das vírgulas e economizando nos pontos finais. A impressão que dá é que o próprio Saramago está nos contando uma história que ouviu de um marinheiro, tamanha a agilidade dele na escrita.
Eu li em ebook, numa edição especial (pena que o Kindle não mostra cores) com várias ilustrações assinadas por Juergen Cannes, sendo a capa de Alceu Chiesorin Nunes. Devo dizer que foi uma experiência maravilhosa, uma leitura muito rápida e prazerosa e, acima de tudo, reflexiva.
Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar.
A história é uma metáfora do ser humano, com seus sonhos e seus objetivos, o que é capaz de fazer por eles e suas frustrações e o que faz quando críticas ou obstáculos surgem para desviá-lo de sua meta. Mostra sua inquietude em relação ao cotidiano e banal, sua persistência em manter-se determinado e sua resistência às adversidades para concretizar seu desejo. Revelando que para seguirmos em frente precisamos de sonhos.
Para isso é preciso sair de sua área de conforto e, movido pela tentação do inexplorado, aventurar-se e ter o prazer de chegar a um lugar onde jamais esteve. O novo é sempre assustador e é essencial ter ousadia para enfrentar o desconhecido.
Desbravador e corajoso, mesmo sem entender nada de barcos e não medindo esforços, se lançará ao mar em busca de sua ilha desconhecida, indo além das fronteiras e realizando descobertas. Assim como fizeram os primeiros navegadores portugueses em suas caravelas. Quem melhor para falar disso do que um português?
Acima de tudo, trata-se de uma busca muito mais importante e profunda. É a busca pelo autoconhecimento “que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós” e o motivo de sua própria existência. São as inquietações do ser humano que vive à procura do que julga inalcançável e além do horizonte.
Quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és.
O conto também é uma crítica ao governo, deste reinado e de tantos outros, que atende aos pedidos das pessoas à medida que seus próprios interesses são recompensados. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Hahahaha!
Além é claro, da falida máquina burocrática que passa de um para outro a responsabilidade de avaliar e realizar o pedido ou não feito pelos súditos.
Neste castelo de um rei sem nome, cujo reinado também não conhecemos o nome, existem várias portas e seu mecanismo funciona da seguinte forma:
■A porta dos obséquios, onde o rei passa a maior parte do dia e “entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele”. Os agrados são recebidos pessoalmente, é claro;
■A porta das petições, onde o rei quase nunca aparece e a qual “fingia-se desentendido”. É nesta porta onde são feitos os pedidos, os quais são respondidos depois de um processo burocrático cansativo que após passar por vários secretários e ajudantes chega à menos qualificada para a tarefa: a mulher da limpeza, única a atender pessoalmente as pessoas e a “que despachava sim ou não conforme estivesse de maré”;
■A porta das decisões, essa porta provavelmente é desconhecida pelo monarca e pelos demais, pois “é raro ser usada, mas quando o é, é”. Nela, decisões (!) são, finalmente, tomadas e ao atravessá-la não há volta.
Estás a rir-te de mim, Nunca me riria de quem me fez sair pela porta das decisões, Desculpa-me, E não tornarei a passar por ela, suceda o que suceder.
Seremos todos nós ilhas desconhecidas? Ignorantes de nossa verdadeira natureza, sonhos e anseios? Segundo Carl Jung “dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos”. Ao navegarmos por águas tortuosas e nos distanciarmos de nosso Eu é que encontraremos a nós mesmos e nossa Ilha Não-Mais-Desconhecida. Será?
Incrível! Um conto tão pequeno com tantas possibilidades para cada um de nós. Há muitas ilhas a serem descobertas por aí.
FICHA TÉCNICA
Título: O Conto Da Ilha Desconhecida
Título Original: O Conto Da Ilha Desconhecida
Autor: José Saramago
Ano: 2016 (ebook)
Páginas: 64
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Conto / Ficção
AUTOR
José de Sousa Saramago ou José Saramago nasceu em Azinhaga de Ribatejo, Golegã, Distrito de Santarém, em Portugal, no dia 16 de novembro de 1922. Filho de camponeses, com dois anos de idade mudou-se com a família para Lisboa.
Foi um importante escritor português e estreou na literatura com o romance “Terra do Pecado” (1947). O autor se consagrou ao receber o Prêmio Cidade de Lisboa com “Levantando do Chão” (1980) que se tornou Best-Seller Internacional.
Destacou-se como romancista, cronista, teatrólogo, poeta e contista. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1998 e o Prêmio Camões de 1995, o prêmio literário mais importante da língua portuguesa, entre outros.
José Saramago faleceu aos 87 anos, vítima de leucemia, em Tias, nas Ilhas Canárias, Espanha, no dia 18 de junho de 2010. Suas cinzas foram depositadas aos pés de uma oliveira, em Lisboa, em 18 de junho de 2011.
José de Sousa Saramago ou José Saramago nasceu em Azinhaga de Ribatejo, Golegã, Distrito de Santarém, em Portugal, no dia 16 de novembro de 1922. Filho de camponeses, com dois anos de idade mudou-se com a família para Lisboa.
Foi um importante escritor português e estreou na literatura com o romance “Terra do Pecado” (1947). O autor se consagrou ao receber o Prêmio Cidade de Lisboa com “Levantando do Chão” (1980) que se tornou Best-Seller Internacional.
Destacou-se como romancista, cronista, teatrólogo, poeta e contista. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1998 e o Prêmio Camões de 1995, o prêmio literário mais importante da língua portuguesa, entre outros.
José Saramago faleceu aos 87 anos, vítima de leucemia, em Tias, nas Ilhas Canárias, Espanha, no dia 18 de junho de 2010. Suas cinzas foram depositadas aos pés de uma oliveira, em Lisboa, em 18 de junho de 2011.
Até a próxima!
Beijos mil! :-)
Criss
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