Olá, Perdidos! Tenho certeza que quando um de vocês escuta falar em Psicose, imediatamente, vem à mente a famosa cena do banheiro, com uma velha senhora esfaqueando uma bela moça ensaboada que, em seu derradeiro momento, se segura na cortina do box e pouco depois cai, morta. Isso tudo acompanhado da famosa trilha sonora que só aumenta a tensão e o terror da cena. Imitada, satirizada, reproduzida, citada e reverenciada no mundo inteiro, esta cena é um dos momentos mais marcantes do cinema de terror. Aplausos para o diretor Alfred Hitchock, o mestre do suspense, que criou e consolidou um novo tipo de horror nas telonas. Aplausos também para Robert Bloch, autor do livro Psicose que foi a inspiração para o filme. E é de uma edição dos anos 60 (1961) transformada em ebook que vamos falar.
Logo de cara somos apresentados a Norman Bates que se entretém lendo um livro na sala de sua casa, em um fim de tarde chuvoso. Norman é um homem de quarenta anos que vive com sua Mãe doente e autoritária, e sua vida está totalmente ligada à dela. Solteiro e sem nunca ter tido nenhum tipo de relacionamento, ele se dedica exclusivamente ao Motel da família que, devido a uma nova estrada mais moderna e mais rápida que leva à cidade, está sofrendo com a perda de clientes. Então, Norman tem como distração a taxidermia, ou seja, o embalsamamento de animais, além de realizar as vontades de sua mãe superprotetora.
Sua vidinha monótona vai muito bem até que do nada surge Mary, uma forasteira que, por causa da chuva pesada, por engano, pega a estrada errada e vai parar no Motel Bates, onde decide alugar um quarto para passar a noite, usando um nome falso – Jane Wilson. Sem perceber, Mary acaba mexendo com os pensamentos e os desejos de Norman que a espiona no banheiro através de um buraco na parede de seu escritório.
Mary Crane era secretária no escritório do Sr. Lowery, quando o milionário Tommy Cassidy jogou em sua mesa a quantia de 40 mil dólares, referentes à compra de uma casa para sua filha como presente de casamento. Desiludida com a vida e pensando em saldar as dívidas de seu amado, Sam Loomis, a quem conhecera em um cruzeiro presenteado por sua irmã Lila, ela dá um desfalque em seu chefe. Em seus planos, depois de inventar uma desculpa para que Sam aceitasse o dinheiro, os dois viveriam felizes e despreocupados.
Contudo o destino não sorriu para ela que é morta violentamente a facadas no box do chuveiro em seu quarto no Motel Bates. Eis a icônica cena do chuveiro interpretada e imortalizada no filme por Janet Leigh.
Acordando de seu pequeno porre, Norman percebe que há algo errado e quando chega no quarto de Mary, vê um espetáculo hediondo e sangue espalhado no banheiro, e deduz que sua Mãe, enciumada, matou a moça. Sem pensar duas vezes, ele pega o corpo e seus pertences, os coloca no porta-malas do carro e se desfaz de tudo em um túmulo de lama no fundo do pântano. Depois, metodicamente, ele limpa o banheiro e o quarto para eliminar qualquer evidência de que “Jane Wilson” o tivesse usado. Ele fez tudo para proteger sua Mãe, uma senhora de idade e doente. Ele não podia deixar que a prendessem.
Não importava o que ela fizera: o lugar dela era ali, ao lado dele. Talvez fosse mesmo louca, e assassina – mas era tudo para ele. Tudo quanto desejava. Tudo de que necessitava.
A seguir temos Lila, a irmã de Mary, Sam e o detetive Milton Arbogast procurando pistas para localizar o dinheiro e saber o que aconteceu com Mary que simplesmente desapareceu e nunca chegou a procurar seu noivo. A impulsividade de Lila entra em conflito com a morosidade da lei da pacata cidade que não se dá por convencida de que algo de mal tenha acontecido com Mary. Mesmo quando Arbogast também desaparece e ela desconfia de Norman, suspeito descartado pelo xerife local que o considera um mosca-morta, incapaz de fazer mal a alguém.
Durante toda a leitura, Robert Bloch nos deixa envoltos em uma névoa de dúvidas. Será que foi a Mãe que matou? Será que foi o Norman? Voltas e reviravoltas acontecem e nossa percepção é totalmente manipulada e desviada para o desfecho espantoso, onde todas as explicações são dadas, mas várias dúvidas continuam a vagar no ar, as quais nunca descobriremos a verdade.
A morte de Mary, a protagonista, quase no início da trama não estraga em hipótese alguma o desenrolar da história. Muito pelo contrário, é o gatilho para a construção de uma narrativa brilhante que revolucionou o desenvolvimento do suspense.
Norman Bates é diagnosticado como um psicopata com transtorno dissociativo que gerou três personalidades, as quais ele tinha que administrar:
• Norman criança que precisava da Mãe e não queria que ninguém ficasse entre eles;
• Norma, a Mãe, que podia matar com total liberdade para preservar seu filho e mantê-lo ao seu lado;
• Norman adulto, senhor de si, responsável pelo gerenciamento do Motel e por ocultar do mundo as demais entidades, racionalizando sua condição.
Segundo o Dr. Steiner, médico que assumiu o caso de Norman no Manicômio Estadual, o paciente tinha a chamada “trindade maldita”, ou seja, as três identidades que ele desenvolveu não eram distintas e cada uma tinha componentes da outra. Viviam simultaneamente e sem problemas até que Mary apareceu e algo despertou nele.
Ele sabia o que era estar exausto e desamparado, sem ter a quem recorrer, ninguém que compreendesse.
Anos atrás quando eram apenas Norman e sua Mãe, um outro homem, Joe Considine, apareceu em suas vidas. Joe aconselhou Norma a construir o Motel e os dois planejavam se casar. O que para Norman era uma situação intolerável e imperdoável por parte de sua Mãe e por isso ele assassinou os dois, encenando uma espécie de pacto de morte em que o casal teria tomado veneno.
Contudo, o sofrimento por ter cometido matricídio, um ato sem volta, e percebendo que não podia suportar viver sem sua Mãe, acabou causando um trauma enorme em Norman que a desenterrou e a preparou com seus conhecimentos de taxidermia para mantê-la sempre perto dele. Daí, uma parte de sua personalidade se transformou e, como consolo, ele se transfigurou em sua Mãe. Ele era a voz e a vontade de Norma, dando vida a seus pensamentos e ações.
Norma surgia sempre durante uma crise e se transformava na personalidade principal assumindo o controle toda vez que Norman bebia demais e ficava “desacordado”. Na cabeça dele, ela era a verdadeira assassina.
O amor de Norma por seu filho era sufocante, quase incestuoso. Fato ou hipótese, isto nunca saberemos. Mas seus problemas começaram na infância, com certeza. Então... Até que ponto sua Mãe influenciou o comportamento psicótico de Norman? Já era uma predisposição ou a sua superproteção e moralismo imoderado transformaram ele em um assassino?
Ela viera protegê-lo das cadelas. Sim era isso: viera protegê-lo. Sempre que eu precisava, mamãe aparecia.
A fixação de Norman por sua Mãe, o fez se vestir como ela, muito antes dela morrer. Seu lado transvestido se identificava intensamente com sua Mãe, desejando não apenas ser como ela, mas SER ela, projetando um futuro em que os dois se tornassem um. E no fim, a personalidade dominante foi a única que sobreviveu: Norma, a Mãe, a assassina impiedosa.
"A melhor amiga de um garoto é sua mãe." |
Inspiração
Nem sempre a vida imita a arte, às vezes, a arte é que imita a vida. Robert Bloch se inspirou no assassino em série Ed Gein para criar seu Norman Bates.
Ed Gein nasceu, viveu e morreu em Wisconsin, a uns 65Km de distância de Bloch. O assassino tinha o hábito de exumar corpos recém enterrados no cemitério local e criar vários objetos com seus ossos e pele. Também costumava guardar pedaços de suas vítimas. Ele foi condenado pelo homicídio de duas mulheres e suspeito do desaparecimento de outras cinco.
Não importa o que se faça, a verdade é que não se pode fugir de qualquer coisa que se faça.
Sua casa era um verdadeiro show de horrores e a lista de artefatos bizarros encontrados pela polícia é enorme, desde pele humana cobrindo os assentos das cadeiras, tigelas feitas de crânios humanos, um cinto feito de mamilos humanos femininos até um par de lábios no cordão da cortina da janela. Todos esses e outros itens foram fotografados e depois destruídos.
Assim como Norman, Ed era solteiro, tímido, estranho e recluso, vivendo na área rural de sua cidade com sua mãe, Augusta Gein, por quem era obcecado. Augusta era uma mulher controladora e impedia Ed de se relacionar com as outras crianças. Ela também era uma luterana fervorosa e pregava a imoralidade do mundo, o mal demoníaco da bebida e que todas as mulheres eram prostitutas e filhas do diabo. Igualzinho a mãe de Norman.
Na década de 50, o Assassino de Wisconsin fez parte das manchetes dos jornais, sem os detalhes macabros, que eram violentos demais para a época. Mas, foi a partir dessas informações que Robert Bloch começou a esboçar seu famoso psicopata.
Cinema
Alfred Hitchcock adquiriu os direitos de filmagem do livro Psicose pelo valor de 11 mil dólares. Diz a lenda, que o diretor comprou todas as cópias do livro disponíveis ou as que conseguiu encontrar no mercado para que ninguém soubesse o final da história, e, assim, comprometesse o gran finale impactante de seu filme.
O filme é maravilhoso, cheio de tomadas de cenas diferentes, numa tensão crescente e com uma trilha sonora de arrepiar. Tanto a cena do banheiro quanto a trilha sonora ficaram imortalizadas.
Não há quem não seja meio louco de vez em quando...
Psicose, de 1960 e filmado em preto e branco, custou 800 mil dólares e arrecadou 60 milhões de dólares no mundo inteiro. Nada mal, hein!
Psicose é um terror psicológico em que a percepção da realidade do personagem nos provoca uma sensação de medo e dúvida constante. A relação tão conturbada e próxima, quase incestuosa, de Norman com sua Mãe se reflete em sua mente perturbada e desconectada do verdadeiro Eu. O medo surge devido às atitudes do personagem que expõe sua insanidade, sem perceber que é ele quem provoca o verdadeiro terror.
Leitura obrigatória para quem gosta de ler sobre serial killers e personagens perturbados. Quer uma dica? Leia o livro primeiro e depois assista ao filme, um clássico atemporal do cinema de terror e do suspense. Divirta-se!
FICHA TÉCNICA
Título: Psicose
Título Original: Psycho
Autor: Robert Bloch
Ano: 1961
Páginas: 159
Editora: Bestseller
Gênero: Suspense / Terror
Tradutor: Olivia Krähenbühl
AUTOR
Robert Albert Bloch ou Robert Bloch nasceu em Chicago, Estados Unidos, em 5 de abril de 1917 e quando ainda era criança ficou fascinado com o cinema de terror.
Tornou-se um conceituado escritor e roteirista conhecido como um autor muito produtivo em vários gêneros: crime com abordagem psicológica, horror, fantasia e ficção científica. Seu mentor era nada mais nada menos do que HP Lovecraft, escritor americano de horror e mistério, o primeiro a incentivar seu talento. Bloch escreveu centenas de contos e mais de 30 romances.
Por diversas vezes foi agraciado, tendo recebido um Prêmio Hugo, um Bram Stoker Award e um World Fantasy Award, entre outros. De 1970 a 1971 foi presidente da Mistery Writers of America e membro da Science Fiction and Fantasy Writers of America.
Seu romance de horror mais conhecido é Psicose (1959), obra adaptada para o cinema pelo aclamado cineasta Alfred Hitchcock, a partir de um argumento escrito pelo próprio escritor.
Em 23 de setembro de 1994, aos 77 anos e após uma carreira de escritor de 60 anos, Robert Bloch, faleceu em decorrência de um câncer. Bloch foi cremado e suas cinzas enterradas num columbário no Westwood Village Memorial Park, em Los Angeles.
Até a próxima!
Beijos mil! :-)
Criss
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