[OUTUBRO ATERRORIZANTE]: A Melodia Sombria Do “Piano Vermelho”


Perdidas e Perdidos. Em Piano Vermelho, Josh Malerman escreveu uma carta de amor à música. Isso mesmo. Ele reverencia a música e mostra toda sua paixão por ela. A música produz um efeito extraordinário e diferente em cada um de nós. Afinal, não é a música que amansa as feras? E nós somos essas feras. Tal tributo não é nem um pouco inusitado quando sabemos que o autor também é músico e possui uma banda de rock chamada The High Strung, na qual ele é cantor e compositor. 



Philip Tonka é pianista da banda The Danes e assim como seus companheiros de banda todos são ex-militares que estiveram na Segunda Guerra Mundial. Tudo bem que eram integrantes da banda marcial do exército durante a guerra, mas eram militares. Depois da guerra, a vida de todos eles mudou quando alcançaram o sucesso com o hit Be Here.  

E como nem tudo na vida são flores e glória, 12 anos após servirem como soldados (uma vez militar, sempre militar!), e principalmente por serem músicos, os Danes são abordados por Jonathan Mull, um funcionário misterioso do governo, e persuadidos a fazerem uma expedição ao Deserto do Namibe, na África, a fim de descobrirem o local exato onde se encontra o que eles (militares) chamam de Som. Ora, nada melhor do que músicos para compreenderem e localizarem um som, seja ele qual for. Em troca receberão a bagatela de cem mil dólares para cada um ao final da missão. Venhamos e convenhamos, em 1957 era uma quantia significativa. Até mesmo hoje é significativa, imagina naquela época! A recompensa mesclada a possível aventura que os transformariam em heróis da nação faz eles aceitarem a missão, mesmo correndo o risco de morte pelo próprio Som

− Eu não faria isso se fosse você. 

Ouvir o Som é doloroso e provoca reações adversas como vômito, náusea, vertigem, convulsão, perturbação da consciência e delírio, só para início de conversa. Ele carrega em suas ondas não só um enorme poder de destruição, mas também um poder apaziguador, exposto ao desativar ogivas nucleares e neutralizar armas de fogo. Nada mais natural o Governo pensar que se trata de uma arma misteriosa e muito poderosa. Em tempos de bomba nuclear é um pensamento a ser considerado. 

Não sei. Não entendo. Não é um som. É um sentimento. 

Como um tipo de som pode provocar tais reações? Como consegue inutilizar armamentos? O que há por trás dele? Quem criou este som? O que pretende? É uma arma? Estas são perguntas que precisam de respostas e rápido. Principalmente o governo que o quer para si. 

Mas, algo dá errado e Philip retorna da expedição sem seus companheiros. Retorna desfigurado e com todos os ossos de seu corpo triturados. Um verdadeiro mistério. O mais inacreditável para todos é que ele ainda esteja vivo. 

Lixo tóxico. 
Sílabas sombrias sob um sol abrasador. Uma frase assustadora do novo mundo, um medo do novo mundo. Imagens de deformidades, peixes nadando de lado, a natureza virada do avesso. 
Philip sente o estômago se revirar. 

A primeira parte do livro chama-se e tem capítulos com presente e passado intercalados. Há os capítulos com os acontecimentos no Hospital Macy Mercy, onde Philip está se recuperando após a missão ao deserto em busca do Som. Enfrentando e temendo não só os fantasmas e os sussurros dos acordes que ainda o perseguem, mas também o tormento provocado por seu médico. E há os capítulos com Philip e seus amigos da banda The Danes, além de Jonathan Stein (fotógrafo), Gordon Greer (historiador) e Billy Lovejoy (ex-general e atual sargento e líder do grupo) em busca do Som, aventurando-se no deserto africano. 

Mi, sol, si, ré, fá (Meu sol se refaz). 
Fá, lá, dó, mi (Fala dormindo). 
Um exercício de memorização termina, outro começa. 
Assim como a guerra termina, a vida começa... em casa. 

A segunda parte do livro chama-se Meu Sol Se Refaz e trata da missão particular de Philip que, parcialmente recuperado, volta ao deserto, acompanhado de sua mais nova aliada, Ellen, enfermeira do hospital em que está se tratando e que encontra, através de Philip, uma oportunidade de se redimir por um episódio em seu passado. 

Desta vez ele está mais forte e mais confiante em si mesmo, pois sabe o que lhe espera, e está disposto a encarar o Som e seu maldito Piano Vermelho



................................... 

Este é o segundo livro de Josh Malerman. O seu livro de estreia foi o maravilhoso (pelo menos para mim) Caixa de Pássaros. Igualar ou superar o primogênito é difícil, mas Josh tentou e criou uma história cheia de suspense, mistério e especulações. 

O autor joga com nossa imaginação e nos lança de um lado para outro na trama. Ficamos entre o sobrenatural, o natural e o insano. Elaboramos mil teorias, cada uma mais sinistra que a outra e mais maluca, também. Mas assim é Josh Malerman. Ele mantém coerência em sua obra até o final, preservando o sombrio, o enigmático, o inexplicável. Talvez essa seja sua marca: deixar que o leitor reflita e chegue a uma conclusão, criando um final sui generis. E eu gosto! 


Sobre Teorias Musicais 

Piano Vermelho é uma homenagem não só à música, mas ao poder do Som primitivo e remanescente da Criação. A música está lá com sua dualidade criadora e destruidora. Talvez seja a música universal que rege os planetas, na escala musical que representa o Cosmos e os seres vivos, pois somos um elemento, mesmo que pequeno, neste imenso Universo. Uma música inaudível (não neste caso!) e extremamente poderosa que está sempre presente. Acho que surtei! Hahahahahaha! 

Rangido... a escada atrás dele... as sombras e uma cortina se balançando mais atrás. Um monstro, talvez, algo terrível atrás da cortina, algo despertado pela música, pela alma e pelo espírito que o garoto estava colocando naquilo. Mas Philip não virava para trás, ainda não, ainda não, não até chegar lá, tocar aquele lugar que parecia uma piada, uma revelação e o futuro, tudo enrolado em uma coisa só. 
Criação. 



Acredito que o autor quisesse dar mais ênfase ao Som e ao mistério que o circunda do que aos personagens que não são muito desenvolvidos. E, para mim, o tipo mais interessante e que deu mais vida e reforçou o tom vermelho da história foi Ellen, enfermeira do Hospital Macy Mercy. Ela é uma mulher inteligente, cativante, corajosa e sofrida que convive com um drama familiar e se comove com a trágica situação de Philip e decide salvar seu paciente. Destemida, né?  

Ela atravessa a unidade, tomada de emoções conflitantes. A discussão, o medo, a tristeza. E a vitória, quase esquecida, por ele voltar a se mexer. 

Josh Malerman é um manipulador de emoções. É exatamente isso que ele faz no decorrer da narrativa, ele manipula o leitor oscilando entre o passado e o presente porque para ele o mais importante é a jornada que o leitor faz através das palavras e das sensações perturbadoras provocadas pela leitura e não o seu destino. 

E, apesar de seu Piano Vermelho ter algumas notas desafinadas e algumas teclas faltando na narrativa, conseguiu construir uma história intrigante que como muitas do gênero têm um final estranho e, até mesmo, decepcionante. O desenlace nunca é como esperamos, nunca temos as respostas para as nossas perguntas e o enigma nunca se resolve ou termina quando chegamos ao fim. Coisas do terror, seja ele psicológico ou não. 




O que eu gostei no autor é que até agora, Josh mostrou que apesar dos percalços é possível ter esperança e que pode haver um quase final feliz, seja ele temporário ou terrivelmente assustador. 


FICHA TÉCNICA 

Título: Piano Vermelho   
Título Original: Black Mad Wheel   
Autor: Josh Malerman  
Ano: 2017 
Páginas: 320  
Editora: Intrínseca 
Gênero: Thriller de Suspense e Terror 
Tradutor: Alexandre Raposo  

AUTOR  

Josh Malerman é um escritor e compositor americano. Além de escrever histórias cheias de mistérios e que se passam em lugares bizarros, Josh também é cantor da banda de rock The High Strung

Em 2014, publicou o seu romance de estreia, o fabuloso thriller psicológico aterrorizante Caixa de Pássaros, que foi recebido com muitos elogios pela crítica. De lá para cá já escreveu Piano Vermelho, em 2017, e Uma Casa No Fundo De Um Lago, em 2018. 

A história de Caixa de Pássaros foi adaptada em um filme produzido pela Netflix e que terá Sandra Bullock como protagonista principal, além de John Malkovich. 

Josh mora em Ferndale, em Michigan, nos Estados Unidos, com sua noiva. 


Até a próxima! 

Beijos mil! :-) 
Criss 

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