Olá, Perdidos! A vida não está nada fácil, as preocupações não param de surgir e parecem um colar de abacaxis pinicando seu pescoço e tudo que você quer é um descanso merecido. Então, você vai ao médico e ele lhe sugere um medicamento nada convencional, mas altamente eficaz: “Vou te receitar um gato”. Parece coisa de louco vindo de um médico, né? No entanto, quem tem gatos em casa, como eu, sabe muito bem que esse simples diagnóstico tem o poder de transformar até o mais cético dos humanos. O ronronar, o amassar pãozinho, o enrolar a cauda na perna, o pedir cafuné e muito mais é extremamente benéfico não só para o corpo como também para a alma.
A autora japonesa Syou Ishida, em “Vou Te Receitar Um Gato”, captou a essência dos bichanos e conseguiu fazer uma obra de autoconhecimento, cura e introspecção com uma fórmula muito simples: adote um felino e seja feliz!
– Entendi – diz o médico, e então sorri. – Vou te receitar um gato. Vamos aguardar e observar os efeitos.
O livro não conta apenas a história de um paciente que teve sua vida modificada por um bichano. Ao todo a obra nos apresenta cinco capítulos e em cada um deles conhecemos a história de um personagem e de um gatinho diferente.
Conhecemos a história de um corretor de investimentos infeliz; um homem de meia-idade que se sente perturbado com sua nova colega de trabalho; uma mãe cansada que se sente desconectada de sua filha pequena; uma designer de bolsas que não consegue relaxar; e, até mesmo, uma gueixa abalada por uma grande perda.
Os poucos raios de sol no céu nublado não iluminam aquele beco úmido, e o prédio é uma construção velha e suja.
A clínica que, aparentemente, só é encontrada por aqueles que estão excepcionalmente desesperados e cheios de conflitos internos fica num beco muito estranho e escuro em “Quioto, distrito de Nakagyō, avenida Fuyachō, subir, avenida Rokkaku, virar a oeste, avenida Tomikōji, descer, avenida Takoyakushi, virar a leste”. Num edifício velho e “com uma atmosfera meio assustadora” se encontra a tão misteriosamente super-recomendada Clínica Kokoro, onde trabalham o Dr. Nike e sua enfermeira Chitose. E a receita do Dr. Nike é simples: gatos.
Isso mesmo. Seja lá o que o paciente relate para o peculiar médico, ele sempre receita um gato. Cada paciente recebe um gato específico para cada caso em particular prescrito por um determinado tempo, além de um kit com instruções para cuidar devidamente do bichano. Mas, que tipo de receita é essa? E, quem cuida de quem?
– Um gato de verdade?
– Aham. Desde antigamente dizem que gatos são o melhor remédio. Ou seja, seus efeitos são muito mais eficazes.
Essa recomendação de ficar com um gatinho por um determinado tempo, exatamente como um remédio que deve ser tomado por “x” dias, por mais incomum que pareça, se transforma em uma chave para a transformação pessoal de cada um de seus pacientes.
A obra é encantadora e muito sensível e mescla filosofia e poesia de uma maneira extremamente suave e cativante, mostrando como essa conexão entre os seres humanos e seus pets (principalmente os gatos) pode ser um bálsamo para as dores da vida cotidiana. Aliás, coisas que uma gateira como eu já sabia.
Quando vi esse título inusitado, e sendo mãe de gatos, eu tinha que ler. E foi uma leitura deveras agradável. Um cozy book (livro aconchegante) e um healing book (livro de cura) que aqueceu meu coração. O livro faz parte de uma duologia (pelo menos por enquanto) e a sequência é: “Vou Te Receitar Outro Gato”.
– Sra. Abino, que tal voltar naquele prédio mais uma vez? O médico é bem excêntrico, mas, se conseguir achar a clínica, quem sabe a senhora encontre uma pista só de conversar um pouco com o doutor? Ele disse que a porta se abre se a pessoa desejar. Tente voltar lá...
Assim que acabei de ler “Vou Te Receitar Um Gato” ficou claro que o livro nos mostra a importância de dar espaço ao que realmente importa na vida. Talvez através de uma pausa no dia, de um olhar atento para o outro, ou da companhia sempre presente de um gatinho.
E o livro é tão simples... sem grandes reviravoltas ou enredos complexos. Nada além de uma observação cuidadosa e afetiva do dia a dia das pessoas. E é justamente isso que toca os nossos corações. A autora não precisa de grandes gestos dramáticos para emocionar, pois a sua força está na sutileza com que expõe as emoções humanas mais universais.
Eis a receita e se você está em busca de uma experiência introspectiva, reflexiva e, ao mesmo tempo, acolhedora e cheia de afeto esse livro é para você. Sendo assim... “Poderia me dar licença? O paciente com hora marcada está esperando”.
E se liga...
Um gatinho é a cura!
FICHA TÉCNICA
Autor: Syou Ishida
Editora: Intrínseca
Gênero: Healing Book / Cozy Book
Conhecendo um pouco mais Syou Ishida
Syou Ishida nasceu em 1975 em Quioto, Japão, e sempre amou gatos. Começou a se dedicar à literatura enquanto trabalhava em uma empresa de telecomunicações.
A série “Vou Te Receitar Um Gato” é best-seller no Japão e teve seus direitos vendidos para mais de vinte países.
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