Olá, Perdidos! O que falar de um livro para que seus muitos mistérios não sejam revelados? Afinal, não quero estragar a leitura de ninguém. Se falar demais, é spoiler. Então... Vamos lá!
Trata-se de uma jornada enigmática através de “A Última Casa da Rua Needless”, da anglo-americana Catriona Ward. Um livro que vai mexer com cada fibra do seu ser e desafiar a sua percepção da realidade, assim como fez comigo.
O mundo está cheio de coisas que não fazem sentido.
Há algo muito estranho acontecendo na última casa de uma rua sem saída, a Rua Neddless, uma casa antiga e desgastada pelo tempo cujas janelas estão fechadas com tábuas de madeira. Mas, o quê?
Para saber, acompanhei o dono dessa casa, um homem recluso com problemas de memória e que mal fala com seus vizinhos chamado Ted Bannerman, que vive com sua filha adolescente Lauren e uma gata chamada Olívia. A trama se desenrola em um ambiente carregado de tensão, com o desaparecimento de uma menina (que Ted chama de Menina do Picolé) há onze anos no lago da região em pleno verão e que parece lançar sombras, justamente, sobre a última casa da rua Needless.
A vida aparentemente tranquila de Ted é perturbada quando Didi, irmã da menina desaparecida há anos, muda-se para a casa ao lado. O passado enterrado começa a ressurgir, e segredos sombrios são desenterrados e o que estava oculto pode ser mais aterrorizante do que se pode imaginar, levando a uma trama em que assassinato, sequestro e vingança podem ser uma realidade terrível.
Em cima, no sótão, ouço um som de choro. São os meninos verdes. Eles estavam quietos nos últimos tempos, mas agora estão fazendo muito barulho.
Assim que abri o livro vi uma série de elogios e recomendações, incluindo de Stephen King, mas esse estava na capa para dar mais peso, afinal ele é o Rei do Terror! Além do livro ter sido listado como um dos 50 melhores livros de terror de todos os tempos (Será?) pela revista Esquire. Não conheço a lista, embora eu ache que o livro está mais para um suspense que flerta com o terror, mas o livro é bom e, seja qual for o gênero literário, merece ser lido.
A autora vai tecendo uma narrativa que desafia a nossa compreensão, alternando pontos de vista entre Ted, Olívia e Didi, os personagens principais, que são tão enigmáticos quanto a própria trama. Os capítulos são curtos e a leitura flui sem problemas. E a gatinha cristã Olívia (isso mesmo), com suas reflexões lúcidas, é um destaque inusitado e agradável, dando um toque de originalidade e oferecendo uma perspectiva única que adiciona profundidade ao mistério. Sim. Ela tem voz ativa na história. E é a minha personagem preferida do livro.
Sou a gata do Ted, mas tenho minha outra natureza. Posso deixar esse lado assumir o controle, por algum tempo. Talvez todos tenhamos um lado selvagem e secreto em algum lugar. O meu se chama Noturno.
Eu fiquei me perguntando o tempo inteiro: será que Lulu, a irmã desaparecida de Didi, ainda está viva? Lulu e Lauren são a mesma pessoa? Didi vai ter sucesso em sua empreitada, tentando encontrar sua irmã após tantos anos? Ted é realmente o culpado? Quem é Ted Bannerman afinal de contas? E Olívia?
Não foi difícil entender o que estava acontecendo a princípio, mas há muitas reviravoltas, o que faz com que nada seja exatamente o que parece ser. A apreensão desenvolvida por Ward manipulou minhas expectativas e percepções, virando minha cabeça de um lado para outro e me deixando atordoada com suas soluções. E quando você pensa que entendeu tudo, lá vem a autora de novo, dá um chute no balde e revela outra camada, me deixando quase no escuro, apenas com a luz trêmula de um fósforo, até o último e eletrizante momento.
Com Lauren ausente, preciso de coisas que me lembrem de quem eu sou. Tenho muito medo de simplesmente desaparecer e nunca mais voltar.
Só para você saber, o nome “Needless” da rua que dá título ao livro carrega um significado simbólico e intrigante. A palavra “needless” em inglês pode ser traduzida como “desnecessário” ou “supérfluo”, ironicamente um contraste com os eventos que ocorrem na história. A Rua Needless pode representar um lugar onde coisas aparentemente são desnecessárias ou irrelevantes à primeira vista, mas revelam-se de grande importância à medida que a narrativa se desenrola.
Prosseguindo com a psicologia barata, a rua onde se localiza a última casa pode ser vista como um beco sem saída, tanto literal quanto figurativamente, para os personagens que habitam a história. Esses personagens se encontram em um ponto de suas vidas onde o passado e o presente colidem de maneiras inesperadas, chocantes e até conclusivas, e a Rua Needless é o palco onde esses eventos se desdobram, realçando a ideia de que nada é realmente “desnecessário” nessa trama complexa e cheia de reviravoltas. Um componente chave que contribui para a atmosfera de mistério e tensão que permeia toda a trama.
Na clareira, olho para as árvores brancas em volta. Sinto-me triste. Este é um bom lar para os deuses. Mas se ficarem aqui, cedo ou tarde, serão encontrados. Posso não ser muito inteligente para certas coisas, mas eu sei disso – ninguém entenderia os deuses.
“A Última Casa da Rua Needless” é um livro que você não lê, simplesmente. Você experimenta, sente. Caminhei por um labirinto de emoções, girei num carrossel de tensões e escorreguei num tobogã de revelações.
Então, se você gosta de histórias que te fazem questionar a própria sanidade, prepare-se para ser cativado, confundido e completamente conquistado por “A Última Casa da Rua Needless”. Um livro inteligente e muito bem escrito, enveredando por um amontoado de segredos e revelações, onde a verdade é tão chocante quanto as perguntas que a antecedem. Mas, lembre-se: neste livro, nada é o que parece, e tudo o que você acha que sabe pode ser apenas mais uma peça do jogo de Catriona Ward.
FICHA TÉCNICA
Título Original: The Last House on Needless Street
Autor: Catriona Ward
Editora: Jangada
Gênero: Thriller Psicológico / Terror
Tradutor: Thereza Christina Rocque da Motta
Conhecendo um pouco mais Catriona Ward
Catriona Ward é uma romancista britânica de terror nascida nos Estados Unidos. De pais ingleses, Ward nasceu em Washington, D.C., Estados Unidos, em 14 de maio de 1982, e devido ao trabalho de seu pai morou nos Estados Unidos, Quênia, Madagascar, Iêmen e Marrocos. Sendo Dartmoor, na Inglaterra, o único lugar para onde a família retornava regularmente.
Estudou inglês na Universidade de Oxford e passou alguns anos trabalhando como atriz em Nova York.
Seu primeiro romance, “Rawblood”, foi publicado em 2015.
Em 2016, ela ganhou o August Derleth Prize de Melhor Romance de Terror por “Rawblood”, e o British Fantasy Awards, que, mais uma vez ganhou por “Little Eve”, em 2018, tornando-se a primeira mulher a receber duas vezes o prêmio.
Além do BFA, “Little Eve” também ganhou o prestigioso Prêmio Shirley Jackson de melhor romance.
Seu romance “A Última Casa da Rua Needless” também foi ganhador do August Derleth Prize, entre outros.
Atualmente mora em Londres e Devon.
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