Olá, Perdidos! Para dar início às comemorações natalinas que tal uma história de fantasma? Contar histórias é um dos passatempos mais antigos da humanidade. Todos se reúnem para ouvir, se emocionar, temer, tremer e guardar essas histórias na memória para contá-las a próxima geração e, assim, continuar a tradição.
E contar histórias de fantasmas em plena véspera de Natal, junto à lareira para afastar o frio intenso, do hemisfério norte, é claro, era um dos momentos mais esperados da festividade, uma tradição que se expandiu em plena Era Vitoriana, lá na Inglaterra. E, fala a verdade, quem não gosta de uma bela história fantasmagórica bem contada?
Vou começar com o famoso conto O Fantasma de Canterville. O conto é uma dessas histórias divertidas e inteligentes que adoramos. Pense bem... Imagine comprar uma mansão e de bônus adquirir um fantasma! Essa é a proposta hilária do conto escrito por Oscar Wilde, e publicado em 1887.
Bem à sua frente ele viu, sob a fraca luz do luar, um velho de aspecto pavoroso; seus olhos eram vermelhos como carvão em brasa; os cabelos grisalhos escorriam pelos ombros em cachos emaranhados; suas roupas, muito antigas, estavam sujas e rasgadas; e de seus pulsos e tornozelos pendiam pesadas algemas e grilhões enferrujados.
A história começa quando o Sr. Hiram B. Otis compra a Mansão Canterville, na Inglaterra, considerada por todos uma propriedade assombrada. O próprio Lorde Canterville o avisa sobre o fantasma, visto por vários membros de sua família e até mesmo pelo vigário do local. Mas, o patriarca da família Otis, uma família norte-americana com conceitos modernos que não se impressiona com arcaicos fantasmas, decide comprar a Mansão e tudo que está nela. Incluindo os “fantasiosos” fantasmas da aristocracia britânica.
A Sra. Umney, governanta, avisa os Otis, em seu primeiro dia na mansão, de que a assombração que assola o local é o fantasma de Sir Simon de Canterville que em 1575 assassinou sua esposa, Lady Eleanore, e que seu espírito arrependido assombra o local.
O fantasma tenta a todo custo assustar os novos moradores, mas eles não se impressionam com suas aparições e grunhidos e até o desafiam, fazendo inúmeras traquinagens, o que o deixa frustrado e humilhado. Contudo, a única pessoa que se compadece do fantasma é a pequena Virginia de 15 anos de idade, a filha mais nova dos Otis, que decide ajudá-lo a encontrar a paz e a redenção.
Gente... Eu me diverti demais lendo as várias tentativas do fantasma em assustar os Otis e ver cada uma delas cair por água abaixo. É impossível não cair na gargalhada! Coitado do Fantasma de Canterville! A gente até esquece que ele assassinou a esposa.
Realmente, o conto é muito divertido e sagaz, com suas situações cômicas e inusitadas. Claramente vemos a mentalidade prática e desprendida dos americanos (novo mundo), em contraste com o modo tradicional e supersticioso de pensar dos britânicos (velho mundo). O conto mostra que as convenções sociais podem e devem ser questionadas e subvertidas.
Ele deu, portanto, sua gargalhada mais horripilante [...] quando uma porta se abriu e a Sra. Otis apareceu, com sua camisola azul-claro.
– Receio que o senhor não esteja nada bem – comentou ela –, então lhe trouxe um frasco de tintura do doutor Dobell. Se for indigestão, o senhor verá que é um remédio excelente.
Nesse bafafá entre o fantasma e os Otis, Virginia é a única personagem da história que se compadece das humilhações passadas pelo fantasma e que se aproxima dele. Mostrando bondade e respeito, ela ouve seus infortúnios melancólicos por se sentir aprisionado por seu passado e por sua culpa por ter cometido um crime.
Wilde explora temas como o perdão, a compaixão e a busca pela beleza, através de Virginia, que representa tanto a simpatia quanto a empatia que faltam aos demais personagens da história.
Será que o amor e a compaixão são capazes de libertar uma alma atormentada? A verdadeira beleza está apenas naqueles de coração generoso? Essas são algumas das reflexões sobre a natureza humana que o autor propõe em seu conto sobrenatural.
Eram, evidentemente, pessoas da mais pífia estirpe, incapazes de apreciar o valor simbólico dos fenômenos sensoriais.
Com humor e ironia, misturando elementos de comédia e horror, a história é uma crítica forte aos costumes da sociedade vitoriana, sua hipocrisia e sua acentuada moralidade, preocupando-se apenas com as aparências. Critica, também, a indiferença e a falta de sensibilidade do sofrimento causado ao fantasma, por parte da família americana, os Otis. Sir Simon de Canterville, o nobre fantasma, se mostra mais humano que os novos moradores de sua antiga mansão.
O conto O Fantasma de Canterville é dividido em sete capítulos e foi reproduzido em duas partes na revista literária britânica The Court and Society Review, nos dias 23 de fevereiro e 2 de março de 1887. Foi a primeira das histórias de Wilde a ser publicada.
– Sim, a morte. A morte deve ser tão bela. Deitar-se sobre a terra marrom e macia, com a grama oscilando acima de sua cabeça e ouvindo o silêncio. Não ter ontem nem amanhã. Esquecer o tempo, esquecer a vida, estar em paz. Você pode me ajudar. Pode abrir para mim os portais da casa da morte, pois o amor sempre está com você, e o amor é mais poderoso que a morte.
Mesmo já se passando 136 anos de sua publicação, o conto ainda merece ser lido e apreciado, pois além de entreter, e muito (como eu me diverti!), também tem a capacidade de emocionar.
Tá esperando o quê?
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