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Uma História Em Que “Tudo É Rio”



Olá, Perdidos! É possível perdoar o imperdoável? É essa a pergunta que permeia a história de Tudo É Rio, romance de estreia (e que estreia!) de Carla Madeira.

Ao começar a leitura não dá para saber exatamente o que esperar. Afinal, logo de cara sou apresentada a Lucy, a prostituta-mor da casa mais mal falada (ou bem falada, dependendo do ponto de vista) da cidade. 

E é no decorrer da narrativa que descubro que ela é uma prostituta que gosta do que faz e sente muito prazer no ofício, e que foi uma escolha consciente que tomou desde bem nova. Com a profissão, ela é livre e senhora de si. Provocativa, causa furor na cidade. E o sexo, claro, é sua arma de poder e manipulação. 


Quer vida mais fácil que a minha, uma puta que gosta de dar? 


A partir daí, com um estilo original, a autora narra a história do casal Dalva e Venâncio que têm suas vidas transformadas após uma tragédia e do estranho, improvável e infeliz triângulo amoroso que se forma com a entrada de Lucy, a já mencionada prostituta mais cobiçada e depravada da cidade, na vida deles. Três pessoas. Três histórias. Três almas adoentadas. 





Já sei. Vão me dizer que isso não é novidade nenhuma. E concordo. Na literatura muitos temas se repetem, afinal, de um jeito ou de outro, a referência é nosso dia a dia, mas são as roupagens que importam. E a roupagem que Carla Madeira utilizou em seu romance foi curiosa. 


A vida, sempre disposta a nos levar até a morte, expõe, mais cedo ou mais tarde, aos berros, sua avareza: felicidade em demasia é dívida que não se pode pagar. A conta viria. 


Como disse, Lucy reina absoluta no bordel até conhecer Venâncio que não dá a mínima para ela, o que faz crescer sua obsessão por ele. Afinal, quem ele pensa que é? Venâncio tem que ser dela. 

O que ela não sabe é que Venâncio é um homem que já conheceu o amor verdadeiro e transformador com Dalva, mas devido ao seu temperamento colérico, herdado de seu pai, comete um ato impensável que o faz perder esse amor e desde então (sobre)vive em meio a sua tragédia pessoal, cheio de remorso. Um amor perdido. Um homem quebrado. Uma ação irremediável. Como consertar tudo isso? Há conserto? Há perdão para ele e ele conseguirá se perdoar? 

Dalva, muito amada por sua família e amigos, ao casar com Venâncio vive a felicidade almejada (e invejada) por todos, até que passa da alegria celestial para a dor infernal e excruciante. E por sua vez, se acinzenta, se apaga, se silencia. A dor que sente não se dissipa e não se exprime em palavras. Se separar de Venâncio e ir embora não é opção, pois ele tem que sofrer e nunca esquecer o que sua ação ocasionou na vida deles. Mas, até quando? É possível perdoar? 


Dalva poderia tantas coisas se pudesse. Mas só pôde o que fez. Quem vê de fora faz arranjos melhores, mas é dentro, bem no lugar que a gente não vê, que o não dar conta ocupa tudo. 


À medida que leio, passado e presente se misturam sem se atropelarem e conheço mais sobre a história de cada protagonista e sobre as histórias de cada novo integrante desse romance em que todos deixam suas impressões diretamente no texto. E uma dessas histórias é de Aurora, mãe de Dalva, e que eu, simplesmente, amei! Acho que todos amam. Pessoa centrada, esperta, simples e muito sábia. E que carta linda ela escreveu para Dalva! 

Em seus trinta e cinco capítulos curtos o jogo de palavras da autora expõe emoções intensas e muitas vezes difíceis de se lidar como num rio agitado. Um rio caudaloso, às vezes seco, outras que transborda suas águas, mas que nunca para, num ininterrupto movimento de mudança que não podemos controlar, assim como nosso destino. E na vida há uma mistura de sentimentos desaguados por pessoas que encontramos em nosso caminho e que seguem em direção ao nosso mar. O rio segue. A vida segue. 


Mas e o amor? O que é senão um monte de gostar? Gostar de falar, gostar de tocar, gostar de cheirar, gostar de ouvir, gostar de olhar. Gostar de se abandonar no outro. O amor não passa de um gostar de muitos verbos ao mesmo tempo. 


O texto é delicioso de se ler, tem uma linguagem dinâmica, diferente e em alguns momentos despudorada que me prendeu do início ao fim. Gostei muito desse seu estilo forte e poético, tão particular. Palavras cruas e escrachadas, palavrões e cenas picantes são uma advertência para pessoas mais sensíveis e que não gostam de ler nada disso em uma história. 

Em meio ao protagonismo feminino, encontro na história questões familiares de abuso e violência doméstica, e da viabilidade do bem e do mal em cada um de nós, mas para mim, em sua essência, o livro fala de amor, perdão e mudançasE voltamos à pergunta original: É possível perdoar o imperdoável? O final pode ser considerado bem controverso, eu admito, contudo, a cada página virada vou me dando conta que talvez o melhor a fazer é me jogar nesse rio em que tudo passa e tudo lava, deixando a alma mais leve. 



FICHA TÉCNICA 


Título: Tudo É Rio 
Autor: Carla Madeira 
Ano: 2021 
Páginas: 210 
Editora: Record 
Gênero: Ficção 

  

Conhecendo um pouco mais Carla Madeira 







Carla Madeira nasceu em Belo Horizonte em 1964. Trocou o curso de Matemática na Universidade Federal de Minas Gerais para se formar em Jornalismo e Publicidade com pós-graduação em Marketing e na mesma instituição foi professora de redação publicitária. 

É sócia e diretora de criação da agência de comunicação Lápis Raro. 

Em 2014, lançou seu primeiro romance, Tudo É Rio, um sucesso editorial, recebido com entusiasmo pelo público e pela crítica. Outras publicações são A Natureza Da Mordida e Véspera











Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss 





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