Olá, Perdidos! Neste mesmo dia, há 172 anos, morria Edgar Allan Poe, aos 40 anos de idade. Gênio e enigmático suas obras se tornaram um marco na literatura norte-americana contemporânea. E muitas dessas obras exploram o sofrimento causado pela morte. Segundo Poe, nada seria mais romântico do que escrever um poema sobre a morte de uma mulher deslumbrante.
E retardar a morte é um dos maiores objetivos do ser humano. Crenças à parte, entender o que há depois dela e para onde vamos são curiosidades que estudos científicos não conseguiram responder. No conto A Verdade Sobre O Caso Do Sr. Valdemar, Poe revela uma estranha experiência feita com o Sr. Valdemar à beira da morte.
Neste conto, o narrador, conhecido como P., é uma pessoa interessada em mesmerismo e pretende realizar uma experiência que ainda não foi feita: hipnotizar alguém que está à beira da morte.
Lembra-se do Sr. Ernest Valdemar, homem idoso que tem tuberculose em estágio avançadíssimo e restam-lhe apenas algumas semanas de vida. Para seu espanto ele aceita.
Como combinado, o Sr. Valdemar entra em contato com P. quando o médico lhe sentencia apenas mais vinte e quatro horas de vida. É o momento para realizar o experimento.
Até o título do conto, A Verdade Sobre O Caso Do Sr. Valdemar, induz o leitor de que o que ele vai ler é de fato toda verdade sobre o episódio.
O que é interessante, pois Poe utiliza o mesmerismo, que se tornou popular nos Estados Unidos e na Europa no século XIX, para contar sua história que a princípio foi publicada como não ficcional, forjada para ser um artigo científico verdadeiro. Divulgando fake news, Poe! Aiaiai!
Mesmerismo
Mesmerismo é a teoria do magnetismo animal, doutrina apoiada e nomeada pelo médico alemão Franz Mesmer (1734 – 1815) a um fluído magnético invisível que percorre o corpo de todos os seres, sejam animais (incluindo humanos) ou vegetais. Através da hipnose, ele acreditava que seria possível o tratamento e, até mesmo, a cura de doenças.
Sua intenção era chamar a atenção dos acadêmicos para os fenômenos paranormais e fundamentar o magnetismo como ciência, mas só conseguiu ser objeto de muita controvérsia.
Todos os presentes estavam habituados com os horrores do leito de morte, mas a aparência do sr. Valdemar era tão incomparavelmente grotesca que recuamos juntos, nos afastando da cama.
O Sr. Valdemar, que consentiu com a experiência, se sentia sereno e para surpresa de P. a mesmerização deu certo. Ele morreu quando estava mesmerizado, ou seja, hipnotizado e mesmo após sua morte, confirmada pelo médico, continuou respondendo às perguntas do mesmerizador. E uma voz gutural se fez ouvir através do “tremor vibratório da língua”. Pavor geral nos presentes.
Sim... Não... estava dormindo... agora... agora estou morto.
Permaneceu numa espécie de suspensão de não-morte e não-vida por sete meses, sendo visitado pelo seu médico que verificava o corpo e suas reações e o narrador que lhe fazia perguntas. Mas, após tanto tempo, sua serenidade deu lugar ao desespero.
Sem dúvida, este conto é um pouco diferente de outras obras de cunho mais poético de Poe. As descrições são detalhadas e grotescas. Não é possível ficar indiferente a forma como descreve a tuberculose do Sr. Valdemar e como seu pulmão foi afetado. Doença que matou sua mãe e, na época, manifestava-se em sua esposa que viria a falecer dois anos depois.
O conto é bem curtinho e fácil de ler. Poe desperta nossa curiosidade e nos enche de expectativas e questionamentos. Queremos chegar ao final dessa experiência pra lá de perturbadora, mesmo dando pulos da cadeira, pois aqui a morte não é o fim, mas meramente um prolongamento sinistro.
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