[OUTUBRO ATERRORIZANTE] [Conto Machado de Assis] A Causa Secreta



Olá, Perdidos! Já parou para pensar o quanto, realmente, conhecemos uma pessoa? Como ela se comporta quando está sozinha, se sentindo segura e livre para fazer o que bem entende longe das vistas das outras pessoas? É claro que isto também serve para mim, afinal guardo esquisitices como qualquer um. Machado de Assis nos surpreende com A Causa Secreta, um conto que atordoa ao nos depararmos com uma pessoa distinta, mas que possui um certo transtorno em sua personalidade que ninguém desconfia. 






Garcia, que ainda era estudante de medicina, encontrou-se com o médico Fortunato quando este o ajudou a socorrer e cuidar de seu vizinho que fora apunhalado por uma malta de capoeiras, grupo que atormentava a população carioca no século XIX. Tamanha dedicação ao desconhecido até sua quase cura completa nos dias seguintes despertou a curiosidade do estudante, do mesmo modo como seu desprezo posterior pelo convalescente o fez ficar espantado. 

O tempo passou, Garcia se formou e os dois tornaram-se amigos e sócios ao abrirem uma Casa de Saúde. No trabalho, Fortunato mostrava um interesse maior por aqueles em estado crítico e praticamente era indiferente com os demais pacientes que padeciam menos. Garcia não entendia suas atitudes. Até mesmo sua esposa, Maria Luísa, parecia não merecer sua atenção. 

O jovem médico começou a frequentar regularmente a casa do casal e passou a nutrir um sentimento mais profundo por Maria Luísa que parecia estar doente, mas em respeito a seu amigo e cheio de escrúpulos inibiu suas emoções. 

O final é espantoso. 



Manso e manso, entrou-lhe o amor no coração. Quando deu por ele, quis expeli-lo, [...]; mas não pôde. Pôde apenas trancá-lo. 




A Causa Secreta é um conto forte e sombrio que foi publicado originalmente em 1885 no jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, e que em 1896 foi inserido no livro Várias Histórias, uma coletânea com contos impressos no periódico entre 1884 e 1891. 

O conto possui três personagens principais que no início da narrativa já se encontram mortos: Garcia, Fortunato e Maria Luísa. Segundo o narrador onisciente, por estarem “mortos e enterrados, tempo é de contar a história sem rebuço”. O babado parece forte. Até porque o narrador nos apresenta um possível triângulo amoroso discrepante. 

No início da história os três personagens estão incomodados com algo que aconteceu. Entretanto, a introdução é uma cena que se desenrola mais lá para o final do conto, não seguindo uma estrutura linear. Ou seja, o narrador começa quase pelo fim e depois volta para nos explicar o motivo dos três personagens estarem pouco à vontade jogando conversa fora. Mas havia outra coisa, “cousa tão feia e grave, que não lhes deixou muito gosto para tratar do dia, do bairro e da casa de saúde”. O que seria? 

Machado de Assis é um observador do comportamento humano e este conto não é diferente. Ele explora sensações muito fortes como a amizade, a violência, o sofrimento, a crueldade, a incapacidade de amar e a amoralidade. 


‘Castiga sem raiva’, pensou o médico, ‘pela necessidade de achar uma sensação de prazer, que só a dor alheia lhe pode dar: é o segredo deste homem’. 


O texto é uma análise do ser humano o qual na maioria das vezes só conseguimos enxergar uma faceta, mas somos complexos e estranhamente inusitados. Em A Causa Secreta ele expõe a perversidade de um personagem que não condiz com o que todos a sua volta acham, muito menos com sua profissão. São ações mal interpretadas num mundo de aparências que não refletem sua realidade caótica. 

O conto tem uma cena, a cena do ratoinesquecível –, extremamente arrepiante e altamente reveladora. Um ritual lento e prazeroso. Dá para sentir a agonia, além do horror e do fascínio contemplativo de quem assiste e a alegria de quem realiza o flagelo. Fiquei com nojo e horrorizada. E é a partir daqui que a narrativa começa. 


Nem raiva, nem ódio; tão somente um vasto prazer, quieto e profundo, como daria a outro a audição de uma bela sonata ou a vista de uma estátua divina, alguma cousa parecida com a pura sensação estética. 


De cara Machado nos fisga. Não tem jeito, temos que ler o conto para saber detalhes da tal “cousa tão feia e grave”, pois só no final é que temos a confirmação da causa secreta






Autor: Machado de Assis   
Título: A Causa Secreta 
Ano: 1885 
Gênero: Conto de Ficção     





Até a próxima! 
Beijos mil! :-)

Criss 





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