[OUTUBRO ATERRORIZANTE] [Conto Lygia Fagundes Telles] Venha Ver O Pôr Do Sol



Olá, Perdidos! Pode um tórrido caso de amor terminar sem consequências? Quando o amor se transforma num sentimento mesquinho de vingança? A emoção que impulsiona sensações desenfreadas muitas vezes dura o momento de uma brisa e quando acaba transforma-se na força implacável de um furacão. Lygia Fagundes Telles, no conto Venha Ver O Pôr Do Sol, nos revela o desfecho trágico de uma relação que chegou ao fim. 





Ricardo e Raquel foram namorados por um ano e ela, preocupada com a triste situação financeira do rapaz e com seu próprio futuro, deu fim ao relacionamento. 

Após o rompimento, Ricardo seguiu magoado e inconformado com a situação, pois afirmava que a amava fervorosamente. 

Passado algum tempo sem vê-lo, Raquel que estava se relacionando afetivamente com um homem bem-sucedido e rico, recebeu uma série de tentativas de seu ex para encontrá-lo mais uma vez. 

Depois de muito empenho Ricardo conseguiu que a ex-namorada aceitasse um último encontro. Estranhamente, ele escolheu um cemitério abandonado e distante onde se encontrariam secretamente para que ele pudesse lhe mostrar “o pôr do sol mais lindo do mundo”. 



Lygia é fantástica, com inspiração em Poe. Melhor impossível! Ela nos enreda de tal forma que mesmo que achemos, no mínimo, esdrúxulo um último encontro num obscuro cemitério abandonado, somos levados a romancear o acontecimento, afinal Ricardo escolheu um lugar discreto para que o novo e ciumento namorado de Raquel não suspeitasse de que os dois foram admirar o mais belo pôr do sol. Que fofo! Será?  


[...] a beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambiguidade. 


Eu me senti totalmente dentro da trama, passeando com o casal pelo cemitério adentro, ouvindo sua conversa e, reparando em Ricardo com sua “pequenina rede de rugas [...] em redor de seus olhos”, além da “expressão astuta”. Com um certo temor de que algo estava muito errado. Mas... 

...continuamos caminhando por entre os túmulos com ervas daninhas e musgo sobre as lápides, o mato rasteiro invadindo as sepulturas e folhas secas pelo chão. Uma visão desoladora dos que foram deixados para trás naquele lugar abandonado, onde o clima lúgubre é perturbado apenas pelo som dos passos que cada vez mais embrenham-se no cemitério. 





Uma coisa dita aqui, um detalhe que escapa ali e o suspense aumenta e a tensão também. Um medo inenarrável começa a me invadir, mas é impossível afastar-se do casal e deixar o cemitério para trás. 


– Mas já disse o que mais amo neste cemitério é precisamente este abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta. 


Até A Dama das Camélias aparece no cemitério. Afinal, o livro é sobre a história de amor entre um jovem burguês e uma cortesã. Além do desnível social, Alexandre Dumas mostra que o dinheiro manda mais que o sentimento. No conto, a obra insinua o tipo de relacionamento que existia entre Ricardo e Raquel. 


– Eu gostei de você, Ricardo. 
– E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença? 


O título, Venha Ver O Pôr Do Sol, tem um sentido duplo: vida e morte. O sol representa a luz, a paixão, a vida, por outro lado, quando usamos a locução pôr do sol indica o anoitecer, o fim do dia ou o fim de algo, como o fim de uma era, de um caso amoroso ou de uma vida. 

O conto é breve com muitos diálogos entre Ricardo e Raquel. E o narrador, em terceira pessoa, apenas observa tudo que acontece naquele cenário sinistro. 

Apesar de no início do conto Lygia nos apresentar uma situação um tanto inocente, a tensão emocional permeia os diálogos e a narrativa desenvolve-se até nos mostrar aquele lado obscuro e guardado nas profundezas da alma humana. 

Este é um dos contos mais famosos da autora justamente por falar de sentimentos próximos e mais fáceis de se entender e o final da história (mesmo que desconfiemos) é surpreendente e de tirar o fôlego. Não deixe de ler e nunca, eu disse NUNCA marque um encontro ou reencontro com um ex-qualquercoisa num cemitério, mesmo que pareça inocente e sugestivo, muito menos num cemitério abandonado. 




Autor: Lygia Fagundes Telles    
Título: Venha Ver O Pôr Do Sol  
Ano: 1964  
Gênero: Conto de Suspense 




Até a próxima! 
Beijos mil! :-)

Criss 



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