Percorrendo “Vinte Mil Léguas Submarinas” A Bordo Do Nautilus

Olá, Perdidos! Finalmente li um livro do francês Jules Verne ou Júlio Verne, como é chamado por aqui. Falo isso porque ano passado fiz uma tentativa frustrada de ler A Ilha Misteriosa e esse mistério continua sem ser descoberto. Não deu. O que me entristeceu bastante, afinal é um livro do autor considerado o Pai da Ficção Científica. Não desisti de Verne e o livro lido com alegria foi Vinte Mil Léguas Submarinas. Uma viagem de submarino pelos oceanos e mares ao redor do planeta. 






O ano é 1866. Uma criatura estranha é avistada nos oceanos e provoca preocupação e curiosidade. Seria uma baleia gigantesca? Um monstro mitológico? Entre uma especulação e outra, perguntas se acumulam e uma expedição a bordo da fragata Abraham Lincoln, da marinha dos Estados Unidos, parte em busca de respostas. 

Enquanto procuram, a fragata é atacada pela criatura e três homens são lançados ao mar: Prof. Pierre Aronnax, professor renomado de história natural do Museu de Paris, Conseil (Conselho), seu dedicado auxiliar e conhecedor de classificação biológica, e Ned Land, um baleeiro e mestre arpoador canadense. 

Os três se salvam graças a uma estranha ilhota que descobrem ser o monstro e que, na verdade, se trata de um aparato criado pelas mãos do Homem. Uma incrível máquina submarina, comandada pelo misterioso capitão Nemo que odeia a sociedade a ponto de viver exclusivamente no mar, utilizando-se de seus recursos. Nemo os salva de um destino fatal, mas eles serão seus prisioneiros por toda vida. 

E agora? 




A história foi bem interessante e apesar de eu amar o mar, suas criaturas e vegetações, afinal quase fiz Oceanografia, foi um livro cansativo em alguns momentos. 


– O mar é tudo! [...] É o imenso deserto onde o homem nunca está sozinho, porque sente a vida vibrar à sua volta. O mar é apenas o veículo de uma existência sobrenatural e prodigiosa; é apenas movimento e amor; é a infinitude viva. 


Acredito que, no intuito de explicar as maravilhas do fundo do mar, a leitura se tornou muito didática e detalhista. Talvez ensinar os leitores sobre a natureza abrigada pelos oceanos tenha sido seu objetivo primordial, pois a obra foi publicada originalmente em formato de série no jornal quinzenal Magasin d’Éducation et de Récréation (Revista de Educação e Recreação), de março de 1869 a junho de 1870, e foi um tremendo sucesso. 

Seus leitores não precisaram esperar muito pela publicação do livro que em 1871 contou com uma edição com 111 ilustrações em que todas aquelas descrições marinhas detalhadas ganharam vida pelas mãos de Alphonse de Neuville e Édouard Riou. 

A história é o diário de viagem de exatas vinte mil léguas submarinas ao redor do globo por mares nunca antes navegados. É escrito e narrado por Aronnax que contempla a genialidade de Nemo, criador e capitão do submarino Nautilus, enquanto se deslumbra com a fauna e a flora das profundezas do oceano e prefere não lembrar que ele e seus dois amigos, Conseil e Ned, não estão ali a passeio, mas são “prisioneiros disfarçados de hóspedes”. 


Pelo relato que estou fazendo dessa excursão submarina, sinto que não soarei verossímil! Sou historiador de coisas aparentemente impossíveis, mas que, no entanto, são reais, incontestáveis. Eu não sonhei. Eu vi e senti! 


Ned, que em nenhum momento esqueceu que seu papel ali era o de um prisioneiro e, por isso, volta e meia fazia planos para escapar do Nautilus, compartilhou com Conseil várias situações de humor e sarcasmo. Muito legal.  

O que considero alguns momentos de enfado é o que traz veracidade as informações da história, como a lista de nomes de animais e plantas marinhos, seus nomes científicos, latitudes e longitudes que faz parecer que estamos lendo um extenso estudo de biologia ou um mapa geográfico. 

Em outros momentos tive a impressão de apreciar um menu de restaurante, uma orgia gastronômica de pescados e frutos do mar “cuja carne é incomparável”, de “sabor requintado” que “forneciam à nossa mesa uma carne extremamente delicada” para “degustar algo suculento”, e por aí vai. Agregando sabor às belezas desconhecidas do fundo do mar. 





Tenho que confessar que o início do livro foi bem cativante, com a imprensa e especialistas no mar criando histórias possíveis e outras (a maioria) nem tanto. E no decorrer do livro teve muitas menções históricas interessantes. E perto do final também ficou bem emocionante com situações de vida ou morte de perder o fôlego. 

O fim da história não esclarece muito o ódio de Nemo pela humanidade, preferindo levar a vida em seu submarino, Nautilus, sem nunca pisar em terra firme habitada. Temos um vislumbre do motivo, que foi a primeira coisa que pensei quando ele declarou toda sua aversão, mas é um “talvez”. Sua nacionalidade, seu verdadeiro nome, seus reais motivos e o idioma ou código que ele e sua tripulação usavam para se comunicar uns com os outros continuam um mistério. Pelo menos nesse livro. 


– Selvagens! – respondeu o capitão Nemo num tom irônico. – E o senhor se surpreende, professor, com o fato de encontrar selvagens ao pisar em qualquer uma das terras deste globo? Onde é que não existem selvagens? Além disso, esses que o senhor chama de selvagens são, por acaso, piores que os outros? 


Ele é um abismo onde nem seu esplendoroso e resistente Nautilus consegue navegar. Até mesmo o nome que escolheu para si é curioso. Nemo significa “ninguém” em latim. 





Nemo é um cientista fabuloso e um capitão extraordinário que pode ser desumano e vingativo, assim como justo e honrado. Se é vilão ou mocinho jamais saberemos, a dúvida permanece ao final da leitura, ou não, o leitor decide, mas, com certeza, o Capitão Nemo é um personagem único.  


– A Terra não precisa de novos continentes, mas de novos homens! 


Com a libertação de sua imaginação criativa, Jules Verne realizou Viagens Extraordinárias, percorrendo o globo terrestre, a lua e o fundo do mar, este último uma sugestão da romancista francesa George Sand ao autor que acatou a ideia. 

Em Vinte Mil Léguas Submarinas ele previu uma das maiores invenções da humanidade e em pleno século XIX: o submarino. Sim, eu sei. Já havia uma espécie de submarino francês. O modelo Plongeur foi exibido na Exposition Universelle de 1867, onde, segundo consta, foi estudado por Jules Verne que o usou como inspiração para criar seu incomparável Nautilus

Contudo, Verne criou um submarino diferente, movido a eletricidade obtida no próprio mar. Energia limpa e sustentável. Inovador! Muito à frente de seu tempo. Ter autonomia e capacidade infinita para navegar através dos oceanos, sem precisar de qualquer conexão terrestre e poder se movimentar no meio dos peixes foi fascinante e com certeza despertou a curiosidade e o espírito aventureiro das pessoas. Como desperta até hoje. 


Eu devo tudo ao oceano; ele produz eletricidade, e a eletricidade dá ao Nautilus o calor, a luz, o movimento, ou seja, a vida. 


Por falar em Nautilus, o nome vem do grego e significa “marinheiro”. É um gênero de moluscos da mesma classe dos cefalópodes (cabeça com pés) marinhos, a mesma que inclui os polvos, as lulas e as sépias. A espécie foi abundante no período Paleozóico, contudo não está extinta e ainda existe um gênero que vive no sudoeste do Oceano Pacífico. Sua simbologia está associada com a complexidade e o desenvolvimento dos pensamentos, além de representar a beleza e a perfeição. O mais impressionante é a energia do oceano presente em sua composição, por isso sua energia é ligada a pureza e a flexibilidade. Tem tudo a ver, não é mesmo? 


Nautilus, "um fóssil vivo", termo cunhado por Charles Darwin ao descrever espécies que resistem ao tempo



Não podemos esquecer que o autor se baseava e discutia as principais questões do conhecimento científico de sua época, meados do século XIX, e salpicava muito de sua imaginação em seus textos, o que o tornou um mestre da divulgação científica e de antecipação, além de ser um dos escritores franceses mais traduzidos de todos os tempos, fazendo várias gerações sonharem e acreditarem que nada é impossível. Veja o trailer do filme realizado pelos estúdios Disney em 1954. 



O livro nos traz a ideia da aquicultura, ou seja, “fazendas” submarinas para cultivo e criação de peixes, mariscos, algas e etc.; da exploração de navios naufragados com suas relíquias e história resgatadas; e da prática de mergulho com um equipamento leve e funcional. 

Apesar de algumas ressalvas de minha parte, é um livro de aventura científica que merece ser lido até mesmo por ser um retrato de sua época. Num tempo em que a pressão da água esmagaria qualquer embarcação ou pessoa que tentasse desafiar as profundezas do oceano, Verne nos trouxe o Nautilus e os equipamentos de mergulho para contemplar belezas jamais vistas. Não há limites para a inventividade; nem o céu, muito menos o fundo do mar. 



 FICHA TÉCNICA 


Título: Vinte Mil Léguas Submarinas     
Título Original: Vingt Mille Lieues Sous Les Mers     
Autor: Jules Verne 
Ano: 2019 
Páginas: 368  
Editora: Principis  
Gênero: Ficção Científica    
Tradutor: Andréia Manfrin Alves    
  


AUTOR 
 



Jules Gabriel Verne ou Jules Verne nasceu no dia 8 de fevereiro de 1828, em Nantes, França.  

Da Terra À Lua, Vinte Mil Léguas Submarinas, A Ilha Misteriosa, Viagem Ao Centro Da Terra e A Volta Ao Mundo Em 80 Dias são alguns livros de sucesso do autor que por sua imaginação futurística é conhecido como o Pai da Ficção Científica

Desde cedo mostrou aptidão para geografia, latim, grego e música. Aos 19 anos, desolado pelo casamento da prima por quem era apaixonado, foi enviado a Paris para estudar Direito a contragosto. Lá conheceu os escritores Alexandre Dumas Pai e Filho e Victor Hugo! Tornou-se advogado como o pai, mas seguiu a carreira literária. 

Em 1857, casou e do casamento nasceu seu único filho em 1861, Michel Jean Pierre Verne, criança de gênio rebelde. 

Cinco Semanas Em Um Balão foi seu 1º romance. Após várias tentativas desanimadoras em editoras, Alexandre Dumas Pai o apresenta a Pierre-Jules Hetzel que se torna seu editor e amigo aconselhando-o por toda sua carreira e publica o romance, em 1863. 

Com o sucesso estrondoso do livro, a parceria se estabeleceu e Verne abraçou sua paixão pela escrita como seu ofício em tempo integral, alcançando fama e fortuna. 

Apesar da saúde abalada, escreveu até sua morte, aos 77 anos, em 24 de março de 1905, em sua casa de Amiens, França. 

Seu filho Michel completou seus trabalhos inacabados e publicou obras póstumas. Verne escreveu mais de 100 livros, impressos em 148 idiomas, sendo um dos autores com mais adaptações para o cinema e a TV. 

Ele é inspiração para escritores e sonhadores que passaram a olhar o futuro de forma diferente. 




Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss 





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