Doces E Poemas De Cora Coralina

Olá, Perdidos! “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”. Uma verdade tão simples, tão óbvia, mas cheia de encanto e delicadeza que só poderia ser da maravilhosa e talentosa Cora Coralina






Anna Lins dos Guimarães Peixoto, conhecida por seu pseudônimo Cora Coralina, nasceu em 20 de agosto de 1889 na Cidade de Goiás (também conhecida como Goiás Velho e antiga capital de Goiás). Filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de dona Jacyntha Luiza do Couto Brandão, ela nasceu e foi criada às margens do Rio Vermelho, um importante afluente do rio Araguaia. 

Cora Coralina foi poeta e contista e publicou seu primeiro livro Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais em junho de 1965, aos 76 anos de idade. É isso mesmo! Embora tenha cursado somente até a terceira série do ensino fundamental (que equivale ao quarto ano da educação básica), começou a escrever na adolescência, por volta dos 14 anos, aos 16 enviou uma crônica para o jornal do Rio de Janeiro, Tribuna Espírita e em 1908 publicou seus textos no jornal de poemas femininos A Rosa, criado por ela junto com algumas amigas. Alguns de seus trabalhos alcançaram além de jornais regionais, periódicos e revistas das cidades de Bela Vista e Rio de Janeiro. 

O nome Cora Coralina surgiu pela primeira vez em 1910, quando o Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás publicou um de seus contos, “Tragédia na Roça”. Mas o reconhecimento só chegaria algumas décadas depois. 

Aos 20 anos se envolveu com o advogado casado e com filhos Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, 22 anos mais velho que ela, e engravidou. Em 1911, fugiram para morar em Jaboticabal, no interior de São Paulo. Tiveram seis filhos, sendo que dois morreram logo após o nascimento. Convidada para participar da Semana de Arte Moderna de 1922 não pode comparecer, pois foi impedida por seu marido. Em 1924 se mudaram para a capital do estado. 

Com a morte do marido em 1934, Cora mostrou seu lado empreendedor e para sustentar a família vendeu livros de porta em porta, abriu uma pensão, estabeleceu uma loja de retalhos e passou a ser colaboradora do jornal O Estado de São Paulo

Em 1956, retornou à casa em que foi criada para recuperar sua pose e começou a fazer doces para vender. Ao passo em que fazia doces de frutas cristalizadas de caju, figo, abóbora e laranja que encantavam e adoçavam seus vizinhos e amigos continuava escrevendo sobre sua própria história e o ambiente em que vivia. Costumava dizer que seus doces eram obras melhores do que seus poemas escritos em papel pautado. 

Aos 88 anos enviou para Jorge Amado, que morava em Salvador, uma carta e alguns de seus doces. O ilustríssimo baiano escreveu uma carta agradecendo o carinho... 


Prezada amiga, dos doces posso dizer que são sublimes e divinos e ainda digo pouco. Da gentileza de enviá-los, nada posso dizer, faltam-me as palavras para agradecer tanta civilização. A senhora é uma artista, admirável em sua arte, a mais nobre das artes, a da culinária. 
Ao demais, sinto-me feliz de contar com mais uma amiga em Goiás – eu e minha mulher, Zélia. Receba um beijo dela e outro afetuoso de Jorge Amado. 


Depois, Jorge Amado e sua esposa Zélia Gattai foram até a casa da companheira de letras para conhece-la pessoalmente. Entre doces e manuscritos estava selado este grande encontro. 

Apenas em 1979, graças aos elogios e aos esforços do também poeta Carlos Drummond de Andrade, de quem se tornaria amiga, trocando correspondências durante anos, sua poesia despertou o interesse do público e ganhou projeção nacional. Ele passou a chamá-la de Diamante Goiano

Tudo começou com esta carta: 


Cora Coralina. 
Não tenho o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, seu verso é água corrente, seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais. Ah, você me dá saudades de Minas, tão irmã do teu Goiás! Dá alegria na gente saber que existe bem no coração do Brasil um ser chamado Cora Coralina. 
Todo o carinho, toda a admiração do seu.
(Rio de Janeiro, 14 de julho de 1979


Em que ela respondeu: 


Carlos Drummond de Andrade. Meu amigo, meu Mestre. 
Com alguma demora no recebimento de sua mensagem e maior da minha parte, vai aqui na pobreza deste papel de que só vale o branco, meu agradecimento àquele que de longe e do alto atentou para a pequena escriba, sem lauréis e sem louros, sem referências a mencionar. Sua palavra, espontânea e amiga, fraterna veio como uma vertente de água cristalina e azul para a sede de quem fez longa e dura caminhada ao longo da vida. Abençoado seja o homem culto que entrega ao vento palavras novas que tão bem ressoam no coração de quem tão pouco as tem ouvido. Despojada de prêmios e de láureas caminha na vida como o trabalhador que bem fez rude tarefa, sozinho, sem estímulos e no fim contempla tranquilo e ainda confiante a tulha vazia. 
Meu Mestre. Meu Irmão. Que mais acrescentar? Eu sou aquela menina despenteada e descalça da Ponte da Lapa. Eu sou Aninha. (cidade de Goiás, 02 de setembro de 1979


A casa em que viveu os primeiros anos de sua vida, na Cidade de Goiás, tornou-se o Museu Cora Coralina em homenagem a sua história de vida e a sua obra. Na sala despojada há uma foto na parede que explica a muleta encostada na cadeira de formas simples; na cozinha, enormes panelas de cobre guardam o segredo de seus quitutes; no quarto pequeno, vestidos leves estão pendurados e uma máquina de escrever (ela aprendeu datilografia aos 70 anos) orgulhosa das mãos que em suas teclas criaram prosa e poesia. 

O município foi considerado pela UNESCO, em 2001, um Patrimônio Histórico e Cultural Mundial por sua arquitetura barroca peculiar, suas tradições culturais seculares e pela natureza exuberante que o circunda. 





Doceira de profissão e com pouca instrução escreveu belas e delicadas poesias que falavam do dia a dia, cheias de minúcias e sabedoria próprias de quem não passou a vida somente observando, mas vivendo. Sua obra defende as classes marginalizadas, desde as lavadeiras até as prostitutas, denunciando a atitude repressiva e o abuso de poder de policiais e homens da cidade. 


Mulher Da Vida 

Mulher da Vida,

Minha irmã.

De todos os tempos.

De todos os povos.

De todas as latitudes.

Ela vem do fundo imemorial das idades

e carrega a carga pesada

dos mais torpes sinônimos,

apelidos e ápodos:

Mulher da zona,

Mulher da rua,

Mulher perdida,

Mulher à toa.

Mulher da vida,

Minha irmã. 

(poema de Cora Coralina)


Somente nos últimos anos ganhou reconhecimento, participou de conferências, programas de televisão e foi agraciada com o título de Doutora Honoris Causa da UFG. Recebeu o Prêmio Juca Pato da União Brasileira dos Escritores, como intelectual do ano 1983, com o livro Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha. E em 1984 foi nomeada para a Academia Goiana de Letras, ocupando a cadeira nº 38. 

Aos 95 anos, Cora Coralina faleceu de pneumonia em Goiás, no dia 10 de abril de 1985. 

Em 1999, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, sua principal obra, foi aclamada por um seleto júri organizado pelo jornal O Popular, de Goiânia, como sendo uma das 20 obras mais importantes do século XX. Postumamente, em 2006, ela recebeu a condecoração de Ordem do Mérito Cultural em reconhecimento por sua contribuição à cultura do Brasil. 

Os versos de Cora Coralina, impulsionados pelo compartilhamento nas redes sociais, ganham cada vez mais admiradores e confirmam que o tempo é apenas um detalhe e que o lirismo, a sutileza e o universo pitoresco de sua poesia são poderosos demais para serem deixados de lado. Aninha, como ela mesma se chamava, tornou-se uma das mais celebradas poetas do país

Sem se considerar feminista, Cora se impôs em uma sociedade machista e conservadora e estava à frente de seu tempo e de seus contemporâneos escrevendo sem as rédeas tradicionais de uma poesia métrica. Ela rompeu limites e criou seu estilo que ecoaria em gerações futuras. 



 Doe livros, presenteie livros ou, apenas, indique livros. 

Incentive a leitura! 






Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss 



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“Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores.” – Cora Coralina.

Vamos deixar o planeta mais florido!

Beijos mil! :-)




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