O Poder Das Palavras Em “1984”

Olá, Perdidos! Imagine um lugar em que até seus pensamentos podem ser vigiados. Em que ideias podem transformá-lo em um inimigo do Estado. Por isso tome cuidado com a Polícia do Pensar ou vai parar numa cela. O Grande Irmão vê tudo, sabe tudo e está em toda parte. Em 1984, de George Orwell, esse lugar existe e se chama Oceania. Uma obra atemporal e atual que provoca muitos questionamentos. 





Winston Smith, 39 anos, trabalha no Ministério da Verdade e sua função é alterar os fatos transmitidos nas notícias e transformá-los em verdades que se adequem aos interesses do Partido. Talvez por essa razão, ele se questione sobre o poder totalitário representado pelo Partido que comanda a nação Oceania, além de seu líder supremo, o Grande Irmão, que está sempre vigiando seus cidadãos. 

Uma vez que o Partido mantém uma doutrina implacável sobre os indivíduos que devem acatar como verdade todas as determinações do Grande Irmão, Winston se pergunta se ele é o único que tem essas dúvidas e se de fato a Irmandade, um grupo de opositores ao governo, existe. 

Então, ele se rebela do único modo que pode e passa a escrever em um diário, um ato tão subversivo que é passível de morte apenas por ser imaginado. A trama se complica, realmente, quando Winston se apaixona por Júlia, uma colega de trabalho, e ambos passam a nutrir uma revolta secreta contra o Partido. 





Guerra é Paz. 

Liberdade é Escravidão. 

Ignorância é Força. 

Esse é o lema do Partido que aparece em cartazes em todos os cantos de Oceania com o rosto do Grande Irmão sempre observando. Afinal, no mundo criado por Orwell, o Partido sempre zelou por você, cuidou de você. Não há comprometimento ou afeto nas famílias e amizades. O único amor permitido é pelo Grande Irmão e sua total obediência se deve exclusivamente ao Partido. 

2+2=4 


A liberdade é a liberdade de dizer que dois mais dois são quatro. Se isso é garantido, tudo decorre daí. 


O mundo está dividido em três superestados aparentemente tirânicos – Oceania, Eurásia e Lestásia – que estão em guerra incessantemente, ora um bloco é aliado e o outro inimigo, ora é o inverso, mas para a compreensão da população o confronto é sempre com a mesma potência. O Partido, através dos produtos Victory que estão por toda a parte, não permite que você esqueça a glória e a magnanimidade de quem é o responsável por vencer a guerra e por deixar sua vida muito melhor. 

2+2=4 

Mas, Winston nutre um ódio crescente pelo Partido. Todos os dias coloca uma máscara de indiferença para que não percebam seus pensamentos insurgentes. Nem em sua casa ele pode deixar essa máscara cair, pois é vigiado pela teletela, equipamento instalado em cada residência. Impossível de ser desligada, a teletela transmite propaganda do governo ininterruptamente enquanto espiona os cidadãos. 

2+2=4 

Amores secretos e pensamentos não estão à salvo em Oceania. Winston pensou diferente e por isso é um criminoso, principalmente quando se envolveu romanticamente com Júlia. E quando o Grande Irmão detecta qualquer opinião divergente, aciona a Polícia do Pensar que o tornará uma despessoa, termo da Novilíngua para alguém que foi apagado da história e que nunca existira de fato, “vaporizado era a palavra usual”. 


O rosto de bigode preto vigiava de todos os cantos. O GRANDE IRMÃO ESTÁ TE OBSERVANDO, dizia a legenda, enquanto os olhos escuros encaravam profundamente os de Winston. 






2+2=4 

Novilíngua. É interessante acompanhar o funcionamento desse governo totalitário. E se você não conseguisse sequer encontrar uma palavra para expressar sua indignação, sua revolta ou seus sentimentos? E se essa palavra nem mesmo existisse? O Partido pensa em tudo. Não basta calar os opositores, tem que reformular o idioma e inverter o sentido das palavras. Foi o golpe de mestre para impedir as pessoas de se expressarem fora daqueles vocábulos criados para a Novilíngua

2+2=4 


Quem controla o passado, controla o futuro: quem controla o presente, controla o passado. 


Tal controle torna inconcebível um passado sem o Grande Irmão. Parece que ele sempre esteve lá. E se certos fatos desse passado não interessam mais ao Partido somem nos buracos da memória, uma espécie de lixeira-fornalha que constata “a mutabilidade do passado” concebida em fogo. São as fake news pela preservação da total submissão do povo. 

2+2=5 


– Como posso deixar de ver o que está diante dos meus olhos? Dois mais dois são quatro. 

– Às vezes, Winston. Às vezes são cinco. Às vezes são três. Às vezes são todas essas opções ao mesmo tempo. 


E o que falar do Grande Irmão, símbolo-mor do Partido? Ele é onisciente, onipresente e onipotente. Não há como escapar. Alguém conseguiria escapar de Deus? Sim, um deus que como tudo em que o Partido coloca as mãos tem seu significado torcido e retorcido até ficar distorcido. 





O livro é narrado em terceira pessoa e o ano, de acordo com Winston, pode ser 1984, mas não há certeza disso, ninguém mais conta, ninguém mais sabe, ninguém mais se importa. 

George Orwell criou uma narrativa que vai além do limite que um governo consegue controlar seu povo. Será? Vale lembrar que a História está aí para mostrar que Hitler alcançou feito parecido com os alemães. 


– O verdadeiro poder, o poder pelo qual temos que lutar dia e noite, não é o poder sobre as coisas, mas sobre os homens. 


Volta e meia durante a leitura me perguntava se existiam mais pessoas como Winston. Talvez existissem e não se questionassem por pura sobrevivência ou, simplesmente, sequer se importassem. Vai saber. 

O livro é um superclássico dos universos distópicos que influenciou vários outros autores. Acredito que vocês já tenham lido ou assistido a filmes em que a opressão das classes, a violência do governo, a tortura política, a alienação do povo e a distorção da verdade são a forma de controle da população por um regime autoritário. 


Os pássaros cantavam, os proletas cantavam. O Partido não cantava. 


Abaixo, o trailer da adaptação para o cinema de 1984, lançado em 1984. 



Sempre tive vontade de ler 1984, com aquele receio de que fosse uma leitura difícil. E de certo modo foi porque essa história me deixou muito inquieta. Ela é intensamente sufocante e deixa aquela sensação de impotência no início, no fim e no meio, mais ou menos como diria Raulzito. 

O autor foi ao extremo e através do martírio de um homem comum expôs a ditadura e a censura como um mal que devem ser eliminados de imediato. Alertou para as pessoas não caírem nas armadilhas impostas por falsas promessas, de falsos messias, sendo concretizadas apenas em falsas notícias (as tão populares fake news). 

Um povo não pode deixar que suas memórias sejam apagadas, pelo contrário, elas devem ser sempre resgatadas e acionadas para impedir sistemas tóxicos no poder. Leitura imprescindível! 




FICHA TÉCNICA 

Título: 1984     
Título Original: Nineteen Eighty-Four (1984)   
Autor: George Orwell   
Ilustração: Rafael Coutinho 
Apresentação: Gregório Duvivier 
Ano: 2021 
Páginas: 439  
Editora: Antofágica 
Gênero: Clássico da Ficção Distópica    
Tradutor: Antônio Xerxenesky   
  


AUTOR  



Eric Arthur Blair, mais conhecido como George Orwell, pseudônimo usado para assinar obras literárias e artigos jornalísticos, nasceu em 25 de junho de 1903, em Bengala, na Índia Britânica. Seu pai era britânico e sua mãe tinha origem francesa e ainda menino mudou-se com a família para o Reino Unido.  

Defensor do pensamento livre, antifascista e a favor da democracia, Orwell ficou conhecido pelo texto de fácil compreensão, sem os habituais floreios. Suas obras reafirmam suas posições ideológicas e políticas. 

Uma curiosidade é que, graças a uma bolsa de estudos, entre os 14 e 18 anos estudou no Eton College, escola da elite, e lá teve como professor ninguém menos do que Aldous Huxley (autor de Admirável Mundo Novo), que na época lecionava francês e alguns anos depois se tornaria um dos mais famosos escritores ingleses. 

Alistou-se na Polícia Imperial da Índia, lavou pratos num hotel de luxo, trabalhou numa livraria, lutou na Guerra Civil Espanhola contra os fascistas (onde levou um tiro no pescoço que quase tirou sua vida) e escreveu para os jornais The Tribune, The Observer e Manchester Evening News, entre outras coisas. 

Após escrever alguns romances, memórias e ensaios conseguiu publicar em 1945 a fábula A Revolução dos Bichos (Animal Farm) que a princípio foi recusada por seu teor altamente político. 

Em 1949 publicou 1984, a obra mais lida em todo o mundo no século XX e dele saiu a expressão Big Brother (Grande Irmão) que tudo e todos vigia. 

Muitos críticos consideram tanto A Revolução dos Bichos quanto 1984 como as obras-primas de George Orwell.  

Em Londres, Inglaterra, no dia 21 de janeiro de 1950, George Orwell, um ano após concluir e publicar 1984 e com 46 anos, faleceu vítima de tuberculose, diagnosticada em dezembro de 1947. Em seu túmulo consta apenas seu nome de batismo e não menciona seu tão famoso pseudônimo. 




Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss 



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