Fundando “A Igreja Do Diabo”

Olá, Perdidos! Já parou para pensar como seria se existisse uma Igreja do Diabo espalhada pelo mundo? Com rituais e dogmas que competissem em igualdade com a liturgia e tudo mais da Igreja de Deus? Tendo o próprio líder, ao vivo e em cores, angariando novos seguidores? Pois é. Um dia o diabo pensou nisso e Machado de Assis, também, quando escreveu o conto A Igreja Do Diabo





O Diabo está cansado de tanta desorganização em seus domínios e sente-se humilhado por receber sempre os restos de Deus. Decide dar um basta e fundar sua própria igreja na terra. Uma cartada espetacular para derrubar o Criador. 

Cheio de arrogância pela estupenda ideia que teve, voa pelos céus até Deus para lhe comunicar suas intenções. Os dois debatem, cada um defendendo seus pontos de vista, e Deus manda o diabo fazer o que deve fazer. 

Chegando à terra, o diabo, mais do que depressa cria sua igreja, junta seguidores e proclama a total anarquia moral. Garante que é com ele que está a verdade e que os antigos conceitos apregoados eram falsos. Sua igreja vira um sucesso mundial e, felizes, todas as pessoas se convertem às novas regras. 

Ele só não contava com o ser humano. 



Não tarda muito que o céu fique semelhante a uma casa vazia, por causa do preço, que é alto. Vou edificar uma hospedaria barata; em duas palavras, vou fundar uma igreja. 




Esse conto é bem curtinho e se divide em quatro partes: I- De uma ideia mirífica, II- Entre Deus e o Diabo, III- A boa nova aos homens, IV- Franjas e franjas. Cada parte define uma etapa de concretização da igreja do diabo: a sua concepção, a notificação a Deus, sua realização na terra e seu espanto ao ser surpreendido por seus servos realizando práticas da antiga religião.  

Pelo conto dá para notar que Machado é um observador da natureza humana e não se poupa em desfiar o rosário. Relata vários defeitos humanos, como inveja, traição, ira, gula, soberba, luxúria, preguiça, avareza, além de atitudes tortuosas e muito mais. Transgressões já conhecidas pelo diabo que concentra todas elas de modo sedutor em seu discurso de aceitação pelos Homens. Verdade que não precisou de muito esforço para reunir seguidores para sua igreja. 

Porém, Machado percebe algo que o diabo não se dá conta a tempo. Percebe que o ser humano, a maior conquista do diabo por sua natureza pecaminosa, é um ser contraditório. E é justamente essa incoerência a responsável pelo total fiasco do plano do diabo: no mundo todo as pessoas transgridem as ordens de transgredir as leis dos homens e as leis divinas, numa ironia divertida e, até mesmo, cômica (não para o diabo, é claro!). 


Vai, vai, funda a tua igreja; chama todas as virtudes, recolhe todas as franjas, convoca todos os homens... Mas, vai! vai! 


De um lado está o pedante Diabo que se torna o líder religioso supremo da anarquia, oferecendo o paraíso na terra, e que fica aturdido quando seus servos não conseguem ser inteiramente maus. Do outro lado está Deus, extremamente paciente, e que mostra já estar acostumado aos achaques de sua criação e não se surpreende quando as pessoas praticam antigas virtudes às escondidas. 





O texto é jocoso e embora estejamos falando do diabo, não há nada aterrorizante nele, muito pelo contrário, chega a dar pena de tão atabalhoado em seu quase golpe de mestre contra Deus. O conto é muito bem escrito (dããã, é Machado de Assis!), com um ritmo animado e se mantém muito atual, pois fala da característica básica dos seres humanos: sua dualidade. Sem perceber, refletimos sobre nossa própria essência e como nunca nos encontramos num estado de satisfação completa, sempre à procura de algo que nos pareça melhor. 

A Igreja Do Diabo foi publicado pela primeira vez na Gazeta de Notícias em 1883 e no ano seguinte integrou o livro Histórias Sem Data. O conto faz parte do Realismo, um movimento artístico-literário que critica a humanidade e a sociedade, e que surgiu em oposição ao Romantismo. Machado de Assis se preocupava em retratar a essência do Homem que neste conto hilário, deixa claro não ser nem bom, nem mau, apenas humano. 

Não perca o humor sutil de Machado de Assis e vá logo ler este conto maravilhoso.  



Autor: Machado de Assis   
Título: A Igreja do Diabo 
Ano: 1884 
Gênero: Conto de Ficção     




Até a próxima! 
Beijos mil! :-)

Criss 



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