Olá, Perdidos! Quem diria que um imortal iria escrever um conto sobre imortalidade! Vou explicar. Esse imortal é nada mais nada menos que Machado de Assis que junto com alguns colegas fundou a Academia Brasileira de Letras, lar dos imortais brasileiros. E o Bruxo do Cosme Velho escreveu um conto chamado O Imortal, no qual passeia pelo gênero de Ficção Científica, lá nos idos de 1882.
Pois é. E hoje, dia 11 de dezembro, é celebrado o Dia da Ficção Científica Brasileira. E quem diria que com o conto O Imortal Machado de Assis se tornaria um dos precursores do gênero da Ficção Científica Brasileira. Coisas da vida.
O conto começa com um médico homeopata, em 1855, chamado Dr. Leão afirmando que seu pai nascera em 1600 na cidade de Recife, ou seja, ele tinha duzentos e cinquenta e cinco anos de idade, mas com a aparência de quarenta. Tal história mirabolante era contada a dois perplexos ouvintes, o Coronel Bertioga e o tabelião de uma vila no Rio de Janeiro.
Céticos, “porque na verdade a história de meu pai não é fácil de crer”, revelou em poucos minutos as aventuras de seu pai pelo mundo afora, aprendendo vários idiomas, trabalhando em vários negócios e amando várias mulheres (por volta de umas cinco mil!). Tornou-se testemunha e participante direto de vários acontecimentos históricos, sobrevivendo a guerras, sentenças de morte, duelos e traições.
Inclusive esclareceu como seu pai Rui de Leão ou Rui Garcia de Meireles e Castro Azevedo de Leão tornou-se imortal ao beber um elixir indígena e como ele acabou morrendo por vontade própria.
Assim, “excitada a curiosidade, não foi difícil impor-lhes silêncio” até a história chegar ao seu fim.
Já agora a morte era certa, que perderia ele com a experiência? A ciência de um século não sabia tudo; outro século vem e passa adiante. Quem sabe, dizia ele consigo, se os homens não descobrirão um dia a imortalidade, e se o elixir científico não será esta mesma droga selvática? O primeiro que curou a febre maligna fez um prodígio.
Desde sempre o ser humano procura sobreviver à morte, mas no conto Rui de Leão destaca os problemas que ninguém pensa antes de atravessar anos sem fim sem poder morrer, como
- o tédio de não existir nada que não tenha experimentado, vivido ou conhecido, tornando a vida uma mera repetição sem fim;
- o sofrimento pela perda dos amores e amigos;
- a mudança de cidade em cidade a cada 12 ou 15 anos para não levantar suspeitas sobre sua condição de imortal;
- e, principalmente, a solidão de ser o único em sua situação e não poder compartilhar suas mazelas da alma.
Uma vida que perde o sentido de sua própria existência ao perdurar exageradamente.
Aqui o narrador da história é um médico homeopata, o filho de Rui de Leão, que expõe a ciência lógica da medicina em contraste ao elixir indígena, místico, que transforma seu pai em imortal. Ciência versus Magia. Similia similibus curantur (do latim, os semelhantes curam-se pelos semelhantes), o princípio fundamental da homeopatia em que os remédios que curam produzem efeitos aos da própria doença e que nosso personagem imortal adota no final.
Estes ouviram o depoimento do magistrado, do padre, do carrasco, de alguns soldados, e concluíram que, uma vez dado o golpe, os tecidos do pescoço ligavam-se outra vez rapidamente, e assim os mesmos ossos, e não chegavam a explicar um tal fenômeno.
A temática da história é atemporal e continua fascinando as pessoas. Quem nunca pensou o que faria se fosse imortal? Para aumentar a tensão, a história é narrada em uma noite de novembro escura como breu e chuvosa. A narrativa é empolgante, pois Rui de Leão é um personagem interessante e cativante que não só atravessa a história como a vivencia até redescobrir sua humanidade.
Gostei bastante do conto. O personagem se vê preso na imortalidade de uma vida plena em possibilidades restritas e repetitivas.
Tudo bem que ele não pediu para ser imortal, mas procurou se curar de uma doença fatal, afinal... e se o elixir desse certo? Você não experimentaria? Quem não quer viver para sempre? Quem quer viver para sempre?
FICHA TÉCNICA
Autor: Machado de Assis
Páginas: 707 (ebook)
Gênero: Clássico (artigos, histórias e contos)
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