O Mundo Invertido De “Coraline”

Olá, Perdidos! Contos de fadas nem sempre são envoltos em flores de suaves aromas e felicidade extrema, há muita névoa sombria que paira sobre os heróis e obstáculos que devem ser ultrapassados por eles antes de resgatarem o prêmio no final. Mesmo nos contos de fadas modernos como Coraline, de Neil Gaiman, que conta uma história assustadora sobre uma menina corajosa. 




A história gira em torno de Coraline, uma menina de férias escolares que acaba de se mudar com a família para um antigo casarão transformado em apartamentos. No apartamento abaixo do dela moram as Srtas. Spink e Forcible, duas atrizes aposentadas do teatro. O que fica acima do dela, mora um velho que treina ratos para uma apresentação circense. E o apartamento ao lado do dela está vazio. 

Seus pais, sempre ocupados, não conseguem espantar a monotonia da menina que recorre às explorações da casa, dos vizinhos e do quintal para se distrair.  

E nessas diligências pela casa que Coraline descobre, na sala de visitas a qual era proibida de ir, lá num canto afastado, uma porta de madeira escura que está trancada. Ao ser aberta pela mãe, a porta dá estranhamente para uma parede de tijolos vermelhos. 

Certa manhã de tédio, quando a mãe vai ao mercado, ela pega um molho de chaves e vai até a porta de madeira escura e a destranca, mas a parede de tijolos não está mais lá. Ela vê um corredor frio com cheiro de mofo. 

Sem pensar duas vezes, Coraline atravessa a porta e encontra do outro lado seus Outros Pais, mais brancos e com olhos de botões negros. Diferente de seus pais verdadeiros, eles são bem mais atenciosos, divertidos e fazem de tudo para agradá-la. Uma tentação para uma menininha. 

Será que Coraline vai voltar para sua casa ou ficar nesse outro mundo? 


Então Coraline escovou os dentes e foi ao escritório do pai. Ligou o computador e escreveu uma história: 

A HISTÓRIA DE CORALINE 

Era uma vez uma garota que se chamava Maçã. Ela dançava muito. Ela dançou e dançou até seus pés virarem xauxixas. Fim. 


                                                                                                                 

Pois é. Eu nunca tinha lido Coraline e olha que adoro Neil Gaiman. Pode isso, Arnaldo? Grande falha que foi resolvida agora. 

Nessa edição de luxo lindíssima da Intrínseca, em capa dura, com fitilho, corte roxo e lindas ilustrações de Chris Riddell também em roxo abrindo cada capítulo, além de contar com uma nova tradução, a leitura se tornou obrigatória. Chegou a hora de ler. 

É mais do que claro que adorei. A leitura é maravilhosa! Não tem como não gostar da escrita de Gaiman e da menininha pra lá de corajosa que é Coraline, atraída para um mundo às avessas, com meras sombras da realidade. Uma cópia macabra e malfeita de seu mundo, onde seus Outros Pais têm olhos negros feitos de botões, sem vida e sem expressão. 




A Outra Mãe, que no original em inglês chama-se Beldam e no filme é Bela Dama, oferece a Coraline um mundo muito melhor, com tudo que deseja e mais divertido. É claro que quando a esmola é grande..., principalmente se esse presente vem de uma mãe com olhos de botões pretos. Alerta ligado! 


– Coraline? – perguntou a mulher. – É você? 

Então a mulher se virou. Seus olhos pareciam grandes botões pretos. 


Nessa aventura invertida e apavorante, Coraline começa a compreender que não quer ter tudo que deseja de uma vez, nem se lambuzar com as guloseimas mais suculentas ou comer seu prato predileto sempre que quiser. Nada disso. E que apesar das broncas e dos castigos, ela quer sonhar, brincar e viver junto com seus verdadeiros pais. 

E quanto mais tempo ela passa no mundo atrás da porta mais ela vai se conhecendo e se transformando. A menina impaciente, curiosa e aventureira que se esquece de quem é e onde está quando sonha acordada em desbravar o Ártico, a África inexplorada ou a floresta Amazônica se torna uma menina cheia de coragem e determinação. Não haveria mais nada que a deixasse com medo ou assustada. 

Nesse mundo paralelo, ela conta com a ajuda de um gato preto falante e muito esperto que não perde tempo em dar sua opinião sarcástica ou deixar um pensamento no ar. É o único personagem que zanza pelos mundos e não tem uma versão inversa com botões no lugar dos olhos. Quero esse gato pra mim! 


– Gatos não têm nomes – disse ele. 

– Não? 

– Não. Vocês, pessoas, têm nomes. É porque vocês não sabem quem são. Nós sabemos quem somos, então não precisamos de nomes. 



Na Introdução do próprio autor, descobrimos que o livro começou a ser escrito muitos anos antes para sua filha mais velha, Holly, na época em que morava na Inglaterra, e acabou sendo finalizada para a filha mais nova, Maddy, seis anos após sua mudança para os Estados Unidos. Apesar da longa pausa entre o início da escrita e sua retomada é imperceptível qualquer mudança no texto e a leitura flui sem problemas. 

Outras curiosidades são: o nome Coraline, o ambiente em que a história foi desenvolvida, onde foi escrita e em que circunstâncias. Se quiser pular por achar que vai estragar sua leitura, tudo bem, mas não deixe de ler depois. É um tesouro à parte. 




Podemos dizer que Coraline é a versão moderna e dark de Alice no País das Maravilhas. Uma luta do bem contra o mal numa mistura de encantamento com aterrorizante que só Gaiman é capaz de produzir. E para mim, Coraline é bem mais simpática e educada que Alice. 


– Porque coragem é quando você sente medo de fazer algo, mas faz mesmo assim, é quando você enfrenta o medo – respondeu ela. 


Uma história fascinante. Um livro para todos. Afinal, um conto de fadas não é feito para entreter apenas as crianças, é feito para agradar as pessoas de todas as idades. Basta acreditar no amor e na magia. 

Se você encontrar uma porta trancada... Cuidado! Lembre-se de que nem todos os segredos devem ser libertados e que certas portas nunca devem ser abertas.  




Para ampliar a experiência assista ao trailer da adaptação feita para o cinema e que foi a primeira animação stop-motion criada originalmente para o formato 3D. 


FICHA TÉCNICA 

Título: Coraline   
Título Original: Coraline   
Autor: Neil Gaiman   
Ano: 2020 
Páginas: 224  
Editora: Intrínseca 
Gênero: Conto de Fadas / Terror  
Tradutor: Bruna Beber   

AUTOR



Neil Richard Gaiman ou Neil Gaiman, como é mais conhecido, nasceu em 10 de novembro de 1960 em Portchester, Hampshire, Inglaterra. 

Seu amor pelos livros começou na infância quando devorava as histórias de C.S. Lewis, J.R.R. Tolkien, James Branch Cabell e Edgar Alan Poe, entre vários outros autores. 

Antes de conseguir publicar suas histórias trabalhou como jornalista, mas seu talento o levou para o mundo das HQ’s, com a aclamada série Sandman, e depois para a ficção adulta e infanto-juvenil. 

Em 1990 publicou Belas Maldições (Good Omens), seu primeiro romance, em parceria com Terry Pratchett. E em 1997, Lugar Nenhum (Neverwhere), seu primeiro romance solo. 

Suas obras receberam inúmeros prêmios como Hugo, Nebula e Bram Stoker. Ele é o primeiro autor a ganhar as medalhas Newbery e Carnegie pelo mesmo trabalho, O Livro do Cemitério (The Graveyard Book), de 2008. Em 2013, O Oceano no Fim do Caminho (The Ocean at the End of the Lane) foi eleito o Livro do Ano no British National Book Awards. 

O autor é conhecido também por Deuses Americanos, Coraline, Mitologia Nórdica e Stardust – Mistério da Estrela e as releituras de clássicos como João e Maria e A Bela e a Adormecida

Várias de suas obras foram adaptadas em versões bem-sucedidas para cinema, televisão e até ópera, como Coraline

Atualmente Gaiman é casado com a cantora e artista Amanda Palmer e vive perto de Minneapolis, nos Estados Unidos, país para onde se mudou em 1992 a fim de ficar perto dos 3 filhos de seu primeiro casamento. 


Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss 

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