O “Senhor Das Moscas” Perdido Na Ilha

Olá, Perdidos! Um grupo de crianças sofre um acidente de avião e vai parar numa ilha deserta. Estão sozinhos e sem nenhum adulto por perto, o que parece até um sonho. Melhor impossível. Será mesmo? Em Senhor Das Moscas, William Golding nos mostra que as coisas nem sempre são o que parecem ou deveriam ser.  




Em plena Guerra, um avião cai numa ilha tropical desabitada e seus destroços somem no Oceano Pacífico. 

À princípio, os únicos sobreviventes que temos conhecimento são Ralph e Porquinho, dois meninos que encontram uma concha e com ela emitem um apito para reunir outros sobreviventes que podem estar perdidos na ilha. O chamado surte efeito e vários meninos ingleses de idades variadas surgem.  

Escolhido numa votação democrática para ser o chefe, Ralph procura coordenar o grupo a formar uma fogueira, cuja fumaça possa ser avistada por algum navio ou avião e assim serem resgatados. Enquanto aguardam o salvamento, os garotos, inspecionam a ilha e descobrem frutas e porcos. Ralph tem como política se divertirem, sobreviverem e sempre manterem a fumaça nos céus.  

Jack é o chefe dos caçadores do grupo e um dos garotos maiores, como Ralph. Aos poucos começa uma disputa pelo poder de liderança com Ralph, que tem em Porquinho um fiel amigo e uma espécie de conselheiro. 

Enquanto um monstro parece surgir na ilha, a rivalidade entre eles fica cada vez mais acirrada e a selvageria toma o lugar da civilidade. 


Para quem não sabe, o senhor das moscas é uma representação física do mal e significa Belzebu, um dos nomes do diabo. Um ser capaz de voar, associado à pestilência e à crueldade. Logo, era inevitável um livro onde a civilidade se corrompe e a essência do ser humano entra em pauta

A pilha de vísceras se convertera num enxame negro de moscas que zumbiam como uma serra. E depois de algum tempo encontraram Simon. Empanturradas, pousavam à beira dos filetes de suor para beber. Faziam cócegas debaixo do nariz do menino, e brincavam de saltar carniça em suas coxas. Eram incontáveis, negras e de um verde iridescente; e diante de Simon, o Senhor das Moscas seguia preso à sua estaca, mostrando os dentes. 

O livro é fácil de ler, sem floreios, sem descrições demoradas. Os garotos estão numa ilha desabitada e idílica, com rochas, floresta, piscina natural na praia, frutas silvestres e porcos. Tudo muito simples. Um paraíso infanto-juvenil cheio de brincadeiras, caçadas, banhos de mar... Só que não! As tentativas de formar uma sociedade independente e autossustentável vão caindo por água abaixo e o grupo acaba cedendo aos instintos mais cruéis. Nada mais é tão simples. É cru. Forte. A humanização perde espaço para a bestialidade.  

A Ilha dos Corais, do escocês RM Ballantyne serviu de inspiração direta para o romance e personagens de Senhor das Moscas. Golding escreveu de acordo com sua visão de mundo, noventa e sete anos após a publicação de Ballantyne (1857), invertendo totalmente a moralidade de sua história. Aqui, o paraíso se transforma numa carnificina. 

A história gira em torno de quatro personagens principais: 


  1. Ralph – o garoto gente boa que é escolhido por todos como líder, afinal de contas, ele tem a concha que reuniu todos os garotos da ilha. Ele organiza o que cada um tem que fazer e decide armar uma fogueira para serem localizados; 
  2. Jack – o chefe do grupo de caçadores. Ele é o responsável por prover carne e proteção ao grupo; 
  3. Porquinho – o gordinho que usa óculos. O motivo de chacota da garotada. Ele é o mais inteligente do grupo e se preocupa com os garotos menores, além de ser o conselheiro de Ralph; 
  4. Simon – o garoto caladão e diferente da turma. Ele é o primeiro a perceber realmente que existe um monstro na ilha e quem ele é de verdade. 


A ordem sobre o caos. A concha é o símbolo da liderança e da democracia. Ralph usa a concha pela primeira vez para guiar os demais sobreviventes até ele e depois é escolhido como líder numa votação direta, estabelecendo a democracia, onde cada um pode falar abertamente e expor suas ideias, suas opiniões e seus medos e serem ouvidos. Mas, mais do que isso, ela representa o conflito entre a civilização e a selvageria




Começou a dançar, e seu riso se transformou num esgar sanguinário. Aproximou-se de Bill e a máscara parecia uma coisa autônoma, por trás da qual Jack se escondia, liberado da vergonha e da noção de quem era. 

O autor dá uma chance a esses meninos deixando-os afastados de um mundo adverso. Eles podem reinventar o futuro a seu bel prazer, mais promissor e justo e, assim, sem pressões externas serem capazes de formar em uma pequena aldeia, seu paraíso particular, onde as sombras do mal e da guerra atômica são apenas miragens apagadas pelo vento. A sociedade ideal existe? Para Golding a resposta é não e, em sua visão pessimista do ser humano, seus garotos britânicos nunca tiveram uma chance real.  

Isolados, esses garotos procuram se adaptar a essa nova realidade passageira? e tentam conceber uma sociedade onde os recursos fartos e naturais da ilha, além de seus sonhos e faz-de-conta, formariam a base para o bem-estar do grupo. 


  • Uma rave sem hora para acabar. No início se encontram numa anarquia, onde cada um faz o que quer, sem responsabilidades e apenas comem frutas, nadam, se divertem e sonham com monstros. 
  • Uma festa com horário para terminar. Depois, através de uma eleição direta, surge a democracia, onde a concha é seu símbolo maior. Tarefas e obrigações são divididas entre eles. 
  • Festa para quê? Aos poucos, o esquema democrático começa a apresentar falhas e os garotos já não fazem o que combinaram. Esse momento de apatia é perfeito para que um deles se aproveite e estabeleça uma ditadura, onde falhas não são toleradas, resultando numa repreensão rápida e pungente. 


O que vocês preferem – ter regras e estar de acordo, ou caçar e matar? 

É incrível perceber como através de simples crianças inocentes, o autor nos mostra nossa própria barbárie. Somos puramente animais enjaulados em prisões sem paredes, seguindo regras e leis impostas que nos impedem de extrapolar e mostrar nossos verdadeiros rostos pintados e prontos para o ataque? Uma máscara sempre prestes a cair. Será? 




Há um monstro na ilha e deve ser apaziguado com oferendas. À medida que sua sombra cresce, a civilidade vai desaparecendo. A involução do ser humano é clara e assustadora e a violência desmedida surge por pura diversão. “Se eles tivessem pedido a gente dava. Mas eles roubaram...” E aí outra questão entra no foco. Uma pessoa pode nascer má? A maldade é inerente ao ser humano? Será que as circunstâncias de um desastre manifestam o que há de pior em nós ou acordam o nosso verdadeiro eu? Sinceramente espero que não para nenhuma das perguntas!  

Sempre que pensava no monstro, o que se erguia diante de sua visão interior era a imagem de um ser humano a mesmo tempo heroico e doente. 

Senhor das Moscas foi publicado originalmente em 1954, uma década após as bombas de Hiroshima e Nagazaki e os campos de concentração nazistas, mas trata-se de uma leitura bem atual. Parece que estou online lendo manchetes sobre o crescimento desmedido de discursos de ódio, o namoro com o totalitarismo e a tentativa de subverter atos democráticos. 

Apesar de ser uma história onde os personagens são crianças, não se trata de um livro para crianças. Em hipótese alguma! Várias questões são despejadas nas páginas do livro de forma impactante como a perda da inocência, a luta pelo poder, a natureza do ser humano, a coletividade, a individualidade, a sobrevivência, a moralidade e a imoralidade. Do mesmo modo que o furor bestial dos meninos abre caminho pela força e sepulta a razão, somos guiados em meio a uma intensa e crescente tensão da narrativa. 

As moscas estão cada vez mais perto das pessoas, se infiltrando, formando nuvens negras e densas, zunindo e atiçando seus instintos e provocando pensamentos insanos e violentos. Abra os olhos e espante as moscas. Não deixe de ler essa obra incrível!  



O romance Senhor das Moscas já foi adaptado várias vezes para o cinema, sendo uma dessas adaptações uma versão exclusivamente feminina. 





FICHA TÉCNICA 

Título: Senhor das Moscas   
Título Original: Lord of the Flies   
Autor: William Golding  
Ano: 2014 
Páginas: 224  
Editora: Alfaguara 
Gênero: Romance Alegórico / Ficção  
Tradutor: Sérgio Flaksman  

AUTOR 



William Gerald Golding, conhecido apenas por William Golding, nasceu em 19 de setembro de 1911, numa pequena aldeia em Cornwall, Inglaterra e foi um romancista, dramaturgo e poeta britânico. 

Apesar de seu entusiasmo como escritor ter se manifestado cedo, aos 7 anos de idade, ele trabalhou como ator, músico e professor primário, entre outras atividades.  

Em 1935, lançou seu primeiro livro chamado Poems, uma compilação de poemas. Em consequência do início da Segunda Guerra Mundial, ingressou na Marinha Britânica em 1940 e presenciou ações militares como o afundamento do couraçado alemão Bismarck e o desembarque na Normandia. 

Golding tornou-se mais conhecido por seu romance de estreia Senhor das Moscas ou Lord of the Flies, em inglês, publicado em 1954, depois de ser rejeitado por uma série de editoras. 

Publicou várias obras, entre elas, The Inheritors (1955), Free Fall (1959), The Spire (1964), Darkness Visible (1979) e Rites Of Passage (1980, Ritos de Passagem, em português) que lhe rendeu o prêmio Booker Prize nesse mesmo ano. 

Em 1983 ganhou o Prêmio Nobel da Literatura. E por suas contribuições para a literatura, em 1988 foi investido Cavaleiro e tornou-se Sir William Gerald Golding. 

Em 19 de junho de 1993, aos 82 anos, faleceu em Perranarworthal, Cornwall, de insuficiência cardíaca. 



Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss 



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