Visitando “O Castelo De Otranto”

Olá, Perdidos! Tudo tem um início e na literatura não é diferente. O horror gótico não existia até que O Castelo de Otranto, de Horace Walpole, foi publicado. O sobrenatural e o terror, envoltos sob um nevoeiro gótico inspiraram vários autores como Edgar Allan Poe, Lovecraft e Bram Stoker a escreverem obras inigualáveis e de tanta importância que também serviram de inspiração para vários autores do terror moderno. 




A história começa no dia do casamento de Conrado, filho de saúde frágil de Manfredo, Príncipe e Senhor do Castelo e do Principado de Otranto, com a princesa Isabella, filha do marquês de Vicenza. Contudo, um elmo gigantesco, aparecido do nada, cai em cima de Conrado, matando-o esmagado, dando início a uma antiga e incompreensível profecia em que o castelo e seu comando “deveriam passar da presente família assim que o verdadeiro proprietário crescesse demais para habitá-lo”. 

Manfredo enlouquece e procura culpados para punir pela morte de seu filho. Uma tentativa inútil de ofuscar o verdadeiro motivo pela qual a maldição foi desencadeada. 

Uma vez que a união arranjada com seu único herdeiro homem não foi adiante e vendo no ocorrido uma mensagem de que o fim de sua linhagem está próxima, visto que só lhe restava a filha Matilda, Manfredo decide ele mesmo se casar com Isabella, a despeito de já ser casado com a princesa Hipólita, de quem pretende pedir o divórcio e a qual ele julga ter sido incapaz de ter lhe dado um herdeiro homem à altura. 

Ao ser informada pelo próprio príncipe de seus planos de realizar o casamento com ela, a jovem princesa Isabella se desvencilha de seu pretendente e começa sua fuga pelo castelo onde encontra num camponês chamado Teodoro, o seu salvador. O rapaz ajuda Isabella a se refugiar na igreja local, onde Manfredo não pode tocá-la. 

É claro que Manfredo, ao desconfiar que Teodoro tem algum tipo de relacionamento com Isabella, interferiu em sua fuga e acusou-o pelo envolvimento na morte de seu filho, mandando executá-lo. A partir daí ocorrem vários fatos sobrenaturais e várias revelações que, inclusive, nos fazem pensar na legitimidade do reinado do príncipe. 



Com o avanço da leitura, eu me sentia cada vez mais enredada numa trama recheada de traições, disse-me-disse e loucuras mil com doses incomuns de aparições sobrenaturais. Um elmo gigante que cai do céu, um pé gigante atrás da porta, espectros e sons estranhos, tudo isso ambientado num castelo misterioso onde muitas das cenas acontecem à noite, sob o luar apenas, promovendo o clima sombrio. Um enredo que envolve seus personagens cheios de segredos em equívocos e na loucura obstinada e crescente de Manfredo. 

Este é um mundo mau; não tenho motivos para deixá-lo com remorso. 

Mas, é Manfredo, senhor do Castelo de Otranto e um tirano, o típico vilão com maquinações e perseguições, que faz o castelo ficar cada vez mais assombrado, à medida que avança em seus propósitos insanos. 

As personagens femininas demonstram muita resignação com as vontades do príncipe Manfredo, que é o monarca do local, marido e pai. A passividade e a anuência das mulheres diante do machismo me incomodaram bastante, mas tenho que lembrar que eram outros tempos, metade do século XVIII, mais precisamente do ano 1764, quando a obra foi publicada. E nessa época a obediência da mulher era o mínimo exigido pela sociedade, além de gerar filhos. 

Meu senhor, o que é o sangue? O que é a nobreza? Somos todos répteis, criaturas miseráveis e pecadoras. 

No prefácio para a primeira edição (1764) de seu livro, Walpole alegou que a história era apenas a tradução que William Marshal fez de um manuscrito italiano encontrado em uma biblioteca de uma antiga família católica na Inglaterra e impresso em Nápoles, no ano de 1529, e cujo autor seria Onuphro Muralto, padre da igreja de São Nicolau, em Otranto. 

Contudo, em sua segunda edição, desculpou-se quanto ao prefácio da edição anterior e assumiu por completo a autoria da história que combinou realidade com a mais pura imaginação e disse ter se inspirado em William Shakespeare. E com o Soneto à Justa e Honorável Senhora Mary Coke, Walpole dedicou esta edição de seu livro à nobre inglesa e amiga.  

Além de um novo prefácio, nesta segunda edição o subtítulo de seu livro assumiu o novo estilo literário que seria um modelo para os novos romances: Uma História Gótica

Não há nada bombástico, nem falsidades, floreios, digressões ou descrições desnecessárias. Tudo se encaminha diretamente para a catástrofe. – Horace Walpole, Prefácio da 1ª Edição 



"Ele olhou fixamente sem acreditar no que via."


O Castelo de Otranto, com sua atmosfera soturna, é o berço do estilo gótico, uma obra bastante experimental e genuinamente original de um gênero que se tornou popular e abriu espaço para obras como Frankenstein ou o Prometeu Moderno e Drácula, clássicos de grande notoriedade. 

Nesse momento você se pergunta: mas o que é esse tal de estilo Gótico?  

É basicamente uma obra com castelos sombrios, cemitérios mais sombrios ainda, templos salvadores, onde cavaleiros, donzelas desamparadas e vilões percorrem labirintos escuros, passagens secretas e calabouços pestilentos. Além de muito conteúdo sobrenatural que aterroriza os personagens, como fantasmas, monstros, esqueletos, objetos sinistros, quadros que se mexem sozinhos e barulhos inexplicáveis. Fazendo uso do terror psicológico, provocando o medo com depravações sexuais, deformações e insanidade. 

É um estilo literário ligado ao terror e ao medo e que se alimenta de relatos nefastos de seus personagens. Personagens melodramáticos que procuram nos transmitir suas emoções mais profundas e compartilhar seus demônios internos. 

– Senhor, quem quer que seja, tenha piedade de uma pobre princesa que está à beira da ruína. Ajude-me a escapar deste castelo fatal, ou em alguns momentos poderei me tornar miserável para sempre. 

Nesta obra, considerada o primeiro romance gótico, o horror é o personagem principal. De acordo com Walpole, “o terror, principal mecanismo do autor, evita que o relato definhe”. 

Muitos anos se passaram desde que O Castelo de Otranto foi publicado e de lá para cá muita coisa mudou. Fatores que fizeram os leitores da época chorarem ou tremerem de medo, já não cumprem tanto assim o seu papel. Mas, por se tratar da obra que deu início ao estilo gótico e possibilitou a criação de obras fantásticas da literatura mundial, o castelo de Walpole tem seu valor e por isso recebe quatro robozinhos. 


FICHA TÉCNICA 

Título: O Castelo de Otranto   
Título Original: The Castle of Otranto   
Autor: Horace Walpole  
Ano: 2019 
Páginas: 192  
Editora: Escotilha 
Gênero: Terror Gótico 
Tradutor: Oscar Nestarez / Marcia Men (Prefácio 2ª Edição)  

AUTOR  

Horace Walpole nasceu no dia 24 de setembro de 1717, em Londres, Inglaterra. Era filho do Primeiro Ministro britânico, Sir Robert Walpole e ingressou no Parlamento Inglês em 1741. 

Sua residência chamada de Strawberry Hill, em Twickenham, possuía um estilo neogótico, criando uma tendência arquitetônica. E foi lá que, a partir de 1747, ele passou a imprimir suas obras. 

Aristocrata, com o título de 4º Conde Oford, era também historiador de arte, antiquário, político e romancista. Walpole inaugurou um novo gênero literário de ficção, o chamado romance gótico, com a publicação da obra O Castelo de Otranto (The Castle of Otranto), de 1764. 

Sem nunca ter se casado e sem filhos, Walpole faleceu em 2 de março de 1797, aos 79 anos, na mesma cidade onde nasceu. 




Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss 



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