Lua Cheia E A Mochila De Livros

- Olá Lua. Como vai? 
- Estou triste. 
- Por que está triste, Lua? 
- Por causa do Sol. Ele vive se escondendo de mim. 
- Querida Lua. O Sol não se esconde de você. Ele tem medo, pois tudo que toca se transforma em cinzas. Não consegue ouvir seus lamentos à noite? 
- Lamentos? 
- Sim. Quando os lobos das estepes uivam em sua direção, cara amiga Lua, é o Sol que chora desesperado por não poder estar com você. Sua sina é viverem juntos e separados, ao mesmo tempo. Um de dia e outro de noite. 



Mesmo sendo complacente e delicada, dá para entender porque a lua é tão melindrosa. De crescente a cheia, depois minguante e, por fim, nova. É a solidão que desperta essas mudanças que encantam e sutilmente influenciam nossas facetas. 

As lendas e as histórias mostram seu verdadeiro poder. Principalmente o poder da Lua Cheia. Sim. Ela é poderosa. E muito. Símbolo dos feitiços e rituais, a Lua Cheia nos vigia além dos céus. Onipresente. Soberana no mar escuro celestial. Elemento indispensável a todos os amantes, lunáticos, astrônomos, sonhadores e aventureiros que em suas naves de metal cortaram o espaço e nela pousaram. 

Solidária, a lua acompanha a Terra em seu passeio eterno pelo sol. 

- Não acredito nisso. Isso é uma grande mentira. 

É a Terra que faz companhia a lua que, solitária, divaga ao redor do sol na esperança de que um dia algo, bom ou não, aconteça e seus caminhos se cruzem permanentemente. Sol e Lua juntos finalmente. Mas, por enquanto ela só desperta as declarações de amor, sem nunca poder amar. Um coração, uma flor e ela mesma, a lua, se interligam e formam os companheiros inseparáveis dos enamorados. Porém, ela prossegue sozinha. Sempre sozinha. Presas uma a outra, Terra e Lua seguem seu ininterrupto caminho. 

- Quem me dera que ao invés da Terra fosse o Sol! – pensou a Lua. 

Mas a lua continua sem mostrar sua fraqueza. Ela provoca e comove. Pois ela pertence à noite e ao espaço. A noite é a escuridão que germina o medo e um quê de melancolia. O espaço é o desconhecido, o secreto que nos faz fantasiar. É a mais bela e a mais pura arte que surpreende e nos deixa em transe.



- Mas, amiga Lua, por que não vejo você por inteiro? 
- É claro que vê. 
- Não. Você não vira. Você não gira. Apenas um lado seu eu consigo vislumbrar. O lado claro. E o lado escuro? 
- Tudo bem. Mas, até do fundo de um poço é possível me ver acalentando sua alma e iluminando seus sonhos. 
- E eu nunca vou poder ver seu lado escuro? 
- Quem sabe? É só você vir até aqui. Vou ficar tão feliz. Não estarei mais sozinha. Terei sua companhia. Quanta alegria! 

Então é pra lá que eu vou! Quero viver no mundo da lua. Com minha mochila a tiracolo, seguro na cauda de um cometa. Desvio seu trajeto e vou de encontro a lua cheia. Salto de paraquedas, vou pulando e pulando, de um lado para outro até conseguir parar. 

- Enfim, cheguei na lua! No Mundo dos sonhos e aventuras. 
- Luaaaaaa!!! Cheguei!!! Oiiiii?!?!?!!!!! 



Caminhando eu vou pela estrada empoeirada até o limiar das luzes. Quase na divisa entre o claro e o escuro noto que não estou sozinha com minha lua cheia. O que é isso? Será que bati a cabeça na chegada? Falta de oxigênio? Minha imaginação pregando peças? Que pessoas tão pequenininhas são essas que do outro lado, do lado escuro emergem? Um bando de homenzinhos vive em seu mundo e que agora é meu mundo, também. O mundo da lua cheia. Minha amiga Lua não falou nada sobre eles. Ela não está tão sozinha assim. Há vida aqui!  

- Por que ela se calaria? Muito estranho. – sussurro. 

Sigo esses pequeninos. Tenho que tomar muito cuidado, pois esses seres são diminutos e posso feri-los ou matá-los sem perceber. A cada passo que dou, me escondo, me arrasto para que eles não me vejam. Não sei quem são e muito menos como vão me tratar se me descobrirem por aqui. Será que a Lua contou a eles sobre minha chegada? Acho que não. 

Atravesso a fronteira entre a luz e a escuridão. A luz diminui a cada passo. Termina mesmo. É o lado escuro da lua! Fico calma, apesar do desespero tomar conta de meu corpo, e fecho os olhos. Abro-os de novo. Tenho que me acostumar com a escuridão. É preciso. Difícil, mas necessário. Será que esses homenzinhos conhecem o lado escuro? Seus olhos parecem estar há muito tempo acostumados com essa situação. Continuo a minha “quase” perseguição implacável até uma cidade povoada por esses seres. Incrível. Opa! Perceberam minha presença. 

- Olá. Sou amiga da Lua. Ela falou sobre mim para vocês? 

Nada. Esses homenzinhos não falavam entre si; não falavam com ninguém. Trabalhavam calados, andavam calados e comiam calados. Será que se divertiam em silêncio, também? Só pode. Mas, que homenzinhos são esses? Por que trabalham tanto? O que eles fazem? 

- Querida amiga. Está perdida? 
- Ah, Lua. Não sabia que tinha mais alguém por aqui. Quem são eles? 
- É o povo que habita minhas terras e minhas entranhas. Eles vivem no lado escuro e por isso ninguém nunca os viu. Só você. 
- E o que fazem? 
- Tudo que fazem é se alimentarem das emoções e dos desejos de quem me idolatra. Eles se alimentam e eu me alimento, também. Não se preocupe com eles, querida. Você tem toda liberdade para andar por aqui. É minha protegida e nada de mal lhe acontecerá. Agora, esse é o seu lar para sempre. 

Seu lar para sempre. Meu lar. Não, acho que não. É nesse instante que compreendo que de perto a lua nada é além de um corpo celestial que não tem brilho próprio e precisa da luz alheia. Agora, sou uma prisioneira dos meus sonhos e estou perdida na lua cheia. Esta lua, branca e redonda, uma magnífica aquarela que paralisa meus sentidos, e que continua e sempre continuará me enfeitiçando. Fazer o que se para deliciosos devaneios ela está sempre me convidando. E para os momentos de silêncio imortal eu trouxe uma mochila cheia de livros. 



Me acompanhe e seja mais uma personagem nesta história. Seja mais uma Perdida Na Lua Cheia


Até a próxima! 




Beijos mil! :-) 
Criss 



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