Descobrindo “O Jardim Secreto”

Olá, Perdidos! Flores, árvores, pássaros, uma chave enterrada, um jardim escondido e um pisco de peito vermelho muito especial. É impossível não sentir o encantamento do livro O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnett, que, apesar de ter sido publicado em 1911, é atemporal e continua fazendo as pessoas rirem, às vezes, chorarem, mas, principalmente, sonharem. 





No início do século XX, Mary Lennox vive seus primeiros 10 anos na Índia. Embora seja tratada como uma princesa, seus pais não lhe dão a mínima atenção, muito menos afeto, deixando-a sob a responsabilidade de uma aia, transformando-a numa criança mimada e infeliz. 

Sua vida muda completamente quando uma epidemia mata seus pais e os empregados abandonam a casa. Órfã, a menina indesejada é enviada para morar com seu tio viúvo na Inglaterra, um lugar frio, com chuvas e neblina, totalmente diferente da ensolarada e calorenta Índia. 

Seu tio, Archibald Craven, é um homem triste que vive na Mansão Misselthwaite, nas charnecas de Yorkshire, uma construção sombria com mais de cem dormitórios que são mantidos trancados por ordem dele, tornando o acesso aos quartos extremamente proibido. 

A insuportável Mary, acostumada que as aias façam tudo para ela e cumpram todas as suas vontades, tem que aprender a se virar sozinha, pois na Mansão não há criadas especiais para ela, apenas Martha que é responsável por limpar o quarto, trazer as refeições e acender a lareira de seu quarto. 

Curiosa e sem nada o que fazer, Mary percorre os jardins que cercam a propriedade. Com suas explorações pelos jardins e conversando com Ben Weatherstaff, um velho jardineiro da mansão, ela descobre a existência de um jardim secreto, cercado por muros e trancado há dez anos com uma chave que foi enterrada não se sabe onde e, portanto, está perdida. 

Decidida a encontrar a chave e a entrada para o jardim secreto, Mary inicia sua busca para, assim, restaurar o jardim e trazê-lo de volta à vida e à sua plenitude. 




Sinceramente, eu não sabia o que esperar desse livro. Talvez um drama envolvendo crianças com aquelas situações cheias de chororô e blablabá. Aí, comecei a ler, percebi que não era nada disso e fui lendo e lendo até o fim. Fiquei presa à história com sua narrativa tão fluida que não conseguia largar. Simplesmente, adorei! 


Era quase como se ela tivesse sido catapultada do mundo para algum lugar encantado. 


Mary é uma criança amarga e mimada. Sua mudança de atitude ao entrar em contato com a natureza e o ar revigorante das charnecas é cristalina e explícita. Ao conhecer, Dickon, irmão mais novo de Martha, sua criada, isso se torna mais evidente. Ele é uma espécie de representação do deus Pã. Amante da natureza, Pã cuidava dos bosques, campos, rebanhos e pastores; sempre alegre e divertido costumava tocar suas canções para as ninfas e os animais da floresta. Assim como Dickon que com seu jeito gentil e a música de sua flauta rústica cuida tanto dos habitantes da charneca como de sua flora num contentamento sem igual, em total harmonia com o meio ambiente. 


Deus Pã ou Pan



À medida que tratam do jardim secreto, as crianças se tornam mais conectadas com tudo e todos à sua volta. O trabalho de jardinagem, plantando várias sementes, revolvendo a terra e, acima de tudo, identificando a mágica ao vislumbrar a vida pulsante crescendo no interior do jardim faz com que fiquem cada vez mais fortes formando uma espécie de relação simbiótica entre elas e o jardim

A positividade, a inocência e a mágica fazem as crianças trilharem por um caminho de mudanças. Aprendemos que não somos as únicas pessoas com problemas no mundo; que a vida é muito maior do que ficar confinado entre quatro paredes; que, tratado do modo certo, um jardim, mesmo que abandonado há uma década, pode reviver e exalar vida. Nada está perdido, é só querer e fazer acontecer


‘Claro que deve haver muita Mágica no mundo’, disse ele certa vez, cheio de sabedoria. ‘Só que as pessoas não sabem reconhecê-la nem praticá-la. Talvez o melhor jeito de começar seja dizendo que coisas boas vão acontecer até que elas de fato aconteçam’. 


É claro que em qualquer pomar sempre há algumas frutas caídas aos pés das árvores e no Jardim Secreto não ia ser diferente. O racismo dos personagens com os indianos é um ponto negativo. Em uma passagem do livro, Martha os chama de “negros” de forma depreciativa, afinal “lá tem negro demais e quase não tem pessoas branca respeitável” e compara Mary aos “nativos”, o que faz a menina se sentir insultada porque “eles não são gente – são apenas criados que fazem salamaleques para os outros”. Sem mencionar o fato de que os serviçais indianos da então Colônia Inglesa, submissos, eram submetidos a abusos e humilhações vez por outra por seus senhores, como Mary que “sempre esbofeteava sua aia quando estava com raiva”. É necessário notar que a autora era uma inglesa branca e abastada de uma época em que esse tratamento ainda era considerado normal. Não é uma desculpa, apenas uma observação. 


Pisco-de-peito-ruivo



Quando O Jardim Secreto foi publicado, a indústria estava a pleno vapor nas metrópoles, mas a autora volta às raízes e defende a manutenção do ambiente e da atmosfera limpa e sem poluição do campo. Frances pensou nisso numa época em que preservar o meio ambiente era ir na contramão do progresso. 

Não posso deixar passar o fato de que adorei a tradução do belo sotaque dos personagens menos favorecidos de Yorkshire como uma espécie de caipirês da região. Sensacional! Um maravilhoso trabalho dos tradutores. 


‘Tá fagueira que nem você e eu’, respondeu o garoto; e Mary lembrou que Martha tinha dito que ‘fagueiro’ significava ‘vivo’ ou ‘animado’. 


O clássico da literatura infantil inglesa teve várias adaptações para o teatro, a televisão e o cinema com diversas interpretações para essa mesma história. Abaixo, os trailers dos filmes de 1993 (mais fiel ao livro), 2017 e 2020. 


 


 


 



Que livro é esse? É encantador e me trouxe muita paz, alegria e deixou a minha alma aquecida. Não há aquelas discussões pesadas e filosóficas sobre situações críticas e alarmantes. Nada disso. A autora conseguiu transportar a mágica para seu livro e contagiar seus leitores. 

É uma história sobre transformação e amizade. Não sai de moda e deve ser lida para resgatar a inocência de um período em que os contratempos eram resolvidos com a mais pura magia do bem




FICHA TÉCNICA 

Título: O Jardim Secreto      
Título Original: The Secret Garden  
Autor: Frances Hodgson Burnett    
Apresentação: Rodrigo Lacerda
Arte da Capa: Rafael Nobre  
Ano: 2020 
Páginas: 352  
Editora: Zahar
Gênero: Clássico Infanto-Juvenil   
Tradutores: Liliana Negrello e Christian Schwartz   
  


AUTOR  



Frances Eliza Hodgson ou, como ficou conhecida, Frances Hodgson Burnett nasceu em 24 de novembro de 1849 em Manchester, Inglaterra. 

Após a morte do pai, a família, em situação difícil, mudou-se para os Estados Unidos, estabelecendo-se no Tennessee, em 1865. 

Frances começou a escrever muito cedo para ajudar a sustentar a família e aos 17 anos sua vida começou a mudar quando conseguiu vender um conto seu para uma revista. A partir daí ela escreveu para muitas revistas, sendo devidamente remunerada por isso.   

Em 1873, Frances casou-se com seu primeiro marido, Dr. Swann M. Burnett, com quem teve dois filhos e de quem manteve o sobrenome por razões comerciais após o divórcio, em 1898. Em 1900 casou-se com o Dr. Stephen Townsend, mas dois anos depois o casamento acabou. 

Frances decidiu escrever romances e em 1886 lançou seu primeiro romance, O Pequeno Lorde, um livro infantil. 

Apesar de diversos livros adultos, como Louisiana (1880), A Fair Barbarian (1881) e Through One Administration (1883), foi através da literatura infantil que Frances ficou mais conhecida. 

O Pequeno Lorde (1886), A Princesinha (1905) e O Jardim Secreto (1911) foram seus livros mais vendidos. Sendo O Jardim Secreto o livro que, realmente, a tornou célebre e a popularizou como autora de livros para crianças. 

Seus romances foram adaptados para inúmeros filmes e animações e continuam a ser lidos por adultos, jovens e crianças.

Vivendo entre Inglaterra e Estados Unidos, foi em Nova York, em sua mansão onde passou os últimos 17 anos, que em 29 de outubro de 1924, aos 74 anos, faleceu. 




Até a próxima! 
Beijos mil! :-) 

Criss 



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