Siga A Trilha Para As “Cidades De Papel”

Perdidas e Perdidos. Para começo de conversa, deixo aqui nestas mal traçadas linhas que nunca tinha lido nada de John Green. Pronto! Falei. Podem me matar por ainda não conhecer Alasca ou Katherine ou Hazel. Por enquanto, só conheço Margo de Cidades de Papel, de John Green, é claro. 




Em Cidades de Papel, somos apresentados a Quentin Jacobsen, mais conhecido como Q. por seus melhores amigos Ben e Radar. Q. é um rapaz de 18 anos, centrado, bem-humorado e inteligente que está prestes a se formar no Ensino Médio. Ele é tipo um nerd e desde criança é apaixonado por Margo Roth Spiegelman, a gostosa, descolada e popular do colégio e, por coincidência, sua vizinha do outro lado da rua, bem de frente. 

Uma noite, Margo aparece em sua janela, sorrateira e ágil, com o rosto pintado de preto e o recruta para uma mirabolante noite de vinganças contra todos os seus desafetos. Apesar de relutante, Q. concorda. Afinal, tinha sido um pedido, quase uma ordem, de Margo e ele não podia dizer não. E venhamos e convenhamos, ela é supercriativa em seus trotes. É impossível não se divertir com eles. 

'vou sentir falta de me divertir com você'. Ela sabia que estava indo para algum lugar, em mais uma de suas folgas curtas do mundo de papel de Orlando. 

E no dia seguinte à noite de zombarias, Margo desaparece sem deixar vestígios. Tudo bem! Margo sumiu? Sem problema! Ela volta e meia some mesmo, então... não há com que se preocupar, e já estão todos acostumados com isso. Os seus pais já não se importam mais com suas fugas, que para eles é apenas sua necessidade de chamar atenção, ainda mais agora sendo ela maior de idade; até acham um alívio isso ter acontecido. 

Porém, Q. não aceita o sumiço da moçoila e resolve seguir todo tipo de pistas e charadas (ou seriam instruções?) que, segundo ele, foram deixadas especificamente para que ele as encontrasse e as decifrasse. Às portas da formatura, Quentin, junto com seus amigos Radar e Ben, sai à procura do seu milagre chamado Margo. Sua meta é encontrá-la viva e ajudá-la. E é isso que ele vai fazer! A aventura começa. 

– Quanto mais eu trabalho, mais percebo que os seres humanos carecem de bons espelhos. É muito difícil para qualquer um mostrar a nós como somos de fato, e é muito difícil para nós mostrarmos aos outros como sentimos. 

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A visão bem-humorada dos acontecimentos, as tiradas, os lamentos, os nicks do chat e as brincadeiras dão um toque todo especial ao desenvolvimento da leitura. Confesso que em várias partes morri de rir, sem mencionar o fato de que Ben é hilário!  Os personagens principais e secundários são ótimos. 

Margo Roth Spiegelman é um personagem que, às vezes, eu tinha vontade de xingar, principalmente por suas pistas que não levavam a lugar nenhum. Imprevisível e totalmente desconectada de sua família, com amizades falsas e seu namorado traidor, ela quer mais do que essa vida que lhe é oferecida.  Ela quer outra coisa. Ela não quer ser encontrada, talvez ela só não queira ser esquecida, porém seus maiores desejos vão além da cidade de papel (tem que ler para entender)! 

Porque é o máximo ser uma ideia que agrada a todos. Mas eu nunca poderia ser aquela ideia para mim, não totalmente. 

Quentin Jacobsen é o carinha sangue bom: bom amigo, bom filho, bom aluno. Pronto para o que der e vier, principalmente se for por seu grande amor. E sua obsessão por resgatar Margo, talvez dela mesma, faz dele o cavaleiro de armadura reluzente

Quentin narra suas descobertas sobre o paradeiro de Margo e à medida que ele vai desvendando esse mistério, Q. também começa a desvendar o maior mistério de todos: a própria Margo. Ao seguir as pistas deixadas para trás, ele descobre, com tristeza, que sempre tinha olhado para a janela do quarto de seu amor platônico sem nunca ter visto a verdadeira Margo, apenas uma projeção de seus desejos e ideais, assim como todos. Quentin se arrepende de tê-la colocado em um pedestal, como uma deusa a ser adorada e totalmente intocável – “eu não conhecia Margo”. 

Eu precisava descobrir como Margo era quando não estava sendo Margo. 




Tudo bem que se trata de um livro para adolescentes, protagonizado por adolescentes, mas, ao lermos o livro, independentemente da idade, fazemos as mesmas perguntas de Quentin: até que ponto conhecemos realmente uma pessoa? O quanto uma pessoa oculta de sua verdadeira personalidade ou inventa a fim de ser aceita pelos demais? Vemos o que elas são ou apenas o que queremos que elas sejam? Vemos através da janela ou através do espelho? 

A vida é uma peça de teatro. Seja no trabalho, na escola, na faculdade, no relacionamento amoroso, no clube, no grupo de amigos, na rede social ou em qualquer outro lugar, as pessoas criam personagens. Mas o quanto delas mesmas de fato é mostrado nesses personagens e o quanto delas os outros querem ver ou conhecer? Se couber na panelinha, quem se importa, não é mesmo? Bem, eu me importo. 

Margo não era um milagre. Não era uma aventura. Nem uma coisa sofisticada e preciosa. Ela era uma garota. 

O importante da viagem é o caminho e não o destino. Nessa busca implacável e obsessiva por Margo, Quentin faz coisas que nunca imaginou que pudesse fazer (como matar aula ou dirigir em alta velocidade) e nessa viagem ele se redescobre como pessoa e passa a ver o mundo e as pessoas com outros olhos. Entender a si mesmo para poder entender os demais, esse é o aprendizado adquirido nesta aventura. Muitas vezes criamos expectativas nas pessoas e, muitas dessas vezes, a decepção é inevitável.  É através dessa investigação ferrenha que tem início sua jornada de autoconhecimento. Mais do que isso, uma jornada de fortalecimento das amizades e da cumplicidade entre Quentin, Ben e Radar, bem como Lacey, amiga de Margo. Seria esse o milagre deles? Acho que sim. 

A história é muito bem escrita, de forma casual, leve, bem gostosa e flui como um rio desimpedido em direção ao mar. Parece que estamos conversando com os personagens e nos divertindo com eles e solucionando as pistas junto com eles. Muito mais do que uma busca alucinante através dos enigmas deixados por Margo, trata-se, também, de uma história de adolescentes se descobrindo, cada qual de acordo com suas próprias experiências de socialização. 

Várias referências culturais, musicais e literárias fazem parte do enredo. Gostei muito da inclusão do poema “Canção De Mim Mesmo”, do livro Folhas de Relva de Walt Whitman com algumas frases realçadas pela desaparecida e das várias interpretações de Q. tentando decifrar a sua agora enigmática Margo. Garanto que muita gente vai sair correndo para comprar o livro de Whitman. Eu também... Sai da frente!!! Hahahahahahaha!  

Me entrego à terra pra crescer da relva que amo,  /  Se me quiser de novo me procure sob a sola de suas botas. 
Vai ser difícil você saber quem sou ou o que estou querendo dizer,  / Mas mesmo assim vou dar saúde,  Vou filtrar e dar fibra a seu sangue. 
Não me cruzando na primeira, não desista,  / Não me vendo num lugar, procure em outro,  / Em algum lugar eu paro e espero você.  –  (Canção De Mim Mesmo, de Walt Whitman

Green mantém o suspense até o final e encaixa tudo perfeitamente em seus devidos lugares. E o mais importante, nos faz pensar. É um livro cheio de aventura, mas acima de tudo é um livro sobre pessoas e que nos faz refletir, quem sabe, para passarmos a olhar os demais e a nós mesmos com mais atenção. Para que não nos percamos numa miragem

Como disse lá no início, não conhecia John Green e só tenho uma coisa a lhe dizer: Muitíssimo prazer!!! Sem dúvida, recomendo Cidades de Papel

Você vai para as Cidades de Papel e nunca mais voltará. 



FICHA TÉCNICA 

Título: Cidades de Papel    
Título Original: Paper Towns    
Autor: John Green   
Ano: 2013 
Páginas: 368  
Editora: Intrínseca
Gênero: Ficção 
Tradutor: Juliana Romeiro   


AUTOR  

John Michael Green ou, simplesmente, John Green nasceu em 24 de agosto de 1977 em Indianápolis, Indiana, nos EUA. 

É um autor americano festejado pelos críticos e querido pelo público jovem, para quem escreve exclusivamente. Tanto que em 2014 foi listado como uma das “100 Pessoas Mais Influentes Do Mundo”. E seus livros já venderam mais de 50 milhões de cópias pelo mundo afora. 

Seu primeiro romance foi Quem É Você, Alasca?, lançado em 2005 e desde então não parou mais.  Por seus trabalhos, ele foi agraciado com vários prêmios como Printz Medal, Printz Honor of American Library Association, além do Edgar Award

O escritor de best-sellers como A Culpa é das Estrelas, O Teorema de Katherine, Tartarugas até lá Embaixo, Quem é você, Alasca?, Cidades de Papel e Will & Will vive com a mulher Sarah e seus dois filhos em Indianápolis, Indiana, nos Estados Unidos. 

Green tem transtorno obsessivo-compulsivo, ou seja, TOC e já discutiu abertamente no YouTube sobre sua doença, onde ele possui o canal vlogbrothers junto com seu irmão Hank Green. Os seguidores do canal e admiradores dos irmãos Green são chamados de Nerdfighters e seu lema é “Don’t forget to be awesome”, ou seja, “Não esqueça de ser incrível”, em português.  

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Para mais explicações sobre Cidades de Papel, assista ao vídeo onde o próprio John Green fala sobre o livro: 



O livro já virou filme, veja o trailer oficial: 



Até a próxima! 

Beijos mil! :-) 
Criss 


2 comentários :

  1. Nunca li nenhum livro de John green por não ser meu estilo literário, sempre fico pensando que terá muito romance e eu não vou gostar kkk não que eu não goste de romance em uma história, eu só não gosto que ela seja o foco principal. Adorei seu blog <3

    PS: Sua resenha me deixou curiosa a respeito do livro.

    Beijos

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    Respostas
    1. Oi Nerd.
      Que bom que despertei sua curiosidade a respeito de Cidades de Papel.
      A história na verdade não tem romance, a não ser o rapaz que tem um crush pela sua enigmática vizinha e colega de escola. É um livro legal, com questões interessantes.
      Eu não me importo de ler vários estilos e autores, pois sempre me surpreendo. De maneira positiva ou não. A minha preferência é ficção e fantasia.
      Adorei sua visita!!! :-)

      Beijos mil! :-)

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