“O Pacto” Amaldiçoado

Perdidas e Perdidos, Olá! Ignatius Martin Perrish, conhecido como Ig, é um homem marcado pela tragédia. Merrin Williams, o grande amor de sua vida, é encontrada morta e com indícios de estupro e ele se torna o principal suspeito. E embora as evidências não confirmem sua culpa e nem o inocentem, todos na cidade já deram seu veredito e o consideram um monstro. Esse é o ponto de partida para O Pacto, de Joe Hill. 



E pode até mesmo ser que todos tenham razão. Ele tinha se tornado um verdadeiro monstro. Um demônio. Afinal, agora ele tinha um belo par de chifres com extremidades pontiagudas e de um vermelho intenso adornando sua testa e que surgiram do nada, durante a noite, após uma fenomenal bebedeira, um ano depois do assassinato de Merrin. 

− Sem Merrin na minha vida... eu era isso.  
Castigo por blasfemar? Um tumor? Alucinação? Maluquice? Só podia ser uma dessas opções ou de tudo um pouco. Mas, não! Ig descobre que ninguém nota ou sente repulsa ou medo por causa de seus chifres. E logo ele percebe que seus chifres vão além de um apêndice no alto da cachola. Eles têm o incrível poder de fazer as pessoas contarem suas verdades, além de seus segredos e desejos mais bizarros e perversos. Aqueles guardados a sete chaves, inclusive de si mesmo! Sem mencionar o fato de que ao tocar em uma pessoa, seus dados completos se estendem bem na sua frente, como uma ficha corrida da polícia que se abre na tela de um computador. E outros “poderitos” mais. 

Agora vejo Deus como um escritor de livros populares sem imaginação, alguém que constrói histórias de enredos sádicos e sem graça, narrativas que só existem para expressar Seu horror pelo poder que as mulheres têm de escolher a quem amar e como, de redefinir o amor como acham melhor, não como Deus acha que deve ser. O autor não merece seus próprios personagens. O Diabo é acima de tudo um crítico literário, que atira esse impostor sem talento à retaliação pública que Ele merece.  

Ele vive um inferno pessoal, onde todos o culpam e o odeiam. Inúmeras revelações íntimas e até grandes decepções esperam por Ig e seus recém-adquiridos chifres. Ninguém escapa, nem mesmo sua família que acredita que ele seja realmente o responsável pelo homicídio de Merrin. Todos têm algo sinistro a esconder sobre si e, principalmente, de Ig. Sem poder provar sua inocência, vive a vida apenas um dia após o outro, sem expectativas. Ig é um homem cuja alma foi formada com decepções e sofrimento e todas essas descobertas desmantelam seu delicado equilíbrio emocional.  

E é assim, aos trancos e barrancos, totalmente por acaso, ouvindo aqui e tocando ali, que Ig descobre o verdadeiro assassino de sua amada Merrin e parte para a vingança. Por que não? Agora ele era o próprio Diabo ou quase isso. Saravá! 

Se agora ele era um demônio, será que ainda podia falar de Deus? ... Arderia em chamas?  

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A narrativa gira em torno de Ig, um rapaz de bom coração e amável, e seus familiares e amigos, desde o dia em que conhece Merrin até um ano depois de seu assassinato. Volta e meia somos levados ao passado e conhecemos um pouco mais a relação de Ig com todos eles: Terry, seu irmão; velhos e novos amigos, como Glenna e Lee; os dias com Merrin. Esses flashbacks mostram que os acontecimentos do passado ainda são muito presentes na vida das pessoas. Todos os personagens são bem construídos e realistas e a narrativa é sem muitos rodeios ou floreios, fluindo sem problemas. 

A história inusitada e bizarra de O Pacto, segundo romance de Joe Hill, nos faz pensar se a natureza humana é tão vil e pervertida como Ig acaba descobrindo. Será que o “coisa ruim” anda solto mesmo ou nós é que nos escondemos atrás dessa desculpa para cometer atos tão torpes? O fato é que somos tão bons quanto podemos ser tão maus, e é essa dualidade que nos é apresentada no livro.  A eterna luta contra o demônio que habita em cada um de nós. Será que vale a pena resistir ou o melhor a fazer é entregar definitivamente a toalha? Dá medo, né? 




Só o Diabo ama os homens pelo que eles são e se regozija com os esquemas ardilosos que armam contra eles mesmos, com sua curiosidade despudorada, sua falta de autocontrole, com impulso de quebrar uma regra assim que ouvem falar dela, com sua determinação de renunciar à alma imortal por uma trepada.   

E o que aconteceria se todos nós sempre falássemos a verdade? O que realmente pensariam de nós? Quem permaneceria digno de confiança? Quem seria amigo de verdade? Quem é quem quando a verdade surge, nua e crua? Joe Hill cutuca fundo nessas feridas. 

Amor e ódio. Felicidade e tragédia. Traição e vingança. Ciúmes e inveja. Tormentos particulares e confissões espontâneas. Homem e demônio! Onde o sobrenatural, o terror aparece apenas como pano de fundo para o desenrolar desse drama para lá de soturno, cheio de abusos, violência e hipocrisia. O tema central são as relações humanas tão vulneráveis que põem à prova a nossa índole. É uma história onde o Diabo com seus chifres e poderes extraordinários vai em busca de vingança pela morte de Merrin. É isso mesmo. É uma história onde o mocinho justiceiro é o mítico vilão bíblico, o vilão dos vilões e nós percebemos no decorrer da leitura que torcemos por ele e muito. Joe Hill inverte os papéis do bom e do mau. E retorce. É o mal que busca fazer o bem de maneira brutal. Afinal, como já disse antes, somos capazes de praticar tanto o bem quanto o mal. E essa é toda a questão, não é mesmo? 

Agora que havia se acostumado, preferia ser um demônio. A cruz era um símbolo da mais típica condição humana: o sofrimento. E Ig estava cansado de sofrer.  

Sorry, mas este não é um livro para pessoas mais sensíveis e tampouco para aquelas mais “tradicionais” ou puritanas. Joe Hill não decepcionou em seu segundo livro. E embalados por várias citações musicais, pois o pai e o irmão de Ig são músicos, somos conduzidos por uma história densa e cheia de surpresas, com direito até ao “Evangelho Segundo Mick e Keith” (da banda de rock Rolling Stones) e com um final tão curioso quanto o surgimento dos chifres em Ig. Vale a pena ler o livro? E ouvir a playlist do livro? Claro que vale! Os dois! 

Quando as pessoas que você ama lhe viram as costas e sua vida se torna um inferno, ser o diabo não é tão mal assim.  

Até Harry Potter é mencionado no livro. Palpite para o Ig da telona? 


Seu rosto era emoldurado por um par de asas de cabelos pretos lisos que se curvavam na altura do queixo pontudo, fazendo com que parecesse a versão feminina do professor que estava sempre pegando no pé de Harry Potter nos filmes. Professor Snail ou qualquer coisa assim. Ig tinha esperado ler os livros da série com os filhos que ele e Merrin teriam juntos. 

Coincidência? O Pacto foi adaptado para o cinema e, por essas bandas, acabou mudando de nome e passou a se chamar Amaldiçoado. No filme, o tal amaldiçoado com um par de chifres é Daniel Radcliffe, nosso eterno bruxinho Harry Potter. Eu até que gostei do filme, mas o livro é muito melhor e bem mais impactante. 


FICHA TÉCNICA 

Título: O Pacto   
Título Original: Horns   
Autor: Joe Hill 
Ano: 2010 
Páginas: 320 
Editora: Sextante
Gênero: Terror e Suspense  
Tradutores: Bárbara Heliodora e Helen Potter Pessoa   



AUTOR  





Joseph Hillstrom King ou Joe Hill, como é mais conhecido, é um escritor americano de livros de ficção e terror, nascido em Hermon, Maine, no dia 3 de junho de 1972.  Filho do renomado escritor Stephen King, Joe Hill já ganhou diversos prêmios por seus contos e livros, incluindo três Bram Stoker Award o qual é considerado o mais importante prêmio da literatura no quesito terror; um International Horror Guild Award ou IHG Award (horror), um Eisner Award (HQs) e, recentemente, um Locus Award (fantasia e ficção científica). 

Joe Hill é autor de A Estrada da Noite, NOS4A2 (ou Nosferatu), O Pacto e Mestre das Chamas, além da coletânea de contos Fantasmas do Século XX e no Brasil todos os títulos já foram publicados.  

Como curiosidade, seu nome foi escolhido para homenagear o anarquista sueco Joe Hill (1879 – 1915).  


  • Assista ao trailer do filme Amaldiçoado, com Daniel Radcliffe. 




Até a próxima! 

Beijos mil! :-) 
Criss 


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